Havia passado um mês desde que Benício tinha iniciado os estudos na Universidade, nesse período ele precisou correr atrás do tempo perdido, primeiro porque faziam anos que não entrava numa sala de aula, depois porque em algumas das disciplinas do primeiro período seus respectivos professores já haviam agendado as primeiras avaliações.
Logo no primeiro dia conheceu Tereza, uma bela jovem de pele clara, cabelo ruivo e sardas por todo o rosto. Foi ela quem lhe apresentou a universidade sobre a ótica dos alunos, o centro acadêmico, a xerox, a refeição mais em conta, os lugares mais badalados.
Achou de cara a menina um tanto entrona e pegajosa, mas depois pode perceber que ela teve uma certa dificuldade de se enturmar com os demais colegas, e aproveitou a chegada do mais novo para construir uma amizade.
E de fato haviam se tornado bons amigos, ela havia compartilhado com ele todo o material que tinha anotado no primeiro mês de aula, lhe presenteou com uma enciclopédia de literatura portuguesa e pelo menos uma vez por semana o levava para conhecer um lugar novo da cidade. Primeiro o Museu de História da Arte, depois o Histórico Nacional, Biblioteca Nacional, Centro Cultural Banco do Brasil e os Arcos da Lapa, na próxima oportunidade conheceriam o Teatro Municipal.
No princípio ele ficou preocupado com a possibilidade da menina estar nutrindo algum sentimento por ele, mas logo a confusão foi desfeita quando a mesma informou ter ficado noiva recentemente de Thomaz, um atleta de jiu-jitsu que também era professor de MMA numa academia nova e muito badalada, bem próxima da Universidade por sinal. Ela também já tinha conhecimento da sua condição sexual, disse que tinha um bom radar para isso.
Além de Tereza, Ben conseguiu rapidamente se familiarizar com os demais colegas e professores, tinha apreço pela disciplina de introdução a literatura e introdução ao grego. Contudo pode perceber logo de cara as dificuldades que enfrentavam as universidades públicas no Brasil. Muitos colegas de curso estavam impedidos de colar grau pela ausência de alguns professores em disciplinas importantes.
E com ele não foi diferente, mesmo com quase mais da metade do semestre cursado (ele com seu primeiro mês de aula, mas os demais alunos com dois meses e meio), existia uma das disciplinas que ainda não tinha professor, um problema que a coordenação do curso fez questão de frisar que já estava resolvido. O tal professor chegaria no outro dia, mais atrasado que ele.
Algo que o rapaz percebeu logo nesse primeiro mês, é que estudar é relativamente muito caro, até mesmo numa universidade pública. Eram despesas com refeições, transporte, com os livros da faculdade e xerox, Pensou que se não fosse o dinheiro que recebeu da família e Vicentão estaria por certo passando por um grande aperto.
Com as coisas na universidade ajustadas, Ben na última semana acabou decidindo que precisava procurar um emprego. Ele sabia que o dinheiro que possuía em conta era o necessário para viver bem ainda por um bom tempo, mas quanto tempo seria isso?
O suficiente para ainda não se preocupar, mas algo além disso o inquietava muito, a imensa solidão em viver sozinho, numa cidade tão pouco familiar.
Após chegar da faculdade, fazia o seu próprio almoço, depois limpava toda a casa, muitas vezes sem a menor necessidade, e em seguida enfiava a cara nos livros e nas anotações que recebeu de Tereza. Contudo, logo já não havia o que estudar, ele passou tanto tempo lendo que facilmente havia alcançado o restante da turma. Desta forma começou a ficar com o tempo mais ocioso ainda, andava ansioso e contava os dias para os passeios com Tereza. Pensou em se envolver nos movimentos estudantis ou outra atividade da universidade, mas nunca foi tão engajado em nada na vida.
Para controlar o tédio o rapaz começou a ler outras coisas, tentou focar na internet, nas ligações com Pedro, ou com Berê que partilhava as situações da animada Curitiba, mas isso também não era o suficiente, tempos depois lá estava ele, jogado naquela cama e abandonado com a sua própria solidão. Até mesmo dormir para o rapaz tornou-se desinteressante, tinha fome de gente, de contato com outros seres humanos, mas ao mesmo tempo não tinha ninguém com ele.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...