O avião de Allan rasgava o céu no início de uma manhã nublada na Ilha do Governador, ao menos era isso que Fatinha deduzia, que aquela era a aeronave que carregava para longe o seu filho caçula.
A matriarca dos Falconi, já havia feito essa constatação nos nove aviões que decolaram antes daquele, existia uma certa neblina que acabou por ameaçar o atraso dos vôos, mas agora Fatinha tinha uma convicção daquelas que só as mães tem quando se tratam dos filhotes, certamente aquele era avião.
Pelo horário, seis e vinte e cinco da manhã naquela altura, tanto Benício, quanto Tubarão também podiam supor que os lamentos de Fatinha tinham motivos reais.
A aeronave ganhava cada vez mais altura, se tornando apenas um ponto no belo céu carioca. Tão logo desapareceria, tornando inútil que perdessem mais tempo torcendo o pescoço para acompanhar o princípio da viagem de Allan.
Do aeroporto até a residência de Fatinha, um choro abafado invadiu o carro. Para Benício faltavam palavras para acalentar o coração da ex sogra. Também sentia uma ponta de tristeza sem Allan por perto, o garanhão trazia uma alegria que irradiava os dias mais tristes como aquele, mas Bem sabia que aquela experiência seria espetacular para o Brutamontes.
O babá, recordou da bagunça que o ex fez na madrugada em sua festa de despedida, Allan estava feliz e empolgado, sequer justificou a sua chegada tão tarde em casa, nem mesmo algumas manchas de graxa pelo corpo. Ele riu, brincou e divertiu todos a volta, existia uma notória expectativa de Allan pelo novo, e ninguém tinha o direito de estragar aquilo, mas como dizer isso para uma mãe?
Tubarão tentou acalmar Fatinha lembrando que Adriano estaria esperando por Allan no aeroporto, que Markus e ele levariam o cabeçudo do irmão para a hospedagem da Universidade, e ficariam com ele por um ou dois dias até que o estudante se adaptasse.
O que Tubarão sabia era que aquilo seria tão necessário quanto tentar trocar uma lâmpada de oitenta volts por uma de sessenta. Para o policial, Allan era como um camaleão, que facilmente se adaptava ao ambiente em que estava para sobreviver. Ele tiraria de letra a temporada na Europa, e "se" tivesse tempo daria atenção aos estudos.
Os dias seguintes acabaram sendo verdadeiramente insuportáveis na casa de Fatinha. Primeiro porque a matriarca dos Falconi seguia controlando o choro todas as vezes que pensava no filho caçula, mesmo tendo recebido uma vídeo chamada de Adriano com o rapaz, e depois ter ficado sabendo que Allan já estava inclusive curtindo as festas do local, aquilo parecia que não fazia com que a preocupação tivesse um fim, na verdade Fatinha sentia uma enorme saudade do seu menino.
Para Tubarão e Benício aquela situação era ainda pior, sem se falar, os dois tinham que disputar a atenção de Julinho para ter com quem conversar.
A grande alegria naqueles dias veio com a alta total de Tubarão. Era incrível o poder de superação do policial, a sobrevida ao acidente terrível ao qual foi acometido não foi o suficiente para ele, em pouco menos de um mês, já conseguia andar tranquilamente e comer normalmente. Teria que passar por algumas sessões de fisioterapia para ajudar a fortalecer os músculos, e algumas de massoterapia.
- O Ben, o Benício, babá do meu neto, o nosso lindinho, ele sabe fazer massagens doutora- Falou Fatinha empolgada ao perceber que o filho não precisaria se dar ao trabalho de procurar um especialista para as sessões de massagem.
Tubarão apenas olhou para Benício, esperando dele uma resposta grosseira, mas Ben desviou o olhar procurando algo mais interessante nas paredes manchadas do consultório.
- Você pode fazer né Benício? Pode ajudar o cabeçudo de Tubarão mais um pouco não pode? Eu mesma pago por isso.
- Pode deixar Fatinha, se for necessário eu ajudo sim.
- Bom, acho ótimo. Por minha conta é isso senhor Tubarão. Continue com a medicação por mais uma semana e veja a questão da fisioterapia que logo o senhor estará cem por cento- Falou a doutora finalizando o atendimento.
- Obrigado, eu só posso agradecer a senhora por tudo, a senhora e ao doutor Patrick, a propósito, ele já voltou de férias?
- Não, ele só retorna no início de março, tinha duas férias vencidas.
- Entendi, mande um abraço meu pra ele, peça pra entrar em contato comigo, esse é meu número- Tubarão falou entregando um cartão a médica.
- Tudo bem, farei assim que possível. Agora tenham um bom dia.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...