- Como assim você ficou com tesão no Raí? Quer saber Benício? Você não presta, eu pensei que você era diferente, mas você não é.
Ben se levantou num pulo da cama, estava completamente molhado de suor, não porque o quarto fazia calor em si, mas pela agitação mental que enfrentava desde o dia anterior quando foi obrigado a treinar com o professor Raí.
O rapaz pôs um short e se dirigiu até a cozinha onde tomou um copo de limonada Suiça que sobrou do jantar. O gosto já amargo da bebida aquela altura não era tão torturante quanto as difíceis palavras do pesadelo que acabará de ter. A bronca de Alex ainda era vibrante em sua consciência, mesmo sabendo que nenhuma daquelas palavras jamais havia sido pronunciada pelo policial.
Ben tinha sentido sim, uma forte atração pelo novo professor, e não sabia ao certo se aquilo era comum, ou não, se era errado ou não. Sentia-se extremamente apaixonado por Alex, o amava como nunca, e uma vida longe dele era inconcebível depois de tudo que tiveram que vencer para estarem juntos, mas todo o seu amor não foi capaz de cegá-lo diante da primeira tentação que se aproximou.
Na verdade a tentação era muito mais mental do que propriamente por alguma atitude de Raí. A visão do professor era como um banquete em tempos de fome, talvez aquele sentimento que lhe ardia o corpo de fato fosse errado, muito errado, mas não conseguia parar de pensar, ou desejar aquele peitoral farto, com o bico rosado lhe tocando a boca, a boca seca. Ele conseguia recordar o cheiro, mas ele queria mais, queria o gosto presente também em sua saliva.
Baixou a cabeça na mesa se culpando, como a vida era difícil. Ele havia se tornado o que mais criticava em outros caras gays, aquele que tinha fascínio no culto ao corpo. Ele nunca negou que um corpo esculpido por extensa dedicação em treinos e dietas era bonito aos olhos, mas sempre foi um crítico assíduo daqueles que só imaginavam o prazer ao lado dos brutamontes. Teve que recordar de Fred para respirar com certo alívio, apesar da boa forma, o cunhado não era um homem bombadão, na verdade no último encontro que tiveram Fred estava caminhando para isso, mas o que valia naquele momento era a lembrança do Frederico antes da mudança para Curitiba. Mas nada daquilo tirava do rosto a decepção de saber que sim, ele andava pagando pau para mais um brutamontes.
Talvez ele devesse ter experimentado mais coisas ao longo da vida, pra não ser fisgado por uma fantasia. Mas Ben sabia que Raí reunia mais que um simples fetiche. Passou os instantes seguintes apontando motivos que justificassem essa certeza. Raí era homem, muito homem, era grande, com todos aqueles músculos, mas o que mais chamou atenção de Benício foram três detalhes em especial, o fato do homem estar na faixa dos cinquenta, ter cabelos grisalhos e ter um peitoral tão convidativo.
Alex há poucos metros dormia um sono pesado, e ele ali, perturbado por uma bobagem, um sentimento mesquinho. Ainda na noite anterior quando o policial questionou a sua estranheza Ben não foi capaz de dizer a verdade, tinha medo do policial lhe acusar de devassidão, ou palavras mais baixas. Ben sabia que o gênio do policial não era tão fácil de se controlar então mentiu. Mentiu alegando estar se sentindo pressionado, atormentado pelos acontecimentos na casa de praia. Mas ele sabia bem o que o atormentava de fato. Se jogou num banho frio, sabia que aquela impressão era um exagero, no outro dia possivelmente veria uma porção de defeitos no homem, o que lhe quebraria todo o encanto, se sentiria ridículo por se tornar refém de uma situação como aquela, e foi nessa expectativa que descansou a mente.
Foi surpreendido no banho com um Alex já fardado pronto para madrugar no serviço. Olhou para o policial assustado, como se o homem o tivesse pego no flagra, ou pudesse ter escutado seus pensamentos. E se ele não estivesse pensando baixo o suficiente? Leu a expressão do homem, até receber uma indagação
- O que deu em você?
- O que deu em você? - Ben retrucou - Já fardado tão cedo.
- Falei contigo duas vezes ontem que hoje pegaria cedo no trabalho, tá com a cabeça voando mesmo hein. E você o que faz aqui? Porque não toma banho lá no quarto?
- Não sei, me deu saudade, fazia tempo que não tomava banho aqui. E eu gosto da pressão desse chuveiro, principalmente quando a água tá fria assim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...