MUDANÇA

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Num outro ponto da cidade Allan aguardava impaciente a chegada da rapaziada. O encontro aconteceria na Rodoviária Novo Rio, de onde partiriam para a região dos lagos num passeio que prometia boas recordações.

O caçula de Fatinha olhou para o relógio seguidas vezes e identificou que seus brothers estavam mais atrasados. Ansioso como poucos, o brutamontes descobrira nos últimos meses que a cada dia tinha menos paciência para atrasos.

Acabou tentando se desconectar do seu lado reclamão, tentou imaginar alguma catástrofe que pudesse ter acontecido gerando toda aquela demora.

Começou a jogar no celular quando ouviu o grito de Augusto, um rapaz loiro dos cabelos cacheados, padrão surfista. Viu então os demais amigos acenando para que ele fosse ao seu encontro. A galera estava distribuída em dois carros, sentiu uma adrenalina percorrer o seu corpo, seria lindo os dias que estavam por vir, algo lhe dizia isso.

Correu para o outro lado da rua, e entrou no carro da frente onde Augusto o esperava sozinho.

- Porra cara, estamos te gritando há horas.
- Para de câo seu puto, tô ligado nos duzentos e vinte, vocês é que se atrasaram pra caralho.
- Foi mal cara, mas sabe como é mulher né?
- Que mulher cara? Tu nem tem mulher.
- Mas vou ter, então desde já a gente cumpre os minutos de atraso pra não se estressar quando a saborosa vier.
- Sei, tu vai acabar é ficando solteiro. Já disse que tem que ter atitude, feio tu nem é. Cai pro ataque, falando em ataque, pisa nesse acelerador porra, quero curtição logo.
- Falou o velho Allan Falconi de sempre. Mas escuta aqui viado, tu trouxe só essa mochilinha pra passar a semana inteira em Búzios.
- É mais que o suficiente, deve ter umas três sungas, duas bermudas, cinco camisetas e cinquenta camisinhas.
- Eita porra.
- Tô zuando, mas me conhecendo bem, só vou ficar de sunga, logo, as bermudas e as camisas só serão vistas se tivermos algum programa noturno, vocês pensaram em algo?
- Sobre?
- Alguma coisa pra fazer além de ir a praia porra.
- Ah Allan, pensei não, nem tenho tempo pra isso. Mas tem umas festinhas, a gente se virá.
- Sei, aí cara, obrigado mesmo viu? Tava precisando de uma viagem dessas. Na verdade tava precisando de uma viagem qualquer, mas Búzios é luxo.
- É bom que seja maneiro mesmo, e que o senhor por gentileza não arrume confusão, já está bem grandinho pra ser o rei das tretas.

Augusto e Allan se conheciam do tempo da escola, acabaram por seguir caminhos diferentes, mas se reencontraram tempos depois na universidade, cursando graduações diferentes.

Os dois seguiram conversando animados nos minutos seguintes, relembrando causos do passado, mas alguma coisa acabou  por tirar a atenção do amigo de Allan.

- Que cara é essa?
- Fica quieto Allan, tô escutando um barulho estranho.

Allan acabou por tentar identificar do que o amigo falava, contudo acabou não escutando absolutamente nada.

- Qual foi Allan? tô ouvindo um barulho estranho maior tempão, pensei que do carro, mas é de celular vibrando. O meu não é, deve ser o seu mano. E pelo jeito que estão te ligando, parece que vão tirar o pai da forca.

Allan procurou o celular na bolsa e acabou por encontrar de fato o celular vibrando. Contudo, quando foi atender a ligação já havia sido perdida. Olhou na tela do celular e se surpreendeu com cerca de cinco chamadas de um número ao qual não estava familiarizado.

O grandalhão tinha acabado de entrar na ponte Rio-Niteroi, quando decidiu retornar a chamada para o número que de fato demonstrava bastante interessante em falar com ele. Ia discando o telefone quando viu que recebia uma nova chamada.

- Allan
- Oi quem fala?
- Aqui é o Cadu, você tá por onde?
- Como assim? O que tu tem com isso?
- Nossa que grosseirão. É sério onde você está?
- Pra que quer saber?
- Minha vontade é de desligar na sua cara e deixar tu se fuder- O professor demonstrou pouca paciência para com o seu aluno malcriado.
- Me fuder com o que? Passei em todas as disciplinas do período passado, não devo nada a ninguém, me erra que não quero saber nada de faculdade agora... Estou de fééééérias.
- Nossa como você tá insuportável. Me escuta, eu tenho, na verdade, eu preciso que venha pra universidade agora, nesse instante, é urgente, talvez seja a oportunidade da sua vida, é pegar ou largar.
- Qual foi Cadu? Diz o que tá pegando porra. Eu tô no meio da Rio-Niteroi, tô indo pra Búzios, nem sei quando volto.
- Escuta aqui Allan, desce agora desse ônibus, ou desse carro sei lá. É muito sério, eu preciso de você aqui em meia hora.
- E como vou fazer isso porra, tô no meio da Baía de Guanabara.
- Desce e pega o primeiro ônibus voltando. Vem logo.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora