QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)

PROTEÇÃO

Benício tinha o corpo assustadoramente trêmulo ao sair do quarto de Débora e Alex, tinha feito uma descoberta dura demais nos minutos anteriores.

Pensou em como Alex se comportaria ao saber que estava sendo enganado aquele tempo todo?

Ben sabia que o carinho que o chefe tinha por Julinho (o menino que no fim das contas não era biologicamente o filho tão desejado) não mudaria em nada, o policial já havia demonstrado inúmeras vezes o profundo amor que sentia pela criança. Mas pensou que uma revelação como aquela seria uma grande crueldade com Julinho, talvez um trauma irreversível.

E se Débora se aproveitasse dessa novidade para tirar Julinho de Alex?

Decidiu que por hora guardaria aquele segredo, mas não teria nenhum tipo de piedade de Débora, faria tudo para ferrar a vida da médica dali por diante. A primeira coisa seria dar uma mãozinha para que o chefe descobrisse as suas puladas de cerca.

Benício pensou também que era necessário que Tubarão destruísse o tal seguro de vida que fazia com que a esposa malvada detivesse poderes incalculáveis. Devolveu toda a papelada ao lugar, mas antes tirou fotos de cada uma das folhas, pois sabia que com toda a certeza aquilo seria útil em algum momento.

Ainda naquela noite, após o jantar questionou ao chefe sobre o seu trabalho na polícia e os riscos que o homem corria. Queria tentar chegar ao motivo de Alex ter feito um seguro de vida com valores tão altos, e tendo colocado Débora como sua principal beneficiária. Tamanha foi a sua surpresa ao descobrir que aquilo também era uma grande mentira.

- Cara, é um trabalho de fato muito complicado, temos visto diariamente vários de nossos companheiros sendo feridos ou até mesmo mortos. Mas alguém precisa fazer isso, entende?
- Mas você não fica preocupado com a sua família, em saber que eles ficariam desamparados, sem um chefe dentro de casa.
- Eu tomo todo o tipo de precaução para isso Benício, e caso aconteça algo, tanto o Júlio quanto a Débora terão direito a uma pensão.
- Entendi, e você já pensou em algo maior como um seguro de vida? Penso que talvez fosse algo que desse maior segurança a eles, não acha?
- Tá querendo que eu morra mesmo hein rapaz- Falou brincando.
- Não mesmo- Ben respondeu com muita sinceridade, não queria, mas estava envolvido demais naquela história, e faria de tudo para livrar Alex e Julinho da armadilha que Débora estava planejando.
- Então, eu já pensei em fazer algo do tipo, a Débora insistiu muito um tempo atrás, mas eu preferi não fazer, tenho um dinheiro legal na poupança. Você pode até me achar insensível, mas sei lá, eu acho mal agouro fazer esse tipo de coisa, parece que estou atraindo mais ainda a morte pra mim.

Alex novamente sorriu, mas Benício ficou mais preocupado ainda. Débora havia feito o tal seguro de vida, sem o consentimento do marido, e segundo os recibos encontrados na pasta misteriosa, as prestações estavam sendo pagas mensalmente.

Ben sabia que Alex não estava mentindo para ele, de fato ele não possuía um seguro de vida, não que ele soubesse da existência. Débora estava arquitetando um plano cruel e o babá sabia que ela não demoraria muito até conseguir o que tanto queria.

A loira chegou a casa no dia seguinte, com um semblante muito descansado para quem teoricamente trabalhou durante toda a noite. Entrou em casa tranquilamente. Tubarão estava de serviço pela polícia, Benício possivelmente estava na faculdade, enquanto Julinho estava na creche.

Entrou no quarto e notou uma movimentação diferente. Alguém tinha dado uma faxina no cômodo, possivelmente o enxerido do babá. Sentiu um frio na espinha ao pensar que ele pudesse ter encontrado o seu esconderijo.

Andou pesadamente até o criado mudo, aquele que ficava do lado esquerdo da cama, o lado em que geralmente dormia acompanhada do traste do marido. Enfiou a mão por baixo e puxou o envelope. Suspirou aliviada ao perceber que estava tudo no lugar.