Surpresinha animal

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(P.O.V. Remus)

18/06/1975

Tudo estava muito estranho.

James, Peter e Sirius estavam muito quietos. Não faziam pegadinhas há um bom tempo, sem contar que Six e Jay pareciam tentar manter ao máximo Piet longe de mim... Era como se estivessem guardando algum segredo só entre eles e isso estava me deixando bem paranoico.

Se eu entrava em algum lugar, era evidente que tinham o silenciado e paravam de conversar imediatamente ou mudavam para o assunto mais aleatório e ridículo possível. Os três, no momento que achavam que eu estava dormindo, se juntavam na cama de James e fechavam o cortinado. Isso sem contar as várias vezes que eu tentava falar com Sirius, mas ele ficava mantendo uma conversa rasa e chata, sem nunca se aprofundar em assunto nenhum.

Eu estava me sentindo bem sozinho nessas últimas semanas, para ser bem sincero. Às vezes saía com Liam por aí e acabava beijando um ou outro garoto que ele me levava para conhecer... já evitando ao máximo não levar outro soco de um deles... Também passava grande parte dos dias com Lily na biblioteca ou junto com o grupo de estudos. Mas não estar com os três me fazia sentir um grande vazio...

Estando embaixo do carvalho... onde tantas vezes eu e Sirius estivemos juntos, onde liamos um para o outro, onde passávamos os nossos horários livres, onde nos acolhemos tantas vezes em meio a abraços e lágrimas... chegava a doer, porque a solidão, minha mais velha amiga, estava me acompanhando outra vez, sem permissão.

"Como quando do mar tempestuoso

o marinheiro, lasso e trabalhado,

de um naufrágio cruel já salvo a nado,

só ouvir falar nele o faz medroso;

e jura que em que veja bonançoso

o violento mar, e sossegado

não entre nele mais, mas vai, forçado

pelo muito interesse cobiçoso;

Assi, Senhora eu, que da tormenta,

de vossa vista fujo, por salvar-me,

jurando de não mais em outra ver-me;

minh'alma, que de vós nunca se ausenta,

dá-me por preço de ver-vos, faz tornar-me

donde fugi tão perto de perder-me."

Parei a leitura no mesmo instante que ouvi um latido não muito longe e, logo em seguida, um animal gigantesco e preto como o ébano saiu de dentro da floresta proibida.

- Merda. – Guardei o livro em meu bolso e já me preparei para sair correndo o mais rápido possível.

Agora eu já sabia o que era a criatura... era um cachorro, mas facilmente poderia ser confundido com um lobo pelo tamanho. Se fosse selvagem, a melhor escolha a se fazer era correr... no meu caso.

Olhei diretamente nos olhos do cachorro e estranhei completamente... não me lembrava ser possível que animais pudessem ter olhos acinzentados, mas, ainda mais estranho, foi ele deitar no chão e abaixar as orelhas ao notar que eu estava prestes a me levantar.

- Ok... Você parece ser domesticado... então... vem cá. – Dei algumas batidinhas no chão ao meu lado, o chamando.

Arriscado? Com certeza, mas algo de familiar havia naquele cão e eu não consegui controlar o impulso de tentar trazê-lo para o mais perto possível.

O cachorro se levantou e caminhou até onde eu havia dado as batidinhas, se deitou ali mesmo, todo encolhidinho, e ficou apenas me observando.

- Pelo jeito vai ficar aqui me fazendo companhia, né? – Os olhos acinzentados se mantiveram colados em mim. – Bom, já que tenho companhia, vou fazer algo que não faço há um tempo... vou ler em voz alta! – Notei o rabo macio se abanar e fazer leves cosquinhas nas minhas costas. – Parece que gostou da ideia, então, vou ler... meu soneto preferido. – Sorri e fiz cafuné em seu pelo extremamente cheiroso e limpinho... nem mesmo parecia ter saído da floresta recentemente.

Os Marotos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora