Benício acabou se tornando um frequentador assíduo da FIRE, ia a academia todas as noites após colocar Julinho para dormir, os encontros com Luciano seguiram sendo pouquíssimo agradáveis, mas o sócio de Tubarão parecia ultimamente ter coisas mais importantes pra fazer, andava sempre agitado, pensativo, como se estivesse com a cabeça em outro lugar.
Allan seguiu sendo o fiel companheiro do babá, se exibia demonstrando conhecimento superior a muito personal. Benício também se assustou com a mega estrutura daquele lugar, acabou por se lembrar do pequeno espaço onde trabalhava com o padrinho Vicentão, pôde perceber que a academia de Alex era infinitamente maior, o que demandava muito mais organização e stress.
Por conta disso conseguia entender melhor a necessidade que o patrão tinha de ser cuidado, de ter alguém administrando a sua casa, a sua vida. O homem tinha que dar conta de um trabalho extremamente complexo na polícia militar e ao mesmo tempo administrar uma baita academia.
Antes Ben achava Alex apenas mais um machista mimado (o que não deixava de ser), achava absurdo o fato do policial chegar em casa e querer tudo nas mãos, não tendo a capacidade de lavar as suas próprias meias e cuecas, mas agora Benício o olhava com uma certa compaixão, tentou se colocar no lugar do outro e percebeu que talvez a última coisa que se preocuparia estando no lugar do chefe seria com limpeza e organização, iria querer sim comer, sujar e curtir ao máximo Julinho, o que ultimamente Alex vinha fazendo com muito capricho.
- Você está prestando atenção em mim? - Allan falou irritado percebendo os olhos de Benício voltados para o irmão.
- Tô sim Allan, você estava falando dos benefícios da creatina, e antes da glutamina que usa. Quer saber? Estou com fome e não me venha com nenhum whey protein, eu tô com fome de verdade.
- Isso porque você nunca experimentou o nosso novo whey, não é Tubarão- Falou Thomaz (o namorado de Tereza) acompanhado do chefe, interrompendo a conversa de Benício e Allan.
- E sendo muito sincero, não vou querer experimentar tão cedo, não suporto o gosto disso, quero mesmo um litro de açaí, com um sanduíche completão.
- Eu não quero te desanimar não Thomaz, mas hoje estou como o Benício, no meu dia do lixo- Falou Tubarão concordando com o rapaz.
- Por isso está ficando com esses peitinhos sobressalentes, todo dia é dia de lixo pra você - Allan só falou isso para provocar o irmão, sabia que mesmo próximo aos quarenta anos Tubarão estava com o corpo melhor que o dele mesmo - Quer saber, deixa o whey lá pra casa, tenho um ótimo lá, eu não curto muito, mas quem costuma provar, sempre acaba levando mais.- Sério? E qual é a marca desse? - Benício perguntou, sendo o único a não perceber o duplo sentido nas palavras do namorado, Allan começou a rir, enquanto Thomaz demonstrou um certo constrangimento, Tubarão por sua vez fechou a cara.
- Em casa te mostro, a produção é complexa, mas é proteína da boa, é um combo legal, tem a albumina que vem dos ovos, o whey que vem do soro do leite, a proteína da carne, carne de primeira, e por fim a proteína do leite, muito leite por sinal.
- Legal, não sei se vou gostar disso não, mas depois vemos, agora vamos comer alguma coisa, comida de verdade.
- Vai gostar sim- Benício não deixou Allan falar mais nada, foi puxando o rapaz até a lanchonete, não percebendo as veias saltitantes na testa de Tubarão que ficou pra trás acompanhado de Thomaz.
- Tubarão tu vai me perdoar, mas pra mim essa viadagem não desce. Porra olha teu irmão, o maior pegador da Ilha, agora aí comendo macho e ainda fazendo essas piadinhas escrotas na frente da gente- Thomaz falou ainda um tanto inconformado com o que tinha presenciado minutos atrás.
- E você acha que eu fico feliz com isso, eu não posso falar nada pra não deixar minha mãe e o Julinho mal, minha mãe porque defende o Allan até fazendo uma merda como essa, o Julinho porque ama o Benício como se fosse da família. Mas eu também detesto essa viadagem toda, detesto a forma como o Allan trata o Ben, o expondo ao ridículo assim, e ele coitado todo inocente sem entender nada.
- Você vai me desculpar novamente, mas de inocente esse viado aí não tem nada. Isso é o próprio demônio, porque pra conseguir fazer teu irmão virar a casaca assim o cara deve ser muito convincente.
- Não fala merda, o Allan pega caras faz tempo, eu que sempre fingi que não via.
- Pode até ser, mas esse garoto tem nada de bobo não.
- Não fode cara, eu convivo com o Benício todo dia, o cara é exatamente assim, puro, um tanto inocente, ele vem do interior, não tem nossa malícia pras coisas ainda.
- Tá bom chefão, não vou mais me meter falando mal do seu pupilo, nem do seu irmão, agora se cuida Tubarão, eu não quero acreditar que o que geral fala aqui é verdade.
