Palavras machucam muito

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(P.O.V. Lily)

22/12/1973

- Caraca, Lily, sua casa é linda! – Lene exclamou ao entrar, observando cada detalhe.

- Obrigada – agradeci sem graça.

- Onde seus pais estão? – Dorcas me perguntou.

- Eles já devem estar voltando. Saíram pra comprar algumas coisas aqui pra casa.

- Seu quarto é aonde?

- No andar de cima, Mary – respondi, sorrindo por sua empolgação.

- Podemos subir? – Alice indagou, observando atentamente um rádio como se a qualquer momento ele fosse criar pernas e andar.

- Claro – falei, sorrindo ao me lembrar que Dorcas era a única ali que entendia de coisas trouxas, além de mim.

Ajudei a pegar os malões delas e levar até meu quarto, que apesar de não ser muito grande, com os colchões espalhados por todo o canto, facilitavam muito.

- Seu quarto é incrível! – Mary se atentou a alguns do posters que eu havia colado na parede. – É Queen, não é?

- Amo as músicas.

- Six também. Ele já deve ter feito os meninos ouvirem um monte de vezes assim como fez comigo. – Riu, ainda observando.

- Quem são essas pessoas? – Lene perguntou, apontando para outro pôster.

- Não é uma banda muito conhecida ainda, mas tenho certeza que vai fazer muito sucesso! ABBA é meu grupo musical favorito. Tenho o primeiro disco que lançaram... se quiserem ouvir depois.

- É óbvio que queremos – Ali disse, fascinada, ao se juntar as meninas para observar os posters.

- Tenho certeza que vocês vão amar es...

- Vejo que as garotinhas bruxas finalmente chegaram – ouvi a voz sarcástica que eu menos desejava ouvir naquele momento me interromper.

- Petúnia, por favor...

- Já não bastava ficar trazendo aquele menino esquisito pra cá? Agora você vai trazer o seu clã inteiro? Vai encher a casa da sua gentinha bizarra?

- Elas são minhas amigas...

- Você tem amigas? Uau! Não esperava um grupinho bom tendo você como líder mesmo. – Senti minhas bochechas corarem no mesmo instante e minhas mãos se fecharem, voltando as unhas em cheio para as palmas de minhas mãos.

- Você pode, por favor, parar de ser tão cruel pelo menos uma vez na sua vida?

- Eu? Cruel? A loira e a da franjinha ridícula até dá pra suportar. – Ela se virou para Mary e Dorcas, as olhando com nojo. – Agora essas duas aí... já não bastava serem bruxas, ainda precisam ter essa cor?

- Sai daqui, agora!

- Essas duas são...

- PETÚNIA! – Minha irmã me olhou de cima a baixo. – SAI!

- Espero que vocês sejam queimadas vivas, bru... – Fechei a porta de uma só vez e a tranquei.

- Eu... Eu sinto muito, meninas. – As quatro permaneceram me encarando. – Sinto muito mesmo.

- Ela quis dizer o que eu entendi sobre a gente? – Dorcas assentiu em resposta a Mary. – Ela...?

- Sim.

- Que merda, hein...

- Eu sinto tanto. Eu...

- Nós que sentimos... – Mary se aproximou de mim. – Sua irmã é cheia de preconceitos. – Assenti.

- Eu sinto muito. Ela não deveria ter insinuado nada disso, não tem...

- Você não é sua irmã, não tem que pedir desculpas por algo que ela disse ou pensa. – Dorcas veio para perto de mim também.

- Eu já deveria saber que ela poderia dizer alguma coisa, eu conheço minha irmã. Ela segue muito o que alguns parente da gente pensam... Eu podia ter evitado isso e...

- Lily, tá tudo bem – Mary afirmou. – Já passou. Não é a primeira vez que alguém acha que é superior por causa da cor ou do sangue ou blá blá blá...

- ... e, infelizmente, não vai ser a última – Dorcas completou a frase, cabisbaixa.

- Eu nem sabia que esse tipo de... – Alice se interrompeu sem saber como terminar.

- Eu já achava asqueroso os bruxos julgarem alguém por não ser sangue-puro, mas julgar pela cor da pele? Eu nem sei o que dizer...

- Os bruxos também julgam isso, Lene. Você que nunca viu ou nunca prestou atenção – Dorcas disse, olhando para ela.

- Eu...

- Quieta! – Mary e Dorc ordenaram em uníssono. – Você não é a sua irmã.

- Vamos proteger umas às outras até o fim de nossas vidas, combinado? – Lene propôs.

- Sempre tão exagerada! – Dorc exclamou, sorrindo para Marlene. – Tá, combinado.

- Combinado – todas falamos e nos abraçamos.

Petúnia tinha passado dos limites. Eu já havia me acostumado a ser chamada de aberração por ela, nunca a impedi..., mas ela não deveria ter falado aquelas coisas das minhas melhores amigas, muito menos o que insinuou de Dorcas e Mary. Ela não deveria pensar daquela forma nojenta. Ninguém com um pingo de inteligência sequer deveria pensar dessa forma asquerosa.

...continua no próximo capítulo...

Os Marotos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora