Love Affair

Lar, doce lar.

REAGAN

Eles me disseram que o clima é depressivo e que está assim há meses. Questiono-me se realmente é assim ou se não é mais um dos truques da minha tia Hierly pra me colocar para correr o quanto antes daqui. Hierly Collins não suporta a ideia de ter que abrigar uma garota problemática da qual não possui nenhum grau de parentesco. As coisas ficam claras cada vez que ela abre a boca para ditar regras e denominar o que é ou não ideal.

─ Essa sua roupa não é nada adequada para um lugar como esse ─ ela diz com seus olhos percorrendo minhas pernas nuas ─ Avisamos para você como é o clima no Oregon.

Ignoro suas palavras.

Ainda não sinto frio. Ainda. Fico observando pela janela do carro a paisagem e o clima realmente não é um dos melhores, o céu está uma grande bola cinza sem nuvem ou sinal de pássaros sobrevoando. Estou acostumada com todo sol e calor de San Diego, mas é tranquilizador estar em um lugar como esse.

─ Não seja tão rabugenta, Hierly ─ intromete-se meu tio Danon, encarando-me pelo retrovisor no teto do carro ─ Muito em breve ela se acostumará ao Oregon e a nossa cidade, Eugene.

Gosto do meu tio Danon, talvez por ele ser a única família que me restou desde que meu pai me abandonou, fazendo com que a minha mãe entrasse para o mundo das drogas e do álcool. Só não consigo entender como um homem como ele pode ser casado com uma mulher tão desagradável quanto Hierly. Sei que não sou uma pessoa fácil de lidar, mas se colocar nós duas em uma balança, Hierly ganha sem nenhum esforço.

─ Bem-vinda à sua nova casa!

Pelo retrovisor, Danon sorri branco para mim, orgulhoso por poder me dar um lar decente. Eu nunca tive uma casa normal como a grande maioria das pessoas, minha mãe e eu morávamos em um quarto pequeno e tudo o que tínhamos era um sofá rasgado, uma televisão velha, duas camas de solteiro, um fogão caindo aos pedaços e uma geladeira que não gelava nada.

A casa de madeira dos Collins é enorme para mim. Possui dois andares e a pintura de vermelho com creme dá uma elegância sem igual. Há uma grande árvore próximo a uma janela e torço mentalmente para que seja do quarto que irei ficar, facilitaria muito o meu trabalho pra fugir caso precisasse ir para uma festa ou qualquer coisa do tipo.

E como se lesse os meus pensamentos, Hierly estraga o meu pequeno momento.

─ Nada de festas aqui, Reagan.

─ Essa é a última coisa com a qual você deve se preocupar ─ respondo.

Sou sincera em minhas palavras, mas não por ela e sim por Danon que é do tipo de homem que não gosta de barulho e que preza o silêncio. Para provocar Hierly, eu posso fazer qualquer coisa que não precise envolver a tranquilidade do meu tio. Hierly sempre foi muita fresca para algumas coisas, então irritá-la não é uma tarefa tão difícil assim.

Quando a porta se abre, solto um palavrão. É automático, involuntário. Hierly me repreende pelo olhar, mas Danon acha graça e leva a mão a boca para abafar o riso e não acabar levando uma reclamação da esposa que, irritada, segue para a cozinha.

─ Vem, vou te mostrar o seu quarto ─ me chama com um aceno de cabeça e subimos as escadas. Danon tira uma chave de dentro do bolso da sua calça e a coloca na fechadura ─ Tentei fazer o meu melhor, mas se você não gostar podemos redecorá-lo ao seu gosto. Quero que se sinta em casa, então por favor, seja sincera.

A expectativa emana de seus olhos e, ao abrir a porta do quarto, fico um pouco comovida não só pela decoração como pela cama king size que parece tão confortável. Danon decorou o quarto como se fosse para uma filha, as paredes são brancas e com um papel de decoração em forma de tijolinhos. No canto há uma escrivaninha com um notebook e ao lado uma estante com diversos livros. A poltrona próxima a janela me faz sorrir com a possibilidade de em qualquer noite de crise existencial eu poder sentar e observar o mundo afora pela janela sem precisar sair do quarto.