QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)

CIRCO

Os dias voltaram a passar com naturalidade após o incidente na casa do Policial Tubarão Falconi. Agora um calor insuportável tomava conta da cidade do Rio de Janeiro naquela metade do mês de dezembro anunciando um verão digno daqueles que amam estar na praia, mas inimigo daqueles que detestavam a estação.

Ben infelizmente não tinha muita predisposição para aquele Sol todo, preferia ficar dentro de casa debaixo do chuveiro ou mesmo do ar-condicionado.

Naquela altura a casa dos Falconi já havia sido liberada, e Tubarão, Julinho e o babá voltaram para a residência. Isso é claro que com os pedidos de Fatinha para que ficassem por mais tempo. Allan por sua vez fez coro para que o babá também ficasse na sua casa por mais tempo, mas foi em vão, logo estavam de volta ao endereço anterior.

Tiveram que se adaptar com um quarto a menos. Até que Tubarão resolvesse o problema do quarto do filho, Julinho e Benício teriam que dividir o quarto com o policial.

Ben acabou não aceitando a novidade, preferiu dormir no sofá da sala, dando mais liberdade ao chefe e o filho. O problema é que com essa decisão passou a ser obrigado a acordar assustado em todas as madrugadas com a barulheira provocada por Alex ao chegar em casa, após suas longas bebedeiras.

O policial havia melhorado o seu comportamento, não estava mais tão displicente com o filho e com as necessidades da casa, também não o tratava mal, mas seguia alimentando os seus hábitos noturnos, fator esse que incomodava muito o babá. O homem na maioria das vezes chegava altamente bêbado, tendo pilotado a motocicleta ou guiado o carro embriagado, aquele tipo de irresponsabilidade tirava Ben do sério.

De qualquer forma ele sabia que pouco tinha a fazer, Alex era um homem beirando aos quarenta anos, não seria ele em constantes discussões que o mudaria.

Passou então a fazer vista grossa, fingia que não se incomodava, mas tinha vontade de dar uma surra no chefe em todas as noites que ele via o mesmo caindo pelos cantos.

Na maioria das vezes, era ele mesmo que precisava levar o homem até a cama, tirar os seus sapatos e cobri-lo com um lençol fino. Mesmo com raiva achava lindo cuidar daquele homem.

Com um tempo, Ben percebeu que acabou se tornando babá de um homem que tinha idade para ser até mesmo seu pai, como perdeu o pai cedo, não se incomodava em cuidar de Alex dessa forma, era uma ausência muito sentida na sua infância que estava sendo preenchida. Já para Allan todo esse cuidado era patético, digno de toda a sua repulsa.

O cuidado excessivo que o babá tinha pelo chefe fazia com que o peito do brutamontes se inflasse de ciúmes. Isso é claro após as sequenciais farpas jogadas por Luciano, sempre que possível ao ver o babá e o policial próximos. O sócio de Tubarão na Fire também suspeitava cada vez mais da proximidade entre os dois, e precisava estar sempre alimentando um Allan destemperado com tudo aquilo.

Os questionamentos de Allan faziam com que Benício se sentisse cada vez mais incomodado com o relacionamento que tinha com o grandalhão. Sabia que o que estava fazendo por Alex era totalmente voluntário, sem nenhum tipo de interesse, e detestava o fato de Allan usar isso contra ele desgastando um relacionamento que talvez nem eles mesmos dessem mais crédito.

A semana seguinte ao retorno de Tubarão e companhia a casa antiga, veio trazendo os primeiros dias do verão, se existia alguma dúvida quanto ao calorão que se instalaria na cidade logo nos primeiros dias da nova estação, elas foram esclarecidas com um Sol de rachar até o fim do dia. Aquela semana também marcava o início da correria em massa para o Natal, mesmo sob a possibilidade de uma grave crise se instalar no país, a economia se mostrava aquecida para aquele momento, comerciantes vendiam como nunca, Shopping Centers estavam sempre lotados e as notícias na televisão divulgavam recordes e mais recordes de vendas.