- E que porra é essa que geral anda falando? - Tubarão falou com os dentes apertados, pouco se importando com o fato de Thomaz ser um de seus grandes amigos e o funcionário mais antigo da FIRE.
- Que tu anda dando muito mais do que salário e comida pro teu babá, que é você que anda dando na boquinha dele.- Puta que o pariu mano - Tubarão começou a olhar um por um - Povo fofoqueiro do caralho - Tubarão falou cerrando os punhos, já sendo observado por algumas pessoas a sua volta.
- Calma mano, é só zueira - Thomaz tentou apagar com uma garrafa de água o incêndio que ele mesmo havia iniciado.
- Pois escuta aqui você e todos esses linguarudos aí, eu sou macho porra, muito mais que tu e esse bando de Zé Mané. E da próxima vez que surgir um comentário assim, não vou deixar um dente na boca de vocês. Vai ser isso e rua.Tubarão falou isso saindo da academia as pressas, foi até o estacionamento e pegou seu carro. Sabia que estava a ponto de fazer uma grande merda. Algo que ele não queria, mas que era muito necessário para se sentir mais homem, sentir todo aquele peso e sentimento sair das suas costas.
Entrou porta a dentro da sua casa com uma única intenção, sentia o estômago revirado por isso, já não queria, seu corpo já não correspondia, mas ele precisava daquilo para não fazer uma besteira ainda maior.
Foi até o banheiro e encontrou Débora por lá, perfeito. Rasgou as poucas roupas que a mulher tinha, a colocou no colo, ligou o chuveiro e a penetrou, ambos fizeram isso sem falar nada, sem sentimentos, se encaravam como duas pedras de gelo, mas se aproveitavam um do corpo do outro, ela daquele membro forte, ele daquela pele macia, lisa, contudo fria.
Gozou, mais rápido do que deveria, mas tempo o suficiente pra ela também gozar. Não trocaram mais nenhuma palavra, ela continuou no chuveiro, ele seguiu para o quarto, ainda molhado, completamente pelado, com um único sentimento, frustração.
Não, por mais que quisesse enganar meio mundo, e comesse todas as mulheres da terra, era Benício que dominava todos os seus pensamentos. O seu babá era o seu principal inimigo interno, o seu principal rival. Pegou no sono antes mesmo de Débora retornar ao quarto, ou de Benício chegar em casa após uma briga com Allan.
O babá acabou percebendo enquanto lanchava o que Allan tinha falado na frente de Thomaz e Alex, ficou puto ao perceber que mais uma vez sua intimidade havia sido exposta pelo namorado. Perdeu o apetite e após um princípio de discussão deixou o brutamontes falando sozinho.
Em casa se surpreendeu ao ver as roupas de Débora jogadas no banheiro, juntas a de Alex, não era difícil somar um mais um e saber que os dois haviam se reconciliado naquela noite. Esse era mais um dos problemas que teria que lutar, ver Alex junto de Débora e controlar algo que ele tentava matar desde o dia em que conheceu o policial.
Não queria pensar sobre isso, não queria falar sobre isso.
_________________________________________Dormiu, mas acordou com Alex sobre o seu corpo, na sua antiga cama, no seu antigo quarto, aquilo não estava acontecendo novamente, não exatamente como aconteceu com Fred. Chegou a conclusão que de fato não estava, ele estava sonhando, mas ele sabia que no mundo real o seu corpo tremia e pedia o de Alex como naquele sonho. Poderia acabar com aquilo naquele momento, mas sabia que possivelmente não teria outra oportunidade de sentir aquele homem. O beijou, e lembrava exatamente do gosto do sangue que veio em seguida, era um beijo forte, selado com um tesão mútuo.
Na manhã seguinte Benício acordou pensando naquele sonho, tentava recordar o que aconteceu depois daquele beijo, mas a sensação é que o sonho havia se encerrado ali. Mesmo ele buscando criar uma continuação.
Sim ele queria uma continuação, queria que no sonho Alex fosse mais a frente, no ponto em que Fred havia chegado. Mesmo que depois ele saísse e não falasse mais nada.
O babá já não podia negar, amava o seu chefe, o seu policial. Lhe desejava como nunca quis ninguém na sua vida, sabia que não era um simples capricho, era amor e como ele se livraria desse sentimento, não sabia. Apenas queria matá-lo o quanto antes.
Ao sair do quarto rumo ao banheiro naquela manhã de sábado deu de cara com Alex, trajando a sua bela farda da polícia militar, ainda com os cabelos molhados do banho que acabará de tomar.
Ben o encarou constrangido recordando detalhes do sonho da noite anterior, por fim selou aquele encontro com um desejo de bom dia.
Entrou no banheiro com uma vontade louca de olhar pra trás mas não o fez.
Benício ficou no banheiro por mais algum tempo lembrando daquele sonho.
Alex por sua vez sentou no banco do carro e antes de ligar o veículo, apoiou a cabeça no volante, e por alguns segundos lembrou-se da loucura que foi aquele beijo.
Tinha absoluta certeza do seu erro, e talvez como que por castigo o gosto do sangue do babá permanecia ali presente em sua boca.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...