ÓPERA NATALINA (CAPÍTULO ESPECIAL)

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A manhã da véspera de Natal na casa de Fatinha iniciou com uma grande agitação. Apesar dos acontecimentos  nos últimos dias, Fatinha seguia firme com o objetivo de ter toda a sua família unida.

O encontro com Dudu, trouxe lembranças que poderiam derrubar qualquer pessoa, mas não alguém como ela. Ainda se sentia aflita por saber que tinha grande responsabilidade em tudo aquilo, Dudu tinha cerca de seis anos a menos que ela, mas possuía uma aparência de uma pessoa muito mais velha. Seu rosto era enrugado, sua pele ressecada, seus olhos possuíam cataratas em grau elevadíssimo, parte dos seus dentes já sequer existiam. A vida não lhe foi fácil, nunca foi fácil, e a matriarca dos Falconi sabia que tinha contribuído para que a situação chegasse aquele nível.

- Eu pensei que nunca mais, fosse te encontrar- Falou Fatinha procurando um lugar para sentar, as pernas já não possuíam o controle necessário.
- Eu não tinha o porque de voltar e estragar sua vida novamente.
- Não diga bobagem, você não teve culpa de nada. Eu que fui uma covarde. E paguei caro por isso. Quando meu filho apareceu com o cordão uma ponta de esperança meio que surgiu, mas eu não esperava te encontrar assim.
- Me tornei uma mulher bem feia não é? - Sorriu mostrando uma boca com poucos dentes.
- Você está linda. Que bom o destino trouxe você de volta pra mim.
- Não foi o destino, eu permiti que você me encontrasse, quando eu vi o menino chorando no túmulo do Falconi, eu percebi que só poderia ser um dos meus sobrinhos, e bateu uma saudade tão grande do passado que eu não sei o que me deu, não sei o que deu nele também para voltar aqui depois.
- Foi o destino Dudu.
- Aquele rapaz, é o Alex não é? O meu Alex?
- É sim, o seu menininho, aquele que não desgrudava de você em nenhum minuto, que chorou e teve febre por vários dias quando você teve que ir embora. É o seu afilhado.

Dudu novamente sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, amava Alex como se fosse seu próprio filho.

- E o Adriano, como está o menino Adriano?
- Esse hoje vive fora do país, vive na França, tive um outro menino, o Allan, esse é meu fiel companheiro. Ah Dudu, eu tenho tanta coisa pra te contar, tanta coisa que você precisa saber meu irmão.

Sim Dudu não era uma mulher como havia pensado Tubarão, ou pensariam todas as pessoas que a vissem ali por aquele cemitério, pelo menos não havia nascido uma mulher. O irmão caçula de Fatinha desde sempre apresentou uma alma feminina, o que em tempos tão sombrios como os que eles viveram na infância e juventude foi combatido como uma verdadeira peste.

A separação dos irmãos foi dolorosa, eram os únicos da família ainda vivos, mas uma situação monstruosa fez com que se separassem até aquele fatídico reencontro no cemitério.

Um segredo ficou guardado ao longo de todo esse tempo, e Fatinha sabia que não tinha mais como esconder dos filhos, na verdade não tinha mais o porque de fazer algo assim.

- Fatinha acho que o alho está queimando- Ben gritou do outro lado da cozinha ao perceber a distração da sogra.

Fatinha aguardava ansiosa a chegada do irmão naquela noite pra revelar aos filhos que não foi a pessoa mais honesta e digna que eles pensavam. Ela contribuiu e muito para o estado lastimável em que Dudu, ou agora Mariza se encontrava.

A ansiedade tomava conta de Fatinha, todos os familiares já estavam reunidos acertando os detalhes da ceia, o dia seria longo e se tudo desse certo tiraria de si o último dos fardos que carregava em vida.

Ben e a matriarca dos Falconi seriam os responsáveis pela comilança da noite, para evitar estresses o rapaz assumiu toda a praça de doces, enquanto a senhora assumiu os pratos salgados. Trabalharam em harmonia ao longo do dia, preparando diversos quitutes.

Fatinha já havia colocado para assaar um peru, um pernil, tender, e um grande chester. Preparou um arroz de forno, uma salada de macarrão, uma farofa das boas e uma espécie de salada misturando verduras e frutas, e outra de bacalhau. O bacalhau também foi o ingrediente principal de alguns salgados encomendados pela mulher, e de um fricassê, além disso salgados de forno e fritos também seriam servidos.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora