Sou quem sou

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(P.O.V. Sirius)

...

O clima estava bem tenso desde que James e Mary haviam ido para a comunal da sonserina. Eu queria falar. Eu queria conversar com ela. Mas estava temendo que ela não quisesse fazer o mesmo...

- Lene, eu sei que...

- Por favor, podemos não falar sobre isso?

- Ah... – Abaixei a cabeça e fiquei calado ao lado dela.

Já tinha refletido bastante sobre o que havia acontecido naquele dia. Realmente eu tinha falado merda, não tinha "mas" algum, era simples, eu falei coisas que muitos pensam e que eu mesmo não acredito. Fui burro, babaca e intolerante.

Não tem nada de errado em um garoto gostar de garotos ou uma garota gostar de garotas... E muito menos gostar dos dois ou sei lá... Eu tinha sido um imbecil com a minha melhor amiga, comigo mesmo e com todas as pessoas que nasceram assim... Marlene estava certa, amor é amor! E justo eu que cresci com a família Black, sem saber quase nada sobre amor, sabia disso. Eu sabia mais do que nunca agora... A questão, nesse momento, não era essa... A questão era: quais as chances de eu perder tudo se...

Convenhamos, em 1974, a maioria dos bruxos odeiam as minorias. Um bando de convencionalistas que seguem ideologias criadas por sei lá quem... e eu nem mesmo estou falando de pureza de sangue, apesar disso se encaixar perfeitamente também.

- Lene? – chamei, baixinho.

- Que é? – Ela continuou mantendo seu olhar distante de mim.

- Eu só quero pedir desculpas, ok? Não precisamos falar no assunto, nem mesmo precisa aceitar minhas desculpas... – Suspirei. – Eu só quero que saiba que eu... pensei no assunto... e que meu pedido é sincero.

- Sei que é, Sirius.

- Uhum – murmurei, voltando a ficar quieto no meu canto. – Eu apoio você, viu. De verdade.

- Quero pedir desculpas também. – Olhei confuso para ela. – Exagerei aquele dia, deveria ter em mente que você ainda não tinha pensado nada sobre o assunto... Forcei a situação. Sinto muito por isso.

- Nós dois erramos... então.

- É.

- É.

- Você também pensou sobre o que eu falei de você... se sentir atraído por garotos? – sussurrou.

- Pensei.

- E...?

- Acho que todo garoto já achou um famoso bonito, loira. Isso é normal!...

- Sirius...

- Eu sei que você e a Mary colocaram na cabeça que eu tô apaixonado pelo Remmie, mas não é verdade. Eu te garanto isso...

- Si...

- Eu não gosto dele, por favor, acredite nisso.

- Você quer que eu acredite sendo que você mesmo não acredita nisso?

- É, exatamente isso. – Engoli a seco e desviei o olhar. – Preciso que alguém acredite no meu lugar.

- Sirius...

- Por favor, não tô pronto... Não ainda...

Ela me olhou no fundo dos olhos e pareceu entender exatamente o que eu quis dizer com aquilo.

- Você pensou no que eu disse – ela afirmou, me abraçando.

- Pensei...

- A confusão passou? – Assenti – Então...?

- Lene...

- Ok, você não tá pronto. – Marlene me apertou mais no abraço.

- Obrigado por entender...

- Eu sei exatamente como é – Lene sorriu, triste.

- Dorcas, hein? – Ela revirou os olhos ao me ouvir debochar.

- Pois é, acho que sempre soubemos um do outro, antes mesmo de descobrirmos de nós mes...

- Marlene!

- Eu já entendi. – Sorriu, animada. – Você não tá pronto pra falar sobre... ainda.

- É...

- Posso falar pra Mary? – questionou, me soltando e eu neguei. – Ok, ok... Tô muito orgulhosa de você!

- Não enche, otária.

- Encho sim, sempre, ridículo.

- Bobona.

- Diz a pessoa que demorou um tempão pra enxergar o óbvio!

- Ei!

- Sem puxar o assunto, já entendi.

- Exato.

Nós dois ficamos rindo e observando o povo do salão correr sem parar das diabretes da cornualha, até que todas foram recolhidas pelos professores e nós voltamos um do lado do outro para a comunal.

...continua no próximo capítulo...


Os Marotos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora