QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)

ENRASCADA

O mês de outubro já se encaminhava para a sua metade final, nos dias anteriores Julinho havia recebido uma pilha de novos presentes por conta do dia das crianças. Fatinha lhe presentou com uma pasta repleta de lápis de pintar. Allan lhe presenteou com uma bola de basquete novinha e garantiu que ensinaria uns lances que aprendeu vendo as partidas do Golden State Warriors para o sobrinho quando tivesse um tempinho. Benício presenteou o menino com um cofre em formato de porco, algo que o menino havia pedindo há algum tempo. Adriano e Markus compraram um livro cada, já os pais de Débora enviaram pelos Correios um helicóptero de controle remoto, algo que acabou dando um grande trabalho para Benício que teve que correr várias vezes até a rua para resgatar o objeto antes de um carro passar por cima.

Tubarão foi o último a chegar com o presente, havia voltado ainda naquele dia as atividades no trabalho após o acidente, e lhe trouxe mais um boneco para sua coleção de super-heróis, dessa vez tratava-se de uma miniatura do Pantera Negra.

Débora por sua vez passou o feriado no quarto, desde o acidente de Alex a mulher estava incomunicável, como se estivesse guardando um luto, que por sorte não aconteceu.

O que na verdade acontecia com a mulher é que ela ainda estava assimilando o golpe recebido pelo destino, não conseguia entender o que tinha dado errado.

Nos dias seguintes ao acidente entrou em contato com o tal justiceiro, o acusando de ineficiência, o homem por sua vez disse que jamais tinha errado, e que o policial estava blindado por uma força inexplicável.

- Não me venha com sincretismo religioso agora seu infeliz, eu te contratei e paguei caro pelo seu serviço e você me deixou aquele maldito desgraçado vivo.
- Eu de verdade não sei explicar senhora.
- Pois eu sei, você não passa de um incompetente, e me deixou numa situação extremamente difícil, qualquer tipo de atentado contra a vida do traste do Tubarão vai fazer com que desconfiem que é algo planejado, e quem será a primeira suspeita? Obviamente a esposa.
- A senhora tem certeza que o seu marido é esse monstro mesmo que me falou? Eu acho muito estranho o jeito que está falando comigo agora, antes foi cheia das delicadeza e agora ta me tratando assim, meio que perdendo a noção do perigo.
- Vá se fuder seu verme, a perigosa aqui sou eu, e não pense que eu vou me acovardar, você é um incompetente, um merda de homem, e tua casa fede como um curral.
- Pois me escute aqui minha senhora, tu deveria aproveitar essa oportunidade que a vida tá te dando de não sujar as mãos com o sangue dos outros. Se reconcilia com teu homem, ou segue em frente.
- Agora tu também é terapeuta, pois guarde os seus conselhos para a puta que o pariu, e nunca mais entre em contato comigo- Débora desligou o telefone ainda enfurecida, só não correria atrás do seu dinheiro de volta porque não ficaria um segundo na casa do homem novamente.

Para Tubarão o acidente acabou sendo algo normal, em nenhum momento passou pela sua cabeça a possibilidade de um crime encomendado. Se lembrava vagamente de acordar um tempo depois da batida, tinha uma viatura policial ao lado de seu carro, ali percebeu a presença de dois companheiros de seu batalhão que já estavam em contato com o socorro.

Saiu do carro ainda mancando surpreendendo os amigos que esperavam um Tubarão Falconi quase morto. Foi amparado por eles até que pudesse se sentar na calçada, o homem foi levado até um posto de saúde deixando o seguro do carro avisado do acidente.

No posto recebeu alguns curativos e ficou de regressar no dia seguinte para fazer algumas radiografias tendo em vista que naquele horário não existiam médicos plantonistas no setor.

Por sorte sabia que não tinha nada quebrado, se sentia bem, apenas um pouco confuso, não se lembrava bem, como havia chegado até aquele lugar, e no que o levou a sofrer o acidente. Tentou fazer um exercício mental para buscar suas últimas lembranças, sabia que tinha algo relacionado a família e ao babá, mas de fato existia uma neblina sobre tudo isso.