- Bom dia, você que me acompanha aí de trás, eu me chamo Alex Falconi, e parece loucura o que vou te dizer, mas eu acho que sou um gay.
Alex se levantou na manhã seguinte aos últimos acontecimentos apenas depois que Benício saiu de casa para a aula. Não que ele tivesse perdido a hora, ou que quisesse dormir mais no seu dia de folga. Havia acordado antes mesmo que Benício, na verdade não sabia ao certo o quanto dormiu, e se de fato havia dormido na última noite.
Levantou-se completamente nu e vagou pela casa por alguns minutos até que encontrou um repouso no sofá da sala.
Ainda estava impressionado com tudo que havia acontecido, o fato de ter permitido Benício lhe tocar a bunda, o lamber e até mesmo o chupar, eram coisas inconcebíveis tempos atrás, mas não foram essas as coisas que mais o assustaram e sim aquele reflexo no vidro do carro. Uma visão exclusiva de si mesmo, captada de forma transparente, pouco coesa, mas de certo modo muito real.
Naquele reflexo Alex não viu apenas o seu corpo bruto de homem beirando já os quarenta, viu sua própria alma, zombando de si mesmo, e como um narcisista se apaixonou pelo que viu.
Ao longo da madrugada o homem foi atormentado pelos seus próprios pensamentos. Até aquele momento da vida ele tinha convicção de que só havia sentido interesse sexual numa outra figura masculina, o jovem Benício.
O fato de tudo aquilo ser tão novo fazia com que ainda questionasse a sua real sexualidade. E se Benício fosse apenas um surto? Ou algo passageiro?
Por conta dessas dúvidas, ao longo do último mês, o policial sempre tentava abafar essas inquietações. Apesar de não conseguir mais se imaginar sem Benício, tinha consciência de que relacionamentos nem sempre são eternos e que a melhor resposta para os dois seria o tempo (talvez fosse o próprio rapaz que ficasse cansado de um relacionamento com uma pessoa tão mais velha. E apesar de amá-lo tentaria entender o triste desfecho).
Contudo, mentalmente, talvez por ainda existir em si a necessidade de alimentar pensamentos homofóbicos acerca da vida e sociedade, era muito difícil se identificar como um homossexual. Nem mesmo a bissexualidade era algo que cogitava. Ele se via hétero, que naquele momento se relacionava sexualmente com um cara, porém não deixava de ser hétero.
Somente na noite anterior a sua ficha de fato caiu por terra. Se ver mesmo que através do reflexo, nu, excitado, e em pleno vigor sexual trouxe a constatação de que ele era um homem que tinha a capacidade e talvez a necessidade de desejar outros homens, mesmo que aquele homem fosse ele mesmo.
Em dado momento da madrugada sorriu ao constatar que aquilo não era algo relacionado a sua sexualidade e sim a autoestima que havia recuperado com o novo relacionamento.
Mas se chocou ao se perceber novamente excitado ao pensar em si mesmo pelado e com tesão. Ele fatalmente se pegaria se fosse possível.
Tentou abafar aquela sensação, pensando em outras qualidades que possuía e de certa forma eram muito maiores que o seu corpo escultural ou seu piru grande e grosso. Pensou no curso de Educação Física na faculdade federal que passou, no concurso da polícia, na Fire. Ele era muito mais que aquilo, mas também era tudo aquilo, gostoso, sensual e muito viril.
Ficou boa parte das horas seguintes confuso, se relacionar com Benício, e se achar extremamente sensual o fazia um cara que gostava de outros homens? Ou gostar de Benício e de si mesmo além da conta foi gerado apenas por conta da convivência e carinho que tinha com o babá do filho.
Encontrou uma válvula de escape para aquela confusão quando percebeu que jamais teria ficado com outro cara se não fosse a interferência de Benício na sua vida. Foi a convivência com o rapaz que despertou tudo aquilo nele. Jamais olharia para outro cara com desejo sexual. Antes de Benício ele tinha nojo de relacionamentos gays, era o cara que acharia um absurdo ver dois caras se pegando na rua. Sim, havia sido Benício que tinha o enfiado naquele limbo. Não só ele, mas havia feito mesmo com o próprio Allan que após conhecer Benício resolveu assumir um namoro e esfregar na cara de todo mundo aquela pouca verg... situação - se corrigiu antes que concluísse.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...