Os Marotos (Livro 1)

E se eu tivesse desistido?

(P.O.V. REMUS)

...

Assim que saímos do trem consegui ver meus pais me aguardando não muito longe de onde eu estava. Antes de ir ao encontro deles me despedi dos meus amigos. Sirius manhoso do jeito que era... ficou ofendidíssimo por eu só ter lhe oferecido a mão para apertar, então o abracei para que parasse de drama, o que fez todo mundo rir.

Caminhei apreensivo até meus pais, recebendo rapidamente um abraço de minha mãe e um sorriso caloroso, enquanto meu pai apenas me olhou sem esboçar reações e, logo depois, desviou seu olhar, fixando-o em meus amigos. Nenhuma palavra saiu de sua boca, não até chegarmos em casa...

- Quem eram aqueles garotos? – perguntou, colocando meu malão para dentro de casa e fechando a porta.

- M... meus amigos... – falei, encolhendo meus ombros.

- Amigos? O que foi que eu te disse antes de ir a Hogwarts?

- Q... que eu não d... deveria me enturmar, p... porque isso colocaria n... nossa família em r... risco.

- Então, por que me desobedeceu?

- Eu n... não sei...

- Não sabe? A única coisa que eu te pedi foi isso! Eu deixei você frequentar aquela escola por mais que isso fosse perigoso pra nossa família e pra você! Não é possível que você não consiga obedecer uma única regra simples!

- E... eu não queria d... desobedecer...

- Por que o fez? Se não queria, era só não ter feito! – Ele respirou fundo. – Tem alguma noção do quanto é difícil te deixar a salvo e esconder de tudo e todos o que você tem?

- E... eu sei, papai.

- Não! Parece que não sabe!

- Pai...

- Remus John Lupin, nós não temos condições pra você ficar com toda essa luxúria! É perigoso demais. Se o Ministério souber... eu além de perder meu emprego, vou ser obrigado a cadastra-lo na lista de lobisomens, vão levar você pra longe de nós, é isso que você quer? Ser obrigado a ser um bichinho de teste para os experimentos deles?

- N... não.

- Parece que é... Eu não deveria ter deixado que você entrasse em Hogwarts, eu sabia o quão perigoso era e...

- Chega, Lyall! – minha mãe entrou no meio. – Remus, meu bem, vai lá pra cima, tá? – Ela me deu um beijinho na testa. – Você deve estar tão cansado da viagem, precisa descansar. Eu e o seu pai vamos ter uma conversinha de adultos, daqui a pouco eu levo algo pra você comer, querido.

- Mas, mãe...

- Vai pro seu quarto, por favor.

- Com licença. – Peguei meu malão e fui para o meu quarto, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair loucamente.

- Qual é o seu problema, Lyall?

- Meu problema?

- Nosso filho é uma criança que nunca teve amigos por sua causa! Você sempre fica colocando medo e inseguranças nele!

- Eu apenas estou mostrando a realidade, Hope!

- E qual é a porra da realidade?

- A realidade de que se acaso aquelas crianças descobrirem o que o Remus é... vão imediatamente contar para os pais... E aí vão cair matando pra cima da gente. Eu já ganho muito pouco do Ministério... Se descobrem que eu passei todos esses anos acobertando o que aquele desgraçado fez com ele... O que acha que vão fazer? Se os Malfoys, Lestranges, Blacks e mais uma porrada de outras famílias importantes descobrirem...?

- Nosso filho não tem culpa! Você continua olhando pra ele como se fosse um monstro! Lyall, eu não... – Silenciei meu quarto rapidamente, não ouvindo mais nenhum som lá de baixo.

Minhas mãos tremiam. Meu coração palpitava acelerado sem descanso. Minha garganta parecia estar fechada, me fazendo procurar cada vez mais ar para poder respirar. Meu corpo inteiro formigava, sentindo calafrios por todo o meu ser. As lágrimas se faziam cada vez mais presentes em meu rosto.

Aquilo era tão cansativo... Não era a primeira vez nem seria a última que eles brigavam daquela forma por minha causa e isso machucava muito. Eu já sabia que eu era um monstro, mas ouvir meu próprio pai falando de mim com tanto nojo e desprezo, doía muito.

Se eu nunca tivesse nascido, nada disso aconteceria...

Se eu não tivesse essa doença que me consumia por dentro, nada disso aconteceria...

Se todas as vezes que eu pensei em acabar de vez com tudo e eu tivesse concretizado, nada disso aconteceria...

Se eu não fosse um monstro, minha família me amaria e eu não causaria tanto desgosto...

Respirei fundo ao pegar um livro da pequena estante e começar a folheá-lo. Dezoito dias e eu voltaria para Hogwarts, só precisava ficar em paz...

...continua no próximo capítulo...