O fim notório da infância

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(P.O.V. Sirius)

01/09/1974

Não é que eu tenha mentido para o James durante essas férias... Eu não, necessariamente, mentira. Eu apenas omiti certos fatos.

Perdi a conta de quantas vezes eu senti minha cabeça formigando e uma dor latente preencher todo o meu cérebro, mas, mesmo fragilizado, eu não deixei barato... e isso gerou muita raiva neles.

Se tem uma coisa que você aprende em uma casa cheia de legilimentes... é como proteger a sua mente e expulsar qualquer um que tente entrar sem permissão. Eu não podia deixar de jeito nenhum que eles vissem meus pensamentos e memórias. Então, desde criança, eu meio que aprendi a controlar o que quero mostrar para eles.

Não, eu não me considerava exatamente um oclumente, mas o pouco que eu sabia sobre isso me ajudou a criar meu próprio método de defesa mental. Só que, dessa vez, eu já estava com catorze anos, em breve faria quinze, e para os meus dezessete chegarem... faltava tão pouco. Sendo finalmente maior de idade, eu poderia sair daquela casa e levar o meu irmão junto comigo!... Eu não precisava mais mostrar para eles o que eles queriam ver. Eu não precisa mostrar porra nenhuma para eles!

E, assim, considerando os pensamentos que eu estava tendo que conflitavam um com o outro constantemente ou as milhões de perguntas que eu fazia a mim mesmo... Se eu realmente era ou não, como Lene disse... Era complicado, se um deles me pegasse pensando... ou melhor, duvidando da minha própria orientação sexual, eu estava ferrado.

Estávamos na plataforma, com meus olhos eu procurava desesperadamente por meu irmão, meus pais, meu lobinho ou pelo Pietzinho. Eu precisava encontrar algum deles. Se eu encontrasse, eu poderia simplesmente sair correndo com os meus malões até onde estavam.

Eu só queria sair de perto de Órion e Walburga o mais rápido possível!

- Reg? – chamei baixinho, aproveitando que os dois estavam conversando com um cara que eu não conhecia. Seria uma excelente hora para sair correndo dali... depois eu encontraria o restante dos marotos.

- O que você quer? – perguntou, seco.

- Vem comigo? – sussurrei e estendi a mão.

- O quê? – Seus olhos me observaram com espanto.

- Você vem?

- Não enche, Sirius. Faça o que quiser, mas não me coloca na enrascada – disse e se virou de costas, prestando atenção na conversa que Órion, Walburga e o cara narigudo estavam tendo.

Aquilo tinha doído, só para deixar claro...

Assim que me virei de volta para olhar ao meu entorno, pronto para correr para o trem, meus olhos se arregalarem e minha boca se entreabriu no mesmo instante em que o vi...

Ele estava tão lindo, tão alto, tão...

- Black... – Senti a mão de Órion tocar meu ombro e. no mesmo segundo, por puro impulso, empurrei a mão dele.

- Não toca em mim! – exclamei com raiva, vendo o olhar dele se tornar mais gélido ainda.

- O que tanto olha, garoto?

- Por que eu te contaria? – A sobrancelha dele se arqueou quando falei e vi o sorriso sádico dele na mesma hora.

- Você é tão ingênuo se acha que eu não sei o que se passa na sua cabeça e...

- E você não sabe mesmo! – debochei, sorrindo friamente, só para irritá-lo ainda mais. – Não me chame de ingênuo. Não quando você não consegue nem mesmo controlar a quem chama de ingênuo.

- É o que veremos... – disse e voltou para perto de Walburga.

Vi o olhar assustado de Reg em minha direção assim que apertei firme meu malão, respirei fundo e sussurrei quase sem som nenhum para ele:

- Eu amo você.

E sai correndo sem me importar com nada ao meu redor.

Só notei o que havia acontecido quando eu já estava no chão com Remus em cima de mim.

- Ai minha cabeça! – exclamei ao sentir o baque contra o chão quando pulei, o abraçando, e ele se desequilibrou pelo susto.

- Sirius, você é insano! – disse com a voz mais grossa do que eu me lembrava, saindo de cima de mim e gargalhando.

Se concentra, Sirius! Só... se concentra.

- Nem pergunta se eu tô bem, né?

- Você tá bem, idiota? – Remmie estendeu a mão para me ajudar a levantar e eu a segurei.

- É, eu tô – falei, rindo. – E só pra constar... primeira vez hoje! – Ele revirou os olhos, rindo.

- Olá, Sirius.

- Tia Hope, que bom ver a senhora. – Ela sorriu e me abraçou.

- É bom vê-lo também. Cresceu, não é?

- Pelo jeito não tanto quanto o seu filho. – Olhei Rem de cima a baixo. – Você cresceu pra caramba, tô me sentindo baixinho demais pro meu gosto!

- Não enche, Six.

- Ele não tá errado, filho, você cresceu muito mesmo durante essas férias. – Hope foi até ele e o abraçou. – Vou sentir sua falta e seu pai também, por mais que ele tenha tido que ir no Ministério de última hora.

- Eu sei, mãe. Vou sentir falta da senhora também.

- Cuida dele pra mim, Sirius? – perguntou, sorrindo na minha direção, me surpreendendo.

- Pode deixar, tia Hope! – exclamei, sorrindo de volta e vendo Remus revirar os olhos.

- Não tinha que ser o contrário? – Remmie questionou.

- Talvez sim, talvez não – falou simplista e saiu.

- Vamos esperar os meninos aqui ou vamos entrar? – ouvi ele perguntar no momento que tirei o gorro preto de sua cabeça. – Ei, Sirius, me devolve!

- Não. – Coloquei o gorro na minha cabeça e sorri. – Fiquei bonito? – Remmie revirou os olhos em resposta e tirou-o de mim, colocando de volta em si. – Chato!

- Baixinho!

- Ei! Isso não é válido! Eu tô com 1,64, não sou tão baixinho!

- Idiota – disse, rindo de mim.

- Segunda vez hoje – sussurrei, sorrindo.

- Seu cabelo...

- O que tem ele? – Arregalei os olhos ao vê-lo se aproximar mais e passar as mãos cuidadosamente pelo meu cabelo.

- Agora sim. Arrumado e... Fico feliz que tenha voltado ao tamanho original.

- Até tentaram corta-lo, mas eu não deixei... – O sorriso de Rem se alargou ainda mais.

- Fico muito feliz. Adoro o seu cabelo assim.

- Eu também. – Por que estava tão difícil respirar, hein?

- Enfim, responde a minha pergunta.

- Que pergunta?

- Vamos esperar os meninos aqui ou vamos entrar?

- Ah... Vamos entrar – falei com a voz falha e meu sorriso se desmanchando ao notar que Walburga e Órion olhavam para nós dois...

...continua no próximo capítulo...

Os Marotos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora