Passaram três dias desde o incidente com Benício na casa de praia. O babá seguiu ruminando os acontecimentos, mesmo estando decidido a colocar um ponto final em tudo aquilo e seguir sua vida. Contudo, hora ou outra era traído por sua própria consciência, revivendo os minutos de horror a qual foi submetido pelos três infratores.
Pensava também no sofrimento de tantas vítimas que haviam passado pelo mesmo trauma que ele. Tentou buscar na internet relatos de pessoas que estavam na mesma situação, e acabou encontrando uma rede de apoio, com palavras de conforto e aconselhamento.
Nos dois primeiros dias Alex foi um verdadeiro companheiro. Passou todo tempo ao lado de Benício no pequeno espaço a qual o babá havia alugado assim que chegou ao Rio de Janeiro. Ben podia perceber o incômodo do policial no espaço abafado e sufocante, principalmente no segundo dia quando a única roupa que possuía já estava extremamente suada.
O rapaz sugeriu para que Alex saísse e comprasse algo novo para vestir, mas o homem acabou desenvolvendo naqueles dias um lado superprotetor e preferiu ficar ao lado do babá, mesmo que pra isso tivesse que ficar sem suas roupas durante todo o tempo, o que para Benício não seria nada mal em ver, se não estivesse ainda tão perturbado.
Naquela manhã de sexta-feira no entanto, foi inevitável para o policial não sair de casa. Deixou Benício logo no início da manhã, com o comunicado de que precisaria ir até o imóvel da Ilha do Governador e cobrar dos pedreiros o fim da reforma. Além disso precisaria levar até a Fire toda a mercadoria que tinha guardada no carro, o carnaval se aproximava e a procura naquela época era altíssima, uma ótima ocasião para vender os novos uniformes e conseguir alavancar os ganhos da academia.
Ben então passou boa parte daquele dia jogado na cama, procurando a força necessária para sair daquele estado depressivo. Alex o ligava de hora em hora para saber como ele estava, Ben por todas as vezes o atendeu, sabia que se ele não respondesse ao policial, não demoraria muito até que o bonitão estivesse ao seu lado em desespero.
Mas Benício sabia que a vida de Alex deveria seguir, e ele de forma alguma atrapalharia os afazeres do homem. Decidiu ele mesmo tomar uma atitude para sua vida no entardecer. Pegou uma roupa qualquer, calçou um tênis e saiu para uma corrida no entorno do Maracanã. Antes é claro, passou alguns minutos em frente ao espelho verificando que as marcas no seu rosto estavam praticamente imperceptíveis aquela altura.
Ele não se deu conta de quantas voltas deu, via ao seu lado uma galera contagiante fazendo o mesmo que ele, percebeu que naquele primeiro ano morando ali, não tinha aproveitado de uma atividade tão saudável na região. Na verdade lhe faltavam atividades físicas como aquela há alguns longos anos.
Parou a sua corrida ao sentir um incômodo no pé direito. Chegou a ser amparado por um casal até um ponto onde pudesse se sentar. Não soube ao certo o que lhe aconteceu. Aparentemente não havia torcido ou nada do tipo, mas o pé gritava por descanso.
Ao tirar o tênis viu uma bolha de calo assustador recém estourada.
- Uau, esse é um dos maiores que vi em tempos. Já estava aí? - Questionou a mulher assustada com o tamanho do calo na sola do pé de Benício.
- Não, não estava, acho que devo ter passado da conta.
- Talvez seja isso mesmo. Quer que eu chame um táxi pra você? Vai ser ruim caminhar com isso assim- O homem também demonstrou preocupação com o estado de Benício.
- Não será preciso, eu vou respirar um pouco e vou caminhando devagar, moro bem perto.
- Bom, você é quem sabe. Só se cuida, isso pode se infeccionar, e por favor, não retire a pele, se fizer isso se prepare pra sentir uma dor insuportável.
- Pode deixar- Ben respondeu aflito com a mesma expressão de dor que a mulher fazia ao lhe aconselhar.Benício acabou ficando por mais algum tempo ali analisando a localidade até que resolveu verificar o celular, se assustou com o horário e com mais de dez ligações de Alex. Pôde entender naquele momento a presença do calo em seu pé, havia corrido por cerca de três horas seguidas. Tentou extravasar o seu estresse e acabou passando dos limites, não queria nem imaginar o estado do outro pé, tinha impressão que não seria nada bacana, quando começou a sentir a presença de outra bolha de calo.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...