Já era mais de nove da noite quando Ben ensopado da chuva que havia caído no final da tarde conseguiu entrar no seu quartinho, o lugar agora tinha um forte cheiro de mofo, como ele não havia tirado nenhum dia de folga desde que começou a trabalhar na casa de Débora e Tubarão, faziam alguns dias que o espaço estava trancado. Acabou contando com a boa vontade da dona do lugar para conseguir entrar com a chave reserva, isso porque na correria para sair da casa de Débora e Tubarão, não teve tempo de pegar nada.
Teve a sorte também de ainda estar com o celular e o troco do sorvete no bolso, o último tinha encontrado após o banho na outra bermuda e guardado para devolver ao chefe depois de toda a agitação.
Se jogou na cama não acreditando no que tinha acontecido algumas horas atrás, na forma como Tubarão havia o tratado, na correria até chegar num ponto de ônibus, no tempo vagando debaixo da chuva imaginando o que fazer.
Olhou no celular e verificou mais de vinte chamadas perdidas, quase todas identificadas com o número do celular de Débora, viu que Allan também tinha feito uma ligação e depois de algum tempo a irmã também tinha buscado contato com ele.
Porém naquele momento ele não queria assunto com mais ninguém. Não naquele dia tão terrível, o dia que alguém teve a audácia de levantar um cinto para agredí-lo, algo que ninguém jamais havia feito contra ele. Ben estava com o orgulho ferido, se sentindo traído, após ter se dedicado tanto a felicidade de alguém.
Algumas horas antes
- Eu já sei, eu já sei de tudo. Eu já sei, e não adianta mentir mais.
- Do que o senhor está falando? - Ben falou percebendo a falta de controle do chefe.
- Sei que você é um farsante que veio para minha casa com o objetivo de me destruir, destruir minha família, mas eu não vou deixar.
- Como? O Senhor enlouqueceu- falou ficando de joelhos na cama- Por que esse cinto? Você não está pensando que vai me...? Ah não você não pode estar pensando mesmo.
- Eu vou sim, vou te dar uma lição para não pensar que eu sou um otário, vai voltar marcado pelo cinto, para quem te mandou saber que eu não sou nenhum otário.
- Você está caindo de bêbado, é melhor ir tomar um banho. Eu juro que vou fingir que isso nunca aconteceu.
- Cala sua boca seu viado de merda- Tubarão falou tentando controlar a raiva- Me diz quem foi que mandou você aqui? - Falou isso segurando o rapaz pelo pescoço cuspindo as palavras no seu rosto, Ben jamais tinha visto ninguém tão furioso- Você primeiro foi na minha academia e depois veio para minha casa.
- Foi aquele escroto do Luciano né? Ele que encheu a cabeça do senhor contra mim. Pois saiba que eu nem sabia que o senhor era dono daquela academia até hoje. Quem me contou foi o Allan e sua mãe, pergunte a eles.
- Mentira- falou apertando os dentes- Não coloca minha mãe nas suas mentiras viado. Estava tudo bom demais para ser verdade.
- Quer saber? Pensa o que quiser, eu não vou ficar aqui me justificando por algo que não fiz, fique o senhor com a sua consciência.
- Eu vou ficar com minha consciência e você vai sair da minha casa, da minha vida e da minha família, mas não sem antes tomar isso- Jogou o rapaz novamente na cama e desferiu uma cintada sobre ele, Ben precisou pular no chão para evitar o golpe. Na segunda tentativa conseguiu segurar o braço do chefe e evitar que aquela situação continuasse. Sentiu que mesmo sob o efeito do álcool o chefe era fortíssimo, ouviu nessa hora Débora batendo na porta.
- Você é patético, que decepção- falou Benício olhando nos olhos do chefe.Tubarão não desistiu dos ataques e tentou um soco no rosto do rapaz, que conseguiu esquivar por reflexo. Acabou dando uma joelhada nas partes íntimas do homem para conseguir sair fisicamente ileso dali. E acabou por sair da casa sem que nenhum dos convidados percebesse, com o corpo intacto, mas com a alma ferida e sangrando por tamanha violência.
Pensava o que tinha de errado com aquele cara, como ele conseguia ser tão bacana e tão babaca ao mesmo tempo. Mais cedo era o querido babá, o objeto de exposição da família feliz e agora era o infiltrado.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...