Os Marotos (Livro 1)

A sexta vez

(P.O.V. Remus)

...

Abri meus olhos aos pouquinhos ao notar a respiração calma e lenta subindo e descendo do peito de Six. Ele ainda dormia tranquilamente e seus braços permaneciam entrelaçados ao meu corpo.

Levantei o máximo possível do meu torso e me afastei um pouquinho, sem acordá-lo, apenas para poder observar cada mínimo detalhe dele.

Seus cabelos estavam começando a crescer e, por Merlin, eu não via a hora de ver aqueles fios longos descendo pelo travesseiro, fazendo com que o leve cheiro da essência de morango tomasse conta do ar.

O coração de Sirius estava em perfeita harmonia com sua respiração. Tão calmo... Seu rosto estava sereno e despreocupado... tão lindo. Tão... apaixonante... Quis me dar um tapa na cara por pensar isso, mas não podia evitar, não quando ele estava ali com as mãos tocando minhas costas e seu rosto estava ali tão perto... há pouquíssimos centímetros do meu.

- Bom dia – sussurrei ao ver seus olhos tremerem e se abrirem aos pouquinhos.

- Dia. – Ele bocejou e, em seguida, sorriu. – Dormiu bem?

- Dormi sim e você?

- Também.

O silêncio tomou conta de nós naquele momento, mas nossos olhares continuavam fixos um no outro, e lá estava eu novamente me afundando naqueles lindos olhos acinzentados, que tiravam totalmente meu fôlego e minha sanidade.

- Acho que nós... – comecei, mas logo me interrompi.

- É, nós deveríamos... – ele parou de falar também.

Caramba. Que merda estava acontecendo aqui? Por que era tão difícil terminar uma frase sequer?

O clima entre nós estava tão bom... e agora havia um peso estranho, algo diferente do habitual.

- Nós temos que... – Six tentou iniciar de novo, sem quebrar nosso contato visual.

- Sim... – completei sem saber o que dizer além de monossílabas.

- E nós precisamos...

- Sim... – sussurrei, novamente.

- Nós...

- É melhor... Eu... er... ir acordar os meninos. Vocês tem que ir pra aula e eu... eu preciso ir pra... ahn... pra...

- Enfermaria.

- Isso! Enfermaria... era o que eu queria dizer.

- É... É melhor...

- É... – Se era, por que eu não estava me levantando naquele exato segundo e saindo daquela situação o mais rápido possível? Merlin, como isso era desconcertante!

- Você deveria...

- É, eu... Eu tô indo...

- Uhum...

- É... – Não sei exatamente como consegui quebrar aquele contato visual, mas quebrei e assim que comecei a tirar a coberta de cima de mim, tomei um susto e me cobri de novo.

Merda! Eu estava em pânico agora...

Como aquilo havia acontecido? Arregalei meus olhos e... e... e se aquele climão tivesse sido por causa... Não. Sirius não sentira... Pelas barbas de Merlin, ele não podia ter sentido aquilo... O que ele pensaria de mim se...

Eu precisava correr para o banheiro o mais rápido possível. Eu precisava me livrar daquilo antes que...

- Remmie, você tá legal? – Assenti. – Não parece... Tá com cara de quem tá prestes a vomitar.

Isso! Se eu saísse correndo para "vomitar", ele jamais me contestaria sabendo que hoje era lua cheia e que esse tipo de coisa vivia acontecendo... Não seria uma mentira... estava mais para uma omissão pelo bem maior... Até porque, eu não poderia simplesmente dizer que o motivo de eu sair correndo é que eu ficara extremamente excitado enquanto olhava para ele.

- Lobinho? – Sua mão esquerda foi de encontro com meu braço e eu agradeci milhões de vezes mentalmente por ter uma coberta extremamente grossa e felpuda cobrindo meu colo.

- Sim?

- É só que...

- Hm? – foi a única coisa que eu consegui balbuciar.

- Não é nada... – Suspirou e soltou meu braço.

Se fosse em qualquer outra situação, eu teria ficado ali e insistido até ele abrir a boca para me contar, mas dado a devida situação a qual eu estava passando, isso era uma péssima ideia. Quanto mais longe eu estivesse dele, melhor seria para me livrar do constrangimento e daquilo entre as minhas pernas.

Eu já estava preparado. Uma mão na cortina da cama e a outra pronta para tirar o cobertor de cima de mim. E assim eu fiz... o que eu não esperava era aquele ruído insuportável tomar conta dos meus ouvidos, me fazendo recuar no mesmo segundo e voltar a me recostar na cabeceira da cama de Sirius com ele do meu lado, desesperado para tapar os meus ouvidos, mesmo que eu já estivesse os cobrindo com as minhas mãos.

Na frente da cama, James e Peter nos olhavam sem serem atingidos por aquele som terrível.

Não levou muito tempo até Jay pegar sua varinha e retirar o feitiço.

- Que porra foi essa, James Fleamont Potter? – Sirius questionou com sua irritação à flor da pele, me soltando.

- Eu avisei que faria cem vezes pior! – Jay sorriu, triunfante.

- Isso por acaso foi uma vingança por algo que fizemos há dois anos contra você? – indagou, surpreso.

- Obviamente, totó. – Ele estava tão convencido e com o ego tão lá em cima, que quando a gargalhada veio, não consegui controla-la. – Qual o motivo da graça?

- Isso foi muito bom, James! – exclamei, ganhando a atenção dos três. – Foi um ótimo feitiço e o elemento de surpresa... deu um ar espetacular pra sua vingança... por mais que eu deva dizer que... você bem que podia ter esperado, por conta da lua cheia... Meus ouvidos ainda estão zunindo.

- Eu tentei pegar leve contigo – disse preocupado, mas ainda animado pela vitória.

- Você tá legal? – Sirius encostou a mão em meu ombro e eu tive vontade de sair correndo, mas simplesmente fiquei o encarando. – Rem?

- Er... Não foi um ruído muito exorbitante... Os cochichos do salão principal são bem piores. – Os três começaram a rir e falar bobagens.

Respirei fundo e me aproveitei daquele momento para sair correndo em direção ao banheiro.

Tranquei a porta e silenciei o lugar, finalmente podendo ficar mais calmo, sem medo que algum deles visse. Enchi a banheira de água gelada e fiquei lá dentro, tentando esvaziar ao máximo minha cabeça para não pensar nele, até sentir meu corpo voltar ao normal.

Essa já era a segunda vez que isso me acontecia estando perto dele. Mas contando de verdade, era a quinta vez que isso me acontecia enquanto eu pensava nele. E... acho que se eu for considerar o fatídico dia que eu acordei inteiramente melado por causa de um sonho... digamos que agradável demais... era a sexta vez.

...continua no próximo capítulo...