M a r a t o n a
Bazilho
Não consigo acreditar em outra pessoa a não ser Dagmar. Vai além de amor, é confiança.
Eu desliguei a ligação e fiquei encarando o chão.
Eu suspirei fundo e liguei de novo video chamada.
•Video chamada•
Eu: Como tu chama mesmo?
Aquela amiga da Dagmar tinha atendido.
Thamara: Thamara. Eu vou chamar ela, ela tá no banheiro.
Eu: Não, não chama. Bagulho é o seguinte, eu to colando ai. Vou arrumar meus bagulhos e to indo pra ai. Não quero tu falando isso pra ela, só precisava ter avisar.
Thamara: Ok.
Ela começou a pular. Menina maluca.
Eu: Me passa teu contato por que se a gente ficar falando pelo radinho dela, ela vai descolar a idéia.
A mina passou e eu anotei.
Eu desliguei e fui atrás do Thales que comia banana.
— O b.o é que tu vai ter que ficar na tua vó, eu vou ter que resolver uns bagulhos, mas eu volto cara. - Falei.
Peguei ele no colo e fui pro quarto arrumando as coisas dele. Arrumei as minhas coisas e fui saindo de casa indo pra casa da Ellen. Cheguei lá e eles tavam tudo jantando.
Ellen e Orelha jantavam tarde, até por que Orelha chegava tarde.
— Tu fica com ele? Eu vou na Dagmar! - Falei puxando Ellen pra longe do Orelha.
— O que aconteceu com ela? - Ellen perguntou pegando Thales no colo.
— Nada, ela só tá precisando de mim. Os bagulhos do Thales tá aqui, e se precisar de algum bagulho a chave da minha goma tá na bolsa dele. Tem dinheiro lá também. - Falei.
— Tu jura que não aconteceu nada? - Ellen perguntou.
— Te juro sogra. - Falei beijando a testa dela e do Thales.
Eu sai guiando até a boca dando de cara com Marcola.
— E ai meu filhote! - Marcola disse soltando a fumaça do baseado.
— E ai, vou precisar de uma força ai! - Falei.
— Qual é do papo? Tem que matar quem? - Ele perguntou e eu neguei.
— Preciso vazar pro exterior. - Falei.
Resumi o que tinha acontecido e Marcola ouvia as sentindo com a cabeça.
— Vai de jatinho! - Marcola disse levantando. - Só vai cara, eu aqui vou atrás de um espaço pro jatinho ficar. - Marcola disse.
— Valeu Marcola! - Falei estendendo a mão.
— Contigo é no abraço mesmo, sei que tu eu posso tá abraçando! - Marcola disse.
O bagulho dele era olho no olho.
— Valeu mesmo! - Falei.
— Bagulho é o seguinte, Curió te leva até aonde o jatinho tá e os caras já vai estar lá esperando tu fechô? Mas aê, cuidado caralho! - Marcola disse e eu assenti. Eu fui me afastando e... - E outro bagulho, eu aceito ser padrinho do casório! - Ele disse rindo e eu fiz um jóia com a mão.
Fui descendo até a boca que o Curió ficava, ele tava lá empacotando.
Expliquei pra ele e ele concordou na hora indo me levar.
******
Fazia horas que eu tava dentro daquele jatinho, Marcola tinha até mandado um sms falando que tava tudo certo já, que ele tinha achado um local lá.
Eu tava cansadão. A gente já tinha feito uma parada sei lá aonde, só faltava duas horas.
Eu capotei ali mesmo, só acordei com um cara do meu lado me cutucando.
Sai de lá e a primeira coisa que fiz foi ligar o dados já recebendo mensagem daquela Thaynara.
Ela mandou a localização e eu fui ver que não era tão longe dali.
Como vou pedir táxi nessa porra, nem dinheiro troquei!
Fui caminhando até o hotel. Quinze minutos andando, eu tava morto de frio pra começo de conversa.
Quando cheguei lá na frente a a mulher lá já me esperava.
— E ai Thaynara! - Falei dando a mão.
— Thaynara? Tu é surdo, é Thamara! - Ela disse negando.
Eu dei de ombros.
— Como consigo trocar a grana aqui? - Perguntei.
— Não troca, eles convertem no dinheiro deles depois! - Ela disse e eu assenti.
Fomos entrando. Negadinha me olhando de cima a baixo.
— To com cara de bandido por acaso? - Perguntei indo até a recepção.
— Mesmo coberto tu ainda tá! - Thamara disse.
Pedi um quarto e a recepcionista ficou toda com cara de bunda.
— Ela tá te achando pobre acho! - Thamara disse baixo rindo.
— Ih, qual foi mina? Me dá o quarto! - Falei.
— Vai pagar? - Ela perguntou.
Eu encarei Thamara.
— Aqui é um hotel internacional, obrigação deles saberem outras línguas! - Thamara disse.
— Vou pagar a vista todos os dias que eu for ficar! - Falei e ela arregalou os olhos.
Terminei o cadastro, peguei a chave e subi com a Thamara, eu era do mesmo andar que elas.
— Eu acho melhor tu aparecer só na hora que a gente tiver lá já! - Thamara disse.
— Tu acha melhor? - Perguntei.
— Acho né, é mais emoção! - Ela disse e eu assenti indo pra um lado e ela pra outro.
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.