Cecília
Acordei com um barulho, avistei Tsunami enxugando o cabelo.
— Bom dia! - Sussurrei baixo.
Ele se virou e sorriu sem mostrar os dentes.
— Nois precisa vazar daqui! - Tsunami disse.
Eu me sentei na cama e arqueei a sobrancelha.
— Mas por que? - Perguntei.
— Sasi mandou o papo pra vazar daqui! - Ele disse.
Eu sai da cama e fui direto pra frente do espelho, eu estava com a maquiagem toda borrada, cabelo pro alto e só de calcinha e sutiã. Eu fiz um coque rapidamente e fui até aonde tinha algumas roupas do Tsunami, peguei uma blusona e me vesti.
— O banheiro é a do lado, vai lá e bora! - Ele disse e eu assenti.
Fui pro banheiro, fiz xixi e lavei o rosto. Logo ele bateu na porta.
Bafão de leão.
Eu sai e ele já pegou na minha mão e foi me puxando pra fora. A gente caminhou rápido até a moto, ele subiu e eu fui caminhando até o portãozão. Fui andando rápido e abri ele, Tsunami veio com tudo e parou bem na estrada de terra, eu Fechei aquele portão e de longe avistamos a avó do Tsunami, ela acenou pra gente e acenamos de volta pra ela. Eu montei na moto e agarrei nele.
Tsunami parecia que voava, ele entrava e saia de ruas, uma hora até achei a gente já nem tava mais no Rio.
Quando paramos em um lugar bem afastado de tudo, sentamos em baixo de uma árvore. Apenas o que tinha ali perto era uma pequena vila.
— Tu teria coragem de vazar pra fora do Rio comigo? - Tsunami perguntou.
Eu não sabia o que responder.
— Não sei, fiquei muito tempo longe da minha família, foi difícil! - Falei.
Ele assentiu e ficou calado.
Eu Fechei os olhos sentindo aquele vento bater em mim.
Será que não era mais fácil falar com meu pai? Será que ele aceitaria o Tsunami?
— Viver na pista é foda, eu tenho passagem! - Tsunami disse quebrando o silêncio.
— De que? - perguntei.
— Homicídio! - Ele disse.
Eu encarei ele e ele me olhou.
— Eu me arrependo! - Ele disse e eu abaixei a cabeça.
Ele só chegou perto de mim e ne abraçou de canto.
— E se a gente voltar? - Perguntei. - Meu pai tem que te aceitar, quem tem gostar de você sou eu e não ele. Eu já sou de maior! - Falei séria.
— Tu é de maior, mas o papo é que teu pai não é qualquer malandro ai que nois bate de frente e ele cai. Teu pai bate o pé e ninguém tem coragem de dar um passo! - Tsunami disse.
Eu bufei e ele pegou na minha mão.
*****
Dagmar
Tive que ir pra boca junto, como se eu tivesse a obrigação de falar alguma coisa.
— Você não acha que ela deveria ser feliz? - Perguntei.
Marcola até se engasgou com a fumaça do baseado.
— Acho que ela deveria ter mandado o papo. Ninguém colocou arma na cabeça dela, era só ter vindo na humildade e mandado o papo pra mim. Agora meter o pé? Parece bagulho de adolescente emocionado! - Marcola disse de cara fechada.
Saudades da minha época emocionada.
— Não vou poder ajudar com nada, se tu ficou surpreso, imagina eu que sou melhor amiga dela e nem tava sabendo disso! - Falei e me virando saindo.
Eu que não uma ficar ali no meio de tanto cheiro de maconha.
Sai avistando Tatão vindo lentamente.
Diabo me persegue viu.
Eu fui passar por ele e ele me puxou.
— Tem como soltar porra? - Falei me puxando mas ele apertou mais forte meu braço.
— Não me deu mais bola, não me deu nem oportunidade de experimentar a nova buceta! - Tatão disse.
Fiz a cara de nojo e tentei puxar de novo.
— Bora comigo! - Ele sussurrou.
Eu empurrei ele com tudo e ele bateu as costas na parede.
— Tu tira as mãos imundas de mim. - Falei.
— O cu já era gostoso, bora ver a parte da frente. - Ele disse vindo na minha direção.
Eu mostrei o dedo do meio.
— Vai ver o tiro que vou dar no teu cu! - Ouvi uma voz saindo do beco. Eu olhei e era Bazilho. - Só quem faz morada ai sou eu, tu devia ter postura de homem caralho! - Ele disse peitando Tatão.
Tatão fechou a mão e Bazilho destravou a pistola colocando na cabeça de Tatão.
— Se tu intimida ela de novo, te tiro aos poucos o que tu mais ama! - Bazilho disse baixinho.
• aperta na estrelinha •
Não cancele sua oportunidade de ser feliz! 🦋
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Libertinagem
Fiksi RemajaEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.