Dagmar
Dia seguinte...
Primeiro dia de aula a gente vai parecendo uma top model né mores.
Vesti minha calça jeans, uma camiseta que mostrava a barriga e um tênis preto.
Fiz uma fitagem babadeiro no meu muco e terminei de me arrumar passando um gloss que tava formigando minha boca.
Já achei que tava dando um infarto.
Peguei a minha bolsa e guiando com a Cecília pra fora de casa. A gente ia ir de busão. Pense, negada carioca perdida em Sampa.
Se tivesse um tiroteio, e um cego tivesse aqui, capaz dele fugir e a gente não.
Chegamos lá, Cecília foi pra um canto e eu fui pra outro. Guiei pro bloco que era a parte de moda, e fui entrando na sala que era a minha. Tinha algumas pessoas já. Todas me olharam.
Me fiz a da Cátia!
Sentei no fundo e fiquei ali recebendo olhares de algumas meninas.
- Gente zoiuda né? - Ouvi uma voz do meu lado.
Encarei e vi uma nega toda loirona.
Loira odonto é?!
- Pois tu viu o abusamento. - Falei negando com a cabeça.
- Comigo foi a mesma coisa, ficaram olhando, deve ser foda me odiar e não poder falar que sou feia né more?! - A menina disse em bom tom.
Oia que afrotosa, eu já amei!
- Ih mona qual é teu nome? - Perguntei.
- Thamara e o seu? - Thamara perguntou.
- Dagmar! - Falei e ela me encarou toda e eu sorri. - Eu sou trans! - Falei.
- Nem parece! - Thamara disse.
E logo menos, ai mesmo que não vai parecer. Vou fazer a mudança de sexo, e depois meu peito.
E se bobear até uma rino né amigas, por que os famosos tão fazendo, acho que é liquidação de rino.
*****
Passei a aula toda perto da Thamara, menina só ri.
Maconha certeza.
Um prof passou anotações pra gente, como seria, como é o curso... Eu já tava com sono no primeiro dia.
O que eu to fazendo aqui? Queria ta deitada comendo um açaí.
Quando deu horário do intervalo, guiei com a Thamara pro refeitório. Fui direto pra cantina, comprei um salgado e um refrigerante e me sentei nuns bancos.
- Pirua! - Ouvi a voz da Cecília.
Olhei ao redor e vi ela vindo.
- E ai amiga, o que tu achou do teu curso? - Perguntei.
Ela me deu um beijo no rosto e se sentou do meu lado.
- Nada, só foi pra explicar como ia ser! - Cecília disse.
- Essa daqui é a Thamara. - Falei encarando Cecília. - E essa é a Cecília, vulgo piranha! - Falei olhando a Thamara.
Thamara sorriu e Cecília acenou pra ela.
Thamara levantou e saiu indo pro banheiro. Eu terminei de comer e Cecília pegou na minha mão.
- Tem um boy babadeiro na minha sala, mas já tem gente em cima. - Cecília disse suspirando.
- E daí? Joga charme caramba, depois da um chá de buceta! - Falei.
- No teu caso é chá de cu? - Cecília perguntou e eu bati no ombro dela.
****
A gente saiu de lá, a carga horário do curso da Cecília era mais longa. Eu fui pro apartamento, e a primeira coisa que fui fazer foi tomar banho e depois direto pedir algo pra comer. Eu me joguei no sofá e comecei a procurar sobre cirurgia pelo sus.
2 meses de recuperação.
Só de ler alguns depoimentos, já me senti que tinha uma xota no meio das pernas.
- Logo menos eu vou fazer! - Falei.
Comecei a ver algum posto que tinha ali por perto e era um há quinze minutos. Só esperei minha comida chegar, comi e fui direto pro posto com meus documentos. Tive que marcar uma consulta com um cirurgião plástico, marquei pra três meses, por que era a data mais próxima.
Voltei pra casa com a cabeça feita. Eu faria primeiro a troca de sexo, e depois de um bom tempo eu colocaria silicone. Eu já tava com isso na cabeça, nem que se fosse pra mim pedir dinheiro pro meu pai, mas eu daria um jeito.
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.