Dagmar
Alguns meses depois...
Eu tinha ficado bem mais tarde no trabalho, eu estava morta, aquela semana tinha sido a semana que mais tinha me quebrado.
Mas tudo deu certo, a gente estava participando de uma campanha contra a homofobia, estavamos fazendo roupas para todos os tipos de lbgtq+. E isso eu estava adorando.
Eu tinha ficado até as onze da noite, eu pingava de sono, mas quando sai da empresa, Bazilho me esperava. Caminhei rápido e entrei no carro.
Ele não podia bobear.
— To morta! - Falei tirando minha sapatilha e encostando a cabeça na janela.
— Imagino gata! - Bazilho murmurou.
Eu fechei meus olhos e comecei a prestar atenção na letra.
“ Eu passo por ela e não dá pra aguentar
O coração bate forte, eu começo a chorar ”Abri os olhos e me virei lentamente vendo Bazilho cantando baixo.
Ele me olhou e logo voltou o olhar pra pista.
— A gente precisava bater um papo... - Ele disse.
Eu andava achando ele meio estranho, mas não comentei com ninguém, nem mesmo com ele. Achava meio distante, mas ele dizia que era o trampo que tava corrido.
Já até imaginava...
— Imagino já! - Falei pegando meu celular.
Ele me olhou e voltou o olhar pra frente.
— Como tu soube? Quem te disse? - Bazilho disse.
Eu não falei nada. Fomos o caminho todo no silêncio. Chegamos na frente de casa e eu fui abrindo a porta. Ele me puxou com tudo.
— To falando sério, quem te contou! - Bazilho perguntou.
Mais esse maluco tá querendo que eu meta um murro mesmo.
— Termina logo, preciso dormir! - Falei pegando minha bolsa.
Ele arqueou a sobrancelha e riu.
— Aê pô, tu tá na Disney? - Bazilho disse negando. - To querendo tua atenção, é um bagulho que eu to na mente faz cota já! - Ele disse.
Já fazia tempo que a gente batia o papo de casar e adotar filhos, mas era um bagulho que tava meio que longe de rolar, até por que eu tava trabalhando demais pra rolar meu projeto.
— Diga logo Bazilho! - Falei suspirando.
— Toma uma ducha, fica cheirosinha pro teu macho que eu trombo contigo daqui uns vinte... - Bazilho disse.
— É pra me comer é? Não gosto de combinar pra meter não! - Falei fazendo um coque.
Ele ficou me olhando.
— Pô, coração até bateu mais forte, vai mamar? - Bazilho disse mordendo a boca.
Eu revirei os olhos e dei um selinho. Sai do carro e fui caminhando até dentro de casa. Não tinha ninguém, minha mãe resolveu de fazer bolo de pote ela e a Miriã, pra ocupar a mente mesmo.
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.