LIMITES

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Passado o furacão Allan Falconi na vida de Benício as pernas do menino demoraram ainda a se estabilizar, ele estava meio trêmulo, meio não, muito trêmulo por conta da adrenalina que aquele cara tinha oferecido para ele. Percebeu que valeu a pena o risco e pensou que seria muito bacana esbarrar com aquele louco numa outra oportunidade, no outro dia quem sabe.

Mas ele precisava se concentrar ali e agora. Ele tinha saído para buscar um emprego e era um emprego que iria conseguir, não voltaria para casa sem isso. Mas o mar não estava pra peixe, e em todos os lugares que passou escutou as mais diversas desculpas.

- Perdão não estamos precisando.
- Você não tem o perfil que buscamos.
- Você é muito novo.
- Não procuramos para meio período.

Já estava escurecendo quando ele resolveu que não teria mais chances, decidiu que iria pra casa e no outro dia começaria tudo novamente.

Morto de fome improvisou uma comida rápida e precisou repetir de tão faminto e gostoso que estava o seu ensopado. Mais tarde falou com Berê, e depois com Tereza que perguntou como tinha sido na academia, ele acabou por confessar que não tinha tentado lá. Na verdade não queria voltar a trabalhar em academia, mas se fosse a única opção para não ficar sozinho em casa, assim o faria.

Depois falou empolgado sobre Allan, a sua grande surpresa do dia, contudo sua amiga acabou por lhe apresentar um verdadeiro dossiê sobre a péssima fama do rapaz.

- Ele te enganou sim, te fez de trouxa, ninguém dá responsabilidade pra ele, porque é reconhecido como um irresponsável. Gostoso, mas irresponsável. Como te falei antes, o trote foi bem tranquilo.
- Bom, Eu não sei muito bem, não gosto de julgar as pessoas pela capa.
- Você está falando isso porque já está com os dois pneus furados por ele. Escuta o que estou te falando, esse cara não presta.
- Não é nada disso que você falou, é que não gosto de julgar quem eu não conheço, nesse pouco tempo nunca tinha o visto antes.
- Ninguém vê, o Allan é um fanfarrão, ele aparece quando quer, pega sempre o mínimo de matérias possível e nos últimos horários pra não acordar cedo, está arrasando a faculdade há mais de cinco anos esperando ser jubilado para tomar vergonha na cara. Não tem interesse em pegar as matérias, porque o interesse dele é pegar outras coisas. Todo mundo da faculdade no caso.
- Ele tentou alguma coisa contigo?
- Não que eu quisesse, mas não.
- Então...- Tereza o interrompeu.
- Ele não fez nada porque sabe que namoro o Thomaz e isso iria dar um problema muito grande pra ele.
- Então você já o conhecia?
- Sim ele é irmão do Tubarão- Como se Benício soubesse quem era esse- Mas isso não importa, só escuta o meu conselho, ele é um legítimo colecionador de troféus, é um grande imbecil. Um verdadeiro caçador e hoje você deve ter entrado no radar dele.
- Eu não sei, mas por via das dúvidas não vou dar confiança. Tereza vou dormir. Hoje me atrasei e perdi duas aulas. Até amanhã.
- Até amanhã.

Ben ficou frustrado com as informações vindas da amiga, aquele cara parecia ser incrível, mas não passava de um atirador, contudo se recusava a achar que Allan tinha o tratado como um alvo. Pensou em como aquele cara tinha sido legal, mas também lembrou do seu comportamento com Cadu. Olhou para sua perna direita e viu algumas marcas na sua coxa, sabia que vinham das mãos dele. Aquelas manchas eram de um momento onde Allan se aproveitou da sua fragilidade ou do cara que tinha o protegido de si mesmo, dos seus medos e traumas?

Ele não sabia e estava cansado demais para pensar em tudo aquilo, dormiu, com aqueles olhos por trás do capacete o encarando. Aqueles olhos que riam para os seus.

O que Benício não tinha noção, é que de fato aquele rapaz era um furacão, e um furacão que se preze não apenas causa um rebuliço por onde passa, como obriga novos recomeços.

Na manhã seguinte tudo transcorreu perfeitamente. Ben agora respondia perguntas aos professores, fazia seus próprios apontamentos acerca de leituras feitas e já conseguia contextualizar com outras situações.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora