INTERAÇÕES

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Eram por volta de vinte e três horas quando Benício saiu do banheiro. Tinha tomado um banho longo e gelado para vencer o calor que fazia naquela noite.

Deixou as coisas do banho no quarto e saiu em seguida pela casa procurando um lugar adequado para fazer uma ligação, ficou roxo de vergonha ao passar pelo quarto do casal e escutar o que não gostaria. Ben pensou que ambos poderiam ser mais discretos, mas logo lembrou que o seu incomodo era sem causa, ele era o intruso ali.

Continuou sua caçada por um lugar para usar o celular sem incomodar ninguém. Viu na varanda o espaço perfeito, uma rede esticada, deitou-se nela, e tentou sentir a brisa da noite, mas o que sentiu foi a secura do clima, não existia vento naquele dia. Rapidamente se incomodou também com a presença dos mosquitos. Não teria muito tempo para fazer o que queria.

Viu que possuía algumas mensagens de texto de Allan, Tereza e do grupo da turma da faculdade, mas não havia nada da sua irmã. Era o segundo dia seguido sem falar com ela desde que se mudou para o Rio, resolveu então ele mesmo ligar.

O telefone chamou diversas vezes e ninguém atendeu, tentou mais uma vez e novamente ninguém correspondia, foi na terceira vez que o telefone foi atendido, mas não era sua irmã do outro lado da linha, a voz era de um homem, era Fred quem falava.

- Oi Ben, como vai?
- Tudo tranquilo Fred, eu quero falar com a Berê, ela pode atender?
- Sua irmã já está dormindo, na verdade quando cheguei do trabalho ela já estava assim. É só com ela?
- Sim, na verdade só estava preocupado com o sumiço dela, mas falo com ela amanhã cedo. De qualquer forma obrigado, boa noite.
- Ben, Ben, Ben- Fred não deixou Benício desligar.
- Oi Fred
- É que... eu não esqueci de você.
- Eu também não esqueci de "vocês", minha única família.
- Ben, eu não queria...
- Fred por favor, acho que não temos mais nada pra falar. Boa noite- E desligou o celular.

Benício não tinha interesse em ouvir nada de Fred, quem o cunhado pensava que era para surgir depois de um mês e meio falando aquilo. Não, ele não bagunçaria mais a sua cabeça.

Para esquecer aquela conversa foi tentar se distrair lendo as mensagens que tinha recebido. Do grupo da faculdade nada de novo, quanto a Tereza também, a amiga falava mais uma vez sobre o casamento. Agora quanto a Allan, Benício preferiu deixar o melhor por último, ainda tinha a cena dos dois se pegando na casa do tal amigo. Sabia que existia muita química entre os dois, juntos eram inflamáveis.

- Roceiro, que vontade de você. Pensei duas vezes em não tomar banho para não perder esse seu cheirinho de bosta de cavalo.

Benício pensou que deveria ficar puto com aquele comentário, mas se viu rindo antes disso.

- Porra. Bosta de cavalo? O respeito acabou não é Allan?

Ben pensou que numa sexta-feira a noite Allan não visualizaria sua mensagem tão cedo, mas se enganou, em menos de um minuto lá estava a resposta dele.

- Que isso da roça, nunca te desrespeitei. Qual o problema com a pobre merda do cavalo? Eu amo meus amigos equinos.
- Pois eu digo que você parece e muito com eles, principalmente com essa sua ferradura distribuindo coice para tudo que é lado.
- Roceiro eu sou muito mais parecido com cavalos do que você pensa. Você também além do cheiro tem outra característica.
- Vá se fuder Allan, eu não tenho cheiro porra nenhuma de bosta de cavalo. Que outra característica é essa?
- É melhor você não saber.
- Pois agora conta seu babaca.
- Eu amo te deixar curioso seu roceiro, e queria muito ver sua cara agora com raiva de mim.
- Fala logo porra.
- Você que pediu. Penso sempre nos cavalos quando estou dirigindo ou pilotando minha moto em alta velocidade. Saca? Cavalos de potência- Allan percebeu que a tentativa de piada tinha sido muito frustada, então resolveu apelar- A outra característica é que temos uma parte do corpo muito semelhante. Antes de você perguntar o que é, eu te digo, sim, é o que você está pensando.

Ben resolveu não cair na pilha de Allan e devolveu com a mesma moeda.

- Bom, eu já tinha imaginado que você tinha o rabo peludo.

Allan riu alto com a tirada do rapaz.

- Que isso roceiro? Gostei dessa reciprocidade de humor aí. É melhor continuar achando que é isso mesmo, quero ver sua cara de assustado quando ver pessoalmente do que estou falando. Agora quanto a sua característica com o cavalo não vou pegar leve não.
- O que é? Seu cretino.
- É que eu tenho certeza que essa bunda é tão boa de montar em cima quanto a de um.
- Você é tão ridículo. Chega por hoje, vou dormir porque tu já bateu sua cota de palhaçada.
- Boa noite roceiro, não vejo a hora de te encontrar novamente.
- Pra você sentir meu cheiro de bosta de cavalo?
- Não, pra sentir o teu corpo tão preso ao meu como mais cedo, na próxima vez eu não respondo por mim.
- Sem próxima vez, eu não quero mais assunto contigo. Seu troglodita.
- Nem eu quero assunto contigo, meu interesse como já deixei claro é outro.
- Boa noite Allan.
- Boa noite da roça.

Ben seguiu até seu quarto, não sentia sono nenhum, mas acabou depois de muitas reviravoltas na cama dormindo. O dia seguinte seria um sábado, não teria que acordar tão cedo para a faculdade, também