QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)

FAMÍLIAS

Chegou o esperado dia do almoço, Ben acordou logo cedo para não perder nenhum minuto. Preparou o café da manhã de Julinho e distraiu o menino com um livro de pintura.

Débora acordou de péssimo humor e acompanhou a movimentação na cozinha em silêncio, cerca de meia hora depois Tubarão surgiu ainda bocejando, questionou se Benício precisava de alguma ajuda e informou que haviam confirmado presença outras seis pessoas. Além dos quatro moradores da casa, participariam da confraternização os pais de Débora, a mãe e o irmão de Tubarão, e dois amigos íntimos da família.

Enquanto cozinhava Ben não pode deixar de recordar de sua própria mãe, naquele dia dedicado a elas. Lembrou da dificuldade dos últimos dias de vida, da fraqueza da mulher que um dia havia sido exemplo de valentia e força, jamais poderia esquecê-la e gostaria de estar ao seu lado naquele dia, mostrando o tamanho do seu amor e gratidão.

Com quase tudo concluído Ben viu Débora ligar o motor do carro e sair em disparada, Tubarão informou que ela estava indo buscar os pais no aeroporto internacional que ficava bem próximo da casa. A família de Débora era de uma região de classe média alta de São Paulo, chegariam no Rio aquela manhã e retornariam na parte da tarde para a capital paulista.

Não demorou muito e o carro estava de volta sendo estacionado do lado de fora da casa, um frio invadiu a barriga de Benício, provou o tempero novamente e percebeu que não tinha com o que se preocupar. Do carro saiu Júlio um senhor de meia idade bastante sorridente acompanhado de Bárbara uma mulher seria, possivelmente na mesma faixa etária que o homem, era loura e esguia, bastante atenta a tudo o que se passava a sua volta.

Débora interpretava um personagem, agora estava feliz com a chegada dos pais e com a ocasião criada pelo marido. Ben se incomodou profundamente com a facilidade daquela mulher ser dissimulada. A loura mostrou a família as mudanças e o cuidado que tinha com a casa, como se de fato ela contribuísse de alguma forma com a organização da residência, fez gosto também de apresentar a principal aquisição do último ano, ele mesmo, o babá perfeito.

Bárbara sua mãe olhou para o rapaz de cima abaixo, procurando nele algo que pudesse demonstrar o como a sua filha tinha o poder de fazer escolhas errôneas, procurou um fio de cabelo desgrenhado, uma barba por fazer, unhas sujas ou algo do tipo, mas não havendo nada a sua vista o cumprimentou com um aperto de mão e um sorriso de boca fechada.

- Então você é o famoso babá, e pelo visto tem outras qualidades, o cheiro da comida é muito bom rapaz.
- Famoso eu?
- Sim, tenho escutado maravilhas ao seu respeito.
- Imagina, eu só tento fazer o meu trabalho- falou constrangido.

Tubarão chegou em seguida a cozinha e cumprimentou primeiramente o sogro, depois foi falar com Bárbara.

- Dona Bárbara, que prazer em receber a senhora em nossa casa, já estava com saudade.
- Ah Tubarão, você sabe que a recíproca não é a mesma, dividirmos o mesmo espaço é sempre um grande desafio- a senhora devolveu a ironia do genro com grande estilo.
- Não seja comediante, o Benício vai acabar acreditando, e pensando que seguimos a máxima de que nos detestamos como bons genros e sogras.
- Espero que você não tenha contratado esse rapaz para colocar purgante no meu almoço- falou saindo da cozinha e indo direto para a sala.

Por lá continuaram a troca de farpas.

- Pensei que encontraria essa casa devastada, vejo que me enganei, está até muito arrumadinha- falou a sogra.
- Não se engane, o efeito tsunami sempre chega com você- falou o genro provocando no nível máximo.
- Vocês dois já podem parar, eu sabia que esse almoço seria uma tragédia- falou Débora muito incomodada.
- Não se preocupe minha filha, eu até me divirto vendo isso- falou o pai, que observava tudo.
- Pois não existe nada para achar graça aqui, era você que deveria ser o chato nessa história, mas há quinze anos vem se omitindo nessa loucura que Débora fez em se enrolar com o Tubarão, na verdade você sempre passando a mão na cabeça dessa irresponsável- Bárbara falou zangada com o marido.