REFÚGIO

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Débora acordou algumas horas após o golpe baixo que levou de Luciano, despertou jogada no chão da sala tentando assimilar o que tinha lhe acontecido.

Se lembrou da alegria que teve ao identificar que era o amante do outro lado da porta de seu apartamento, recordou da euforia gerada ao perceber que possivelmente o sócio de Tubarão trazia as notícias trágicas envolvendo o falecimento do marido.

Mas o vislumbre que tinha acerca daquele aguardado dia foi por água abaixo ao recordar os olhos de fúria de Luciano, aquele olhar que acabou se tornando uma prévia da agressão que sofreria instantes depois.

A médica sabia da instabilidade que estava vivendo no relaciomento com Luciano. Aquilo não era nenhuma novidade entre os dois, já tinham vivido crises juntos, a primeira por conta da distância que precisavam manter para que Tubarão nunca desconfiasse de nada. Suportaram em seguida o surgimento de outros terceiros no relacionamento, fizeram vista grossa quanto aos parceiros sexuais que colecionaram ao longo dos anos.

Sabiam que não poderiam cobrar nada excedente do outro, naquele momento viviam um caso extraconjugal. Tinham a certeza de que a relação não poderia se perder por conflitos estúpidos. O tempo que tinham juntos precisava ser de qualidade, transavam com intensidade, cumplicidade e entrega.

Mas desde a inevitável separação da médica e do policial Tubarão Falconi, as coisas começaram a desandar de maneira inesperada. Seria aquele o tempo em que deveriam se unir mais do que nunca, mas uma neblina havia coberto o relaciomento, o tempo junto agora era investido em articulações ou planos pouco eficazes que pudessem prejudicar Tubarão, o sexo era sempre muito rápido, meio que por obrigação.

Deborá sabia que talvez o tempo dos dois viverem aquela paixão tivesse passado, eles talvez tivessem perdido a estação correta e seguiam juntos agora apenas por parceria e objetivando a concretização dos interesses pessoais, mas o que ela jamais esperava era uma abordagem tão covarde como aquela.

O homem jamais havia tocado nela daquela forma, no sexo rolava uma pegada mais dura, mas agressão, isso a médica jamais havia experimentado, nem mesmo de seus pais. Aquilo era algo inadmissível, era o início do fim de algo que jamais sairia do campo da imaginação dos dois. Luciano acabará de colocar em xeque todas as suas promessas de amor eterno, e essa traição do amante era sentida através de uma forte dor física e emocional.

Débora tentou levantar a cabeça, mas sentia uma forte dor na nuca, percebeu nesse momento que o seu olho esquerdo não respondia aos estímulos gerados pelo seu cérebro, aquela altura deveria estar com um inchaço monstruoso, percebeu também uma dor desconhecida em sua boca e estômago. Só então concluiu que as agressões não cessaram após o nocaute que recebeu nas boas vindas do amado.

O apartamento tinha uma baixa luminosidade naquele momento, por certo já estava anoitecendo, ou talvez já fosse noite. O ambiente era frio, e com toda a dor que sentia era extremamente desagradável.

Notou então a presença de Luciano sentado na poltrona de centro. Ele vestia uma roupa da academia e a observava com a mesma frieza que o ambiente.

Débora se levantou em silêncio, não iria iniciar uma discussão antes de ver o seu real estado. Sentia um certo pavor ao imaginar como poderia estar fisicamente, uma mulher linda e tão vaidosa não merecia algo assim- pensou. Esse era o pensamento que a cercava naquele momento, ela não merecia apanhar, não merecia tamanha humilhação, ela era linda, inteligente e saberia satisfazer qualquer homem. Não se sentia como aquelas mulheres sujas e ignorantes que irritam seus homens e sim mereciam ter seus machos sentando o braço nelas. Ela não, ela era uma mulher em extinção.

Caminhou com dificuldade até o banheiro, teve vergonha de se ver no espelho, se sentia indigna, violentada, covardemente ferida.

Olhou para o seu reflexo e sentiu um ódio mortal surgir contra o amante. O seu rosto estava completamente desfigurado, soube ali que não foi um, ou dois socos que ela levou na face, no mínimo uma dezena foram acertados em cheio no seu rosto perfeito. Ao abrir a boca notou cerca de dois dentes ausentes, outros três em cacos. Sua língua estava cortada, seu semblante derrotado. A sua orelha esquerda estava fechada, aquele lado em especial do rosto parecia anestesiado.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora