Precisamos conversar

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(P.O.V. REMUS)

(21/06/1972)

Estávamos no quarto. James e Peter estavam terminando de organizar seus malões para voltarem às suas casas, por mais que eu já os tivesse mandado arrumar antes, mas, como nunca me escutavam, eles deixaram para arrumar em cima da hora. Sirius, como sempre, estava sendo um folgado, deitado no meu colo, dormindo, para ser mais exato, e eu estava lendo enquanto fazia cafuné naqueles cabelos macios.

- Vocês vão demorar muito ainda? – Fechei o livro e o coloquei em cima da cama.

- Falta três horas pro jantar de despedida, Remus, fica tranquilo.

- James, do jeito que vocês estão enrolando pra arrumar esses malões, é bem capaz de nós perdermos o jantar!

- Pronto, terminei! – exclamou Peter, se sentando na beirada de sua cama. - Só falta você agora, Potter.

- Valeu pela ajuda e compreensão, Pettigrew!

James demorou mais meia hora para terminar de organizar seu malão e ainda começou uma guerra de travesseiros com Peter, que demorou mais vinte minutos para finalmente acabar com os dois jogados no chão, quase desmaiados pelo cansaço.

- Já estamos descendo pro Salão Comunal, vai ficar aí até o jantar ou vai vir com a gente agora? – James perguntou depois de passar um tempo se arrumando.

- Vou ficar mais um tempinho lendo e daqui a pouco eu acordo o Six pra descermos juntos.

- Beleza – disse Potter, saindo do dormitório junto com Pettigrew.

- Finalmente à sós! não aguentava mais aqueles dois falando sem parar! – A voz de Sirius veio tão de repente que me assustou, ocasionando uma queda livre do meu livro diretamente em sua cabeça. – Ai! Caramba, Remmie! Dá próxima... joga um livro menorzinho, tá bom?

- F... foi mal, não era minha intenção acertar o seu rosto com o livro... Aliás, você não tava dormindo?

- Só porque eu tava com meus olhos fechados... você presumiu que eu tava dormindo?

- Bom... É, foi exatamente o que eu pensei.

- Presumiu errado. Tô acordadíssimo! Inclusive, é bom que esses dois tenham saído daqui.

- Por quê?

- Não é óbvio?

- Nenhum pouco.

- Nós dois precisamos conversar, Remmie.

- Já estamos conversando, Six.

- Você me entendeu. – Sirius endireitou-se na cama, cruzando os braços e ficando de frente para mim.

- E sobre o que seria essa conversa que nós dois precisamos ter?

- O motivo das minhas idas à biblioteca todos os dias desde que voltamos do Natal?

- Quando o Jay me falou que você tava indo à biblioteca todos os dias... hum... de primeira, eu não acreditei, mas quando eu vi com os meus próprios olhos, você frequentando a biblioteca, eu me assustei pra caramba. Mas o que isso tem a ver comigo?

- Você é o motivo de eu estar indo!

- Por que, por Merlin, eu sou seu motivo?

- Antes de tudo... Eu q... quero que você saiba que eu te entendo e que eu jamais me afastaria de você por motivo algum...

- Sirius, do que diabos você tá falando?

- Remmie, e...eu... – Sirius suspirou pesadamente e passou a mão pela nuca. – Promete pra mim que você não vai surtar e muito menos me interromper enquanto eu estiver falando?

- Fala logo, Sirius! Você tá me deixando nervoso.

- Promete pra mim primeiro! Tem dois meses que eu sei disso e eu tava tentando arrumar uma forma certa de te dizer isso, mas só agora eu tive coragem.

- Tá, eu prometo, Six.

- Lembra daquele dia na enfermaria? – Assenti para não interrompê-lo. – Quando o James falou que já sabia de tudo, você começou a se desesperar e eu achei isso estranho, mas relevei por conta da detenção. E, então... o natal chegou. Eu e o Potter conversamos bastante e ele citou um fato do qual eu nunca me importei muito, mas isso ficou martelando na minha cabeça durante um tempo... Aquele dia na Torre de Astronomia... er... você me disse que não tava pronto pra contar algo e isso também ficou martelando na minha cabeça...

Meu coração começou a disparar. Será que eu estava tendo um ataque cardíaco?

- Eu comecei a juntar alguns pontos... Só que nada fazia sentido... Aí veio uma ideia na minha mente... Eu imaginei que os livros de Hogwarts poderiam me ajudar a concluir alguma teoria das minhas suspeitas. Só que a ficha só caiu de verdade há dois meses, quando você deu mais uma desculpa mirabolante e eu passei a noite inteira acordado, sentado próximo a janela, apenas observando o céu, e, por fim, eu percebi uma coisa que nunca tinha notado antes... O brilho da lua extremamente cheia no reflexo da janela... Todas as peças se encaixaram. Eu não sabia como contar pra você que eu tinha descoberto isso sem te assustar... e... pelo jeito eu f... falhei miseravelmente em tentar não te assustar... – Sirius finalmente parou de falar e fixou seu olhar no meu. – Remmie, por favor, para de chorar. Tá tudo bem. – Senti seus braços ao redor de meu pescoço e só naquele instante percebi que estava chorando ao ponto de soluçar.

- V... você sabe o q... que eu sou e m... mesmo assim m... me abraça? – Me afastei de seus braços e abracei minhas próprias pernas. – Olha pra m... mim, Sirius! Eu... eu sou um m... monstro!

- Não diz bobagem, Remmie. Já conheci muitos monstros durante a minha vida... você não se parece nenhum pouco com eles. Você não é um monstro! – Sua mão tocou a minha e, antes que eu pudesse afasta-lo de novo, ele a segurou com mais força. – Você continua sendo a mesma pessoa pra mim... Na verdade, eu tô mentindo... Saber que você... guardou esse segredo... Puta merda, Remus John Lupin! – Ele estava sorrindo para mim? – Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci! – Sirius, realmente, estava sorrindo... para mim. – Se eu te admirava antes, agora... eu nem sei o que dizer.

- V... você não m... me odeia? Eu menti. Eu enganei vocês e...

- Não! Te odiar? Remmie! É humanamente impossível odiar você. – Me encolhi ao sentir os dedos de Sirius enxugando as lágrimas que insistiam em cair. – Olha pra mim, por favor. – Ele ergueu meu queixo e eu olhei bem no fundo daquele olhos nublados. – Lembra o que eu te disse na Torre de Astronomia, Remuxo?

- Pra eu me lembrar que você tá aqui comigo pro que der e vier – sussurrei.

- Eu te disse e eu vou cumprir. Eu juro, Remmie!

- O... obrigado.

- Pelo quê?

- Por tudo. – O abracei com todo o meu ser.

Durante todos aqueles anos após a mordida... eu nunca imaginara ser aceito por alguém que não fosse obrigado a me aceitar, como a minha mãe e o meu pai. E saber que Sirius sabia... Sirius estava me aceitando por inteiro... Sirius estava quebrando os paradigmas e muralhas que eu mesmo havia criado ao meu entorno... Um sorriso largo se formou em meus lábios.

- Se é assim... obrigado também.

- Pelo quê, Six? – Seus olhos se fixaram nos meus e um risinho maroto surgiu.

- Por tudo, lobinho.

...continua no próximo capítulo...

Os Marotos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora