SURPRESA

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- Que bonito, senhor Benício

Benício bem que pensou em responder Vicentão com uma piada sobre realmente ser um rapaz bem bonito, mas não tinha nenhuma chance de brincar hoje, não depois de tanto atraso.

- Oi Vicentão me perdoa cara, é que...
- É que nada Benício- Vicentão extremamente bravo interrompeu o funcionário, o fato de chamar o rapaz pela segunda vez no dia de Benício dava o tom da encrenca a qual Ben estava entrando- essa é a primeira e última vez que permito um atraso como esse rapaz.

Na verdade era a décima quarta vez que ele dizia isso, e Ben sabia que ele jamais o demitiria, mas ao mesmo tempo não achava no direito de falar isso, não estava no direito nem mesmo de agradecer a generosidade do padrinho.

- Tudo bem cara, mal aí de verdade.

Ben abaixou a cabeça meio que envergonhado pela chamada.

- Ei, também não é para tanto, não queria nenhum dos meus funcionários pra baixo. Corre lá que já tem gente te esperando.

- Valeu Vicentão, você é o cara.

Chamar o Vicente de Vicentão sempre foi muito gozado pra Benício, o homem era um negão de cinquenta anos de um metro e sessenta e três de altura e o coração mais molenga que o rapaz já viu na vida, o apelido sempre foi muito paradoxal para Benício tendo em vista que com 12 anos já era mais alto que ele.

Alguns caras comentavam que o apelido de Vicentão era porque já o viram tomando banho na academia e que sua altura não faz jus ao tamanho de outras coisas. Mas a mãe de Benício enquanto era viva dizia que o nome Vicentão era por conta do lado briguento do melhor amigo do pai de Ben e Berê. Vicente era um nordestino que fazia de tudo para entrar numa porradaria quando mais novo, e que sempre se saiu vencedor dos seus embates, fato muito bem aproveitado quando ele se tornou um boxeador profissional.

Tendo em vista que Benício já havia presenciado o padrinho no banho e também acompanhado de perto uma boa briga dele, sabia que as duas explicações estavam corretas.

Sobre o gênio indomável do Vicentão, ainda na juventude alguns profissionais do boxe viram futuro no baixinho. Como boxeador profissional ele lutou em vários lugares do Brasil e alguns países no exterior ganhando bastante dinheiro.

O fim da carreira do Vicentão aconteceu no mesmo dia que a vida da minha família de Benício mudou radicalmente. Vicente e o pai do rapaz eram companheiros inseparáveis desde a juventude, e quando o primeiro começou a ganhar fama trouxe o outro para trabalhar junto.

Durante os dez anos de carreira de Vicente, Gregório o pai do rapaz esteve ao seu lado durante todos os momentos, fosse como seu motorista, preparador, técnico, empresário, amigo e companheiro de bebida. Foi retornando de uma luta que aconteceu o acidente, era uma viagem longa, eles tinham acabado de passar pela polícia federal já entrando na cidade a qual residiam a vida toda, foi nesse momento que Greg perdeu o controle do carro após ser fechado e colidir com outro veículo que vinha na contramão, a dupla capotou algumas vezes, Vicente saiu apenas com alguns arranhões, enquanto Gregório não teve a mesma sorte, ele morreu antes mesmo da ambulância chegar, morreu nos braços do seu maior e melhor amigo.

Dias após a família descobriu que o motorista do outro veículo estava alcoolizado, e mesmo tentando responsabilizar o criminoso, o responsável respondeu ao crime livre, leve e solto. A família de Benício recebeu uma miséria do processo, mas nada pagaria a dor de tê-lo perdido.

Depois disso Vicente assumiu todas as despesas da família de Benício, fez isso como se fosse um de seus parentes. O que emocionalmente era, tanto para a mãe de Benício e Berê, quanto para os filhos de Greg, Vicente era uma referência.

Mas nada era como antes, a alegria da família havia partido junto com eles naquele acidente, e quem mais demonstrou sentir o golpe foi a mãe das crianças.

Após a morte do marido ela mergulhou numa terrível depressão e os seus últimos sete anos de vida foram extremamente difíceis. Ela não queria viver, mas sabia que precisava insistir na vida até o dia que tivesse a certeza que os filhos ficariam bem.

Foi numa manhã de sábado, um mês após o casamento de Berê que ela se foi, mesmo estando muito magra, estava linda, doce e tranquila, foi assim que descansou.

Antes disso fez Berê jurar que cuidaria do menino adolescente e que Vicentão sempre olharia por nós dois.

O emprego de Benício foi fruto desse juramento, Vicente pagou um curso técnico em fisioterapia e em seguida o contratou para ajudar na parte muscular dos seus atletas. Ali o rapaz trabalhando todas as manhãs, treinava de graça e acabava recebendo bem mais que o valor de mercado.

Ben após a bronca de Vicentão correu até a sala de equipamentos para pegar seu material de trabalho, em seguida subiu até sua sala para encontrar o primeiro aluno. E lá estava ele, como uma pintura grega, de pé completamente nu a sua espera.

- Demorou muito delícia.

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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora