QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)

ATRITOS

O segundo dia de janeiro iniciou tão quente como o primeiro, o verão nem mal havia começado e Benício torcia para que rapidamente terminasse, para o seu desespero teria que esperar ainda longos dias de muito Sol para que seu desejo fosse alcançado. Para piorar a sensação térmica era estupidamente inquietante, o anseio por uma boa chuva era generalizado, mas aquele também não era um desejo que parecia que iria se concretizar tão cedo.

Ben ao olhar a tela do celular viu uma temperatura já acima dos trinta graus antes das oito da manhã. Acabou por entrar num site para pesquisar quando aquele tormento terminaria, mas era em vão, não existia a remota possibilidade de chuvas para os próximos sete dias. Acabou por deixar o celular cair sobre a cama desanimado.

Sentia-se suado, ainda muito cansado, talvez quebrado pelos últimos acontecimentos. Queria poder passar os próximos dias dormindo mas com aquele calor todo não seria possível. Pensou em ligar para Berê para saber como estavam as coisas no Sul, mas imaginou que pelo horário a irmã seguia dormindo, possivelmente numa temperatura muito mais amena do que a que ele enfrentava.

Se revirou ainda na cama refletindo sobre a vida, sobre o ano que estava iniciando, sobre o que encerrou. Percebeu que acabou por não fazer sequer uma simples retrospectiva de tudo o que lhe aconteceu. E aquele havia sido um ano transformador em sua vida.

Sem se dar conta acabou por iniciar o exercício pensou no janeiro em sua terra natal cercado dos amigos e da família, do fevereiro bucólico, mas foi a partir de março que tudo começou a acontecer. Ele teve a oportunidade de perder finalmente a virgindade, isso com o cara que desejava por muito tempo em oculto, passou numa grande faculdade, mudou de cidade, começou a namorar com um verdadeiro gato, foi vítima de homofobia, ganhou novos amigos, um professor incrível, começou a trabalhar na casa de uma família a beira da loucura, se encantou com um menino tão doce e carente como Julinho, sentiu o coração se voltar novamente para uma relação proibida, se encantou com o policial mais cabeçudo que ele conheceu na vida, ganhou uma sogra mãe, conheceu um ator pornô famoso, bancou o detetive, quase morreu duas vezes, terminou o namoro, e beijou na boca o homem que mais quis na vida.

Sobre aquele último detalhe ele acabou tendo uma grande dúvida, foi no ano anterior, ou no ano recém iniciado que o beijo tinha rolado com Alex? Percebeu que estava se sabotando, o acontecimento mais aguardado da vida era um feito do novo ano. Sentiu o coração disparar ao perceber, que se o ano já findado tinha sido incrível aquele novo ano seria ainda mais especial.

Deu uma espreguiçada gostosa na cama percebendo que o sono já não voltaria tão cedo, se levantou, calçando um velho chinelo e deu os primeiros passos daquele dia.

Foi em direção ao guarda roupa espelhado para encarar a sua cara de derrota. Acabou por não se achar tão mal assim, sua pele tinha um brilho bonito, que dava mais valor aos seus traços. Olhou para o corpo e viu uma manchinha na sua camiseta preta, lembrou de não ter comido nada durante a noite para ter se sujado daquela forma. Só depois de uma rápida reflexão percebeu que aquilo não era comida, e sim um fruto do seu beijo de despedida em Allan. Tirou a camisa rapidamente e pôs outra, por sorte tinha visto antes que os outros, não saberia onde enfiar a cara para explicar o esperma que lhe fez companhia durante a noite.

Enquanto vestia a outra camiseta notou o quão justo a samba canção de Tubarão ficava em seu corpo. A polpa da bunda ganhava destaque vazando pela costura. Sentiu-se envergonhado ao se apresentar assim próximo ao policial. Mas logo depois do arrependimento veio o orgulho de ter um corpo que aos seus olhos se mostrava muito atraente. Se pegaria, pensou e logo sorriu.

Tentou imaginar qual foi o sentimento que Alex teve ao presenciar a cena. Não se lembrava da expressão do homem, se demonstrava desejo ou confusão.