Benício Mendes Carvalho, era o seu nome completo. Fazia algum tempo que não o lia assim por inteiro. Talvez alguns meses quando recebeu a carteira definitiva de motorista, uma grande conquista para um rapaz tão desastrado. Mas não, essa não tinha sido a última vez, a última com certeza foi no vestibular há três meses atrás.
Ele nunca foi admirador do seu próprio nome, o detestava. Não entendia bem o que havia na cabeça dos pais quando o batizaram com um nome assim.
Na verdade ele sabia que não tinha sido bem assim a história, que não havia sido uma decisão em comum acordou, e que a escolha do nome gerou dias nublados dentro da sua casa.
Acontece que mesmo tendo horror ao nome, agradecia o bom senso que o pai havia tido de mudar o original na fila do cartório em que foi registrado. A intenção da mãe era que o menino se chamasse Benito como o cantor e pianista Benito di Paula que ela tanto idolatrava.
Segundo lhe contaram, foi Vicentão que acompanhando o amigo sugeriu a adaptação do nome pensando no constrangimento que o menino poderia ter quando ficasse rapaz.
O que eles não contavam era que a mãe do menino, ficaria enfurecida com ambos e colocaria o pai do menino para fora de casa durante uma semana inteira.
- Já chega de palhaçada Valéria- Esse era o nome da mãe de Berê e Ben- Quero ver meu garoto e também volto pra casa hoje. Você está escutando?
- Eu já disse que pra essa casa você não volta mais, vai morar lá com o traste do Vicente, é só a ele que você escuta não é?
- Eu só tentei manter o equilíbrio, nem eu e nem você.Acontece que o pai do menino, gostaria que o garoto se chamasse Gregório como ele e seu pai.
- Mas você sabe bem que nem estaria aqui falando comigo se tivesse colocado o nome do meu menino de Gregório Neto. Você estaria morto e o traste do Vicente estaria lá fazendo o papel de viúva na sua missa de sétimo dia.
- Já chega de bobagens, eu vou entrar! Primeiro porque você jamais deixaria seus filhos sem pai, segundo que não somos católicos e terceiro que você ainda saiu ganhando nessa história. Benício é muito mais parecido com Benito que Gregório.
Na noite desse dia a mulher resolveu abrir a guarda e deixou o marido voltar para casa, obviamente dormindo no sofá furado da sala. Quanto a Vicente só voltou a falar com o amigo um mês depois do nascimento do menino. Mas com uma grande surpresa, foi convidado para ser o padrinho do menino, assim como da filha mais velha.
- Obrigado, eu nem tenho palavras.
- É bom não ter mesmo, e fique sabendo que só estou te chamando porque não temos muitos amigos.Anos depois quando a mãe contava aos risos essa história, o menino ficava extremamente incomodado com a falta de criatividade dos pais, pensava em cada nome incrível que poderia ter tido.
O coro era reforçado com a revoltada Berenice que acabou recebendo o nome da bisavó materna. Numa outra batalha campal entre os pais, dessa vez Gregório queria que a menina tivesse o nome da sua mãe Dona Azaleia.
Numa tarde de inverno Benício estava assistindo televisão ao lado da mãe já muito debilitada de cama, passou por um canal que fazia uma reportagem em homenagem a vida do tal Benito, e na ocasião descobriu que esse não era o seu nome verdadeiro. Ele ficou ruborizado com a descoberta e com o comentário que veio da mãe a seguir.
- Uday, um nome bacana, não acha meu filho? Se eu soubesse na época possivelmente esse seria o seu nome. Uday Mendes Carvalho.
Benício preferiu não manifestar o seu descontentamento com a mãe.
Nos tempos de escola ganhou uma abreviação carinhosa de alguns de seus colegas, agora ele era o Ben para todo mundo e se sentia mais a vontade com o nome.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...