Uma forte luz iluminou o rosto de Allan naquela primeira madrugada do ano, ele demorou a reagir, ou mesmo entender o que acontecia.
O cheiro que vinha do mar acabou por impregnar o seu olfato, torceu o nariz algumas vezes antes que despertasse por completo.
Sentia o corpo completamente dolorido, provavelmente por conta do lugar onde estava dormindo, era duro, talvez rochoso, sentiu também a pele arranhada pelo excesso de areia que o cobria.
Ao abrir os olhos percebeu que ainda era noite, tentou rapidamente entender o que estava acontecendo, mas sua cabeça explodia de dor dificultando todas as tentativas.
Ainda com a forte luz posicionada sobre a sua cara, lembrou do fora que tomou de Benício na noite anterior, recordou da ressaca moral que havia iniciado horas atrás após terminar o namoro com o seu roceiro favorito. Percebeu que a ressaca agora não era apenas moral, era física, havia bebido possivelmente metade das garrafas que a turma da faculdade havia levado para o réveillon.
A noite até que acabou não sendo das piores, a galera percebendo o grandalhão cabisbaixo, tentou de todas as formas animar o brutalmentes. Fizeram brincadeiras, rolou cantorias, dançaram em roda e uma comoção acabou tomando conta de todos ao ver a queima de fogos, já altos pelo excesso de bebida caminharam pelo aterro sem destino certo. Agiam feito jovens que eram, comemorando o encerramento de ano, onde, venceram adversidades, tempestades, uma enxurrada de problemas, muitas bombas na universidade, tretas no emprego, ou com a família. Sabiam que logo pela manhã as dificuldades voltariam, mas não se sentiriam desestimulados com isso, pois também tinham a ciência que poderiam contar uns com os outros e com uma chuva de coisas boas que a vida poderia lhes proporcionar a essa altura da juventude, uma certeza eles tinham, seria um ano inesquecível.
Mas para Allan algo deu errado, mesmo antes do amanhecer os problemas aparentemente já haviam surgido naquele primeiro dia de janeiro. Por trás daquela luz insuportável em seu rosto avistou dois armários fardados com arma em punho.
Não lembrava exatamente como havia parado ali, nem mesmo em que condições estava, tentou falar alguma coisa, mas tudo girava num frenesi em sua cabeça, a ponto de sentir uma dor insuportável só pelo fato de tentar pensar. Tentou então se levantar, mas parte do seu corpo estava dormente e travado, acabou ficando preocupado com aquela sensação estranha. Colocou a mão esquerda sobre o rosto, nesse instante acabou sentindo um chute na perna vindo dos tais policiais.
Se surpreendeu ao perceber que a dormência era efeito da pressão que sentia sobre o lado direito do peitoral, isso não por uma doença, mas por uma cabeça apoiada naquela região. Encontrou a força necessária para se levantar e percebeu que seus problemas só estavam começando.
Primeiro por se deparar completamente nu, depois por identificar que ao seu lado tinha a companhia de uma mulher no mesmo estado que ele, por fim pode perceber que a tal mulher era Drica, uma das melhores amigas e companheira de turma de Benício na faculdade.
- Como é que é vagabundo, vai continuar com essa putaria aqui? Ou levanta e se veste, ou vamos levar os dois em cana por atentado ao pudor. Não conhecem limites não porra? Juventude de bosta.
- Calma ai amigão- A voz acabou por sair meio embolada- Vai com calma, a gente bebeu demais, tem nenhum vagabundo aqui não, deixa acordar a mina, que vamos sair daqui já já, eu só vou ter que descobrir onde está minha roupa e a chave do carro- essa última parte falou baixinho, só pra ele mesmo, e sua consciência culpada.
- Bora meu irmão, não temos tempo pra ficar preocupando com vagabundo e puta não.
- Sou vagabundo não meu irmão, já te disse. E a mina aqui é maior responsa, dá um tempo.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...