Era uma manhã nublada de sexta-feira, Benício se levantou por volta de seis e meia da manhã, calculou a horário por conta do Sol nascendo ao lado de fora, tentou confirmar com o seu celular, mas percebeu que o mesmo estava sem bateria. Sequer se lembrava da última vez que havia utilizado o aparelho, pôs o carregador na tomada, e em seguida o conectou no smartphone, pronto, uma luz se acendeu com o a imagem de um número zero ao lado do símbolo da porcentagem. Demoraria por certo umas duas horas até a carga completa, mas Ben não tinha pressa, não tinha a mínima vontade de ligar o aparelho e receber aquela enxurrada de novas informações vindas dos grupos da faculdade, ou dos comentários em suas publicações nas redes sociais. Queria mesmo era entrar num templo oriental para um retiro espiritual consigo mesmo, isolado de tudo e todos a sua volta.
Tomou um rápido banho e se dirigiu novamente ao seu quarto ainda enrolado numa toalha azul, ao chegar no ambiente que dividia com Julinho, o babá pode aproveitar alguns minutos para pensar no ritmo que sua vida estava levando naquele ano em especial.
Faltavam ainda mais de dois meses para a chegada das festas de fim de ano, mas Ben sabia que um ano como aquele já havia entrado no topo do ranking dos mais surpreendentes e agitados de toda a sua curta vida. Com uma leve retrospectiva percebeu que muitas coisas mudaram, na verdade absolutamente tudo mudou.
Há um ano atrás ele estaria acordando na casa da irmã, provavelmente muito atrasado para o trabalho na academia de Vicentão, lá teria as adoráveis presenças de Bere e Rosa, além é claro do tentador Fred tirando suspiros apaixonados do ingênuo rapaz. Na academia possivelmente teria que aguentar o mal humor do patrão, e as deliciosas investidas de Sinval.
No fundo o babá sentia falta da vida naquela cidadezinha, não porque era tudo muito bom, mas pelo simples fato de tudo estar sob o seu controle, tudo era muito tranquilo, as coisas demoravam a acontecer, era como se sua vida no interior fosse uma brincadeira frente aos desafios que estava enfrentando agora. No interior uma novidade acabava sendo motivo das conversas por longos dias. Na cidade grande não, tudo acontecia depressa demais, não existe tempo para refletir, logo outras novidades vem, e por muitas vezes um rapaz como ele acabava ficando perdido.
Ben acabou por deixar cair uma lágrima dos seus olhos. Após a primeira vieram várias. A sensação que o rapaz tinha, é que o mundo na cidade grande era muito diferente do que ele esperava, a crueldade era algo real, aquilo não era mais uma brincadeira infantil, era sim um jogo de sobrevivência entre gente grande, as pessoas não estavam dispostas a se respeitar, na verdade estavam dispostas a se matar em busca do controle de todas as coisas.
O rapaz olhou para o corte no braço ainda inchado e pensou na maldade que Débora havia preparado para ele, reconheceu imediatamente que se não fosse o escândalo que Alex fez no hospital, talvez ele não estivesse vivo ali.
Foi o pensamento em Alex que fez com que uma ponta de esperança surgisse e ele concordasse de que nem tudo o que tinha vivido até ali foi ruim, na realidade se ele tivesse a oportunidade de voltar atrás e fazer diferente, abdicando da possibilidade de viver tudo aquilo a resposta dele seria um estridente "não". Aquilo por mais que fosse chocante admitir, foi algo que trouxe vida, e ao mesmo tempo liberdade para o jovem rapaz, ele amava estar naquela casa, amava cuidar do pequeno Julinho, e sim ele amava Alex, amava o seu chefe, o seu cunhado policial e homofóbico.
Ben por um segundo que fosse precisava assumir aquele sentimento, precisava adentrar no confessionário da sua própria intimidade e reconhecer que Alex havia se tornado muito mais do que um amor platônico, aquela montanha de gelo e músculo era o grande amor da sua vida. O rapaz viu a toalha descer lentamente pelo seu corpo, aqueles pensamentos haviam o possuido há algum tempo e ele já não tinha controle sobre si. Para qualquer espectador aquela poderia ser uma cena bizarra, cômica ou mesmo extremamente sensual.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...