LÁGRIMAS E RISOS

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Era uma típica cena daquelas bem clichês encontradas em diversos filmes Hollywoodianos. Um casal composto por um valentão e uma mocinha (neste caso em especial um mocinho), uma leve brisa suave tocando seus rostos, uma pancada de chuva meio que artificial surge do nada e dá a deixa para o beijo apaixonado pra lá de aguardado pelos espectadores, o que dá um pontapé inicial de um tórrido romance entre os protagonistas. Antes do beijo, é claro, aquela adorável canção que vai embalar cada momento em que os dois estiverem juntos ou mesmo separados, aquela que foi feita para compor uma trilha sonora minuciosamente pensada para abocanhar todos os prêmios Óscar.

Talvez para Alex e Benício o que tenha faltado naquele momento tenha sido exatamente essa trilha musical, mas o que aconteceu dali por diante foi bem diferente. Não foi nenhuma diva estadunidense esnobando para meio mundo os seus muitos melismas e falsetes, o som escutado era outro, era na verdade uma intensa barulheira.

Dois ônibus com uma das torcidas organizadas do Flamengo passou a todo o vapor pelo policial e babá, isso após uma importante vitória do time rubro negro no Maracanã.

- Mas que viadagem, viados, duas bonecas, toma jeito sujeito, sai pra lá seus morde fronha, uma vergonha- Foram algumas das palavras lançadas pelos torcedores revoltados ao ver os dois ainda abraçados.
- Vão tomar no cu seus mulambos de merda, bando de arrombado, viado é o caralho seus otários- Alex se soltou do rapaz e começou a revidar os xingamentos.

Benício assistiu perplexo o rompante que o policial acabou tendo após as ofensas, de certo o lado torcedor fez com que Alex entrasse na discussão e começasse a jogar pedregulhos ao ônibus dos torcedores.

- Esse não é o tipo de atitude que eu espero de um policial.
- Ah porra, foi mal, é que eu odeio flamenguista, perco completamente a cabeça perto de um deles.
- Já, no meu caso, eu detesto os vascaínos, acho todos de um extremismo tão desnecessário.
- Você não sabe o que esta falando seu flamenguista de merda. Flamenguista é tudo um bando de otário.
- Relaxa cara, eu nem sou Flamenguista, sou tricolor.
- Hum... Sei, menos mal. Agora vamos embora, ou iremos ficar ensopados nessa chuva- Falou isso jogando mais uma pedra em direção ao vento.

Já dentro do veículo Benício admirava o lindo relógio que recebeu de presente do patrão.

- Calma aí, como você sabe que hoje é meu aniversário? E quando foi que você comprou isso? - O questionamento veio como um estalo, e logo foi exposto.
- Eu só sabia e pronto.
- Mentiroso, nunca te disse quando é meu aniversário.
- Eu vi na sua carteira de trabalho outro dia porra.
- Sei, mas ainda acho que está mentindo, viu no outro dia e se lembrou?

Alex esperou algum tempo até que resolveu abrir o jogo.

- Está bom eu conto. Foi hoje cedo, acordei meio puto com o que tinha acontecido no final da festa e decidi que não queria falar com ninguém. Até que o telefone tocou, tocou, e tocou novamente. Eu atendi já bem bolado quase xingando. Quem estava do outro lado da linha era uma moça com uma voz afobada, estava te procurando. Se identificou como a sua irmã, Berê não é esse o nome? - Benício assentiu com a cabeça confirmando- Ela disse que estava tentando falar com o seu celular, mas não conseguia, por certo você deveria estar muito ocupado. Disse que gostaria de te dar os parabéns porque hoje era o seu aniversário. Disse também que estaria fazendo um passeio com a família e não conseguiria te ligar de novo, me pediu para transmitir o recado, e meio que estou fazendo isso agora. Daí eu pensei, repensei, tentei dormir, rolei pela cama toda até que decidi que você até que merecia o meu esforço, coloquei uma cueca e uma bermuda e fui até o shopping comprar alguma coisa que prestasse, e achei isso aí que você vai acabar quebrando de tanto girar- Falou recriminando Benício que já havia perdido a atenção no que ele falava desde o momento em que deu a entender que estava pelado quando atendeu a ligação de Berê.
- Cara obrigado, que relógio bacana, faz anos que não tenho um.
- Não me agradeça por isso, poderia ser muito melhor, sou ótimo com presentes, mas hoje não estava muito bem.
- Eu te entendo, mas que bom que isso mudou. Novamente muito obrigado por ter sido a única pessoa a me parabenizar, isso é importante, passar o aniversário longe de todo mundo é duro, acho que meio que por isso eu preferi esquecer, pra não me sentir tão sozinho.
- Não seja bobo, eu estou aqui, você não está sozinho, tem um amigo- Alex falou apoiando a mão na perna de Benício e depois apertando, algo que fez com que o babá desce um pulo- Que isso cara, tá assustado?
- Não, não é isso, é que eu sou meio sensível, tipo meio assustado mesmo, e não me chame de viado por isso, mas sou sensível em quase todo o corpo.
- Tá de sacanagem que sentiu cócegas na coxa?
- Eu tô falando sério porra.
- Entendi- Alex falou isso cutucando a barriga de Benício vendo o rapaz ter um novo pulo, caiu na gargalhada ao ver o babá todo assustado a cada toque- Isso é muito engraçado, tu parece criança. Um bandido consegue te assaltar e levar tudo só te fazendo rir.
- Vai brincando mesmo, eu tenho certeza que você sente cócegas em algum lugar e eu vou descobrir onde é.
- Não mesmo, não sou sensível em lugar algum, isso é coisa de florzinha- Falou sabendo que seria pego no teste do polígrafo ao ocultar o fato de ser extremamente sensível na parte interna das coxas.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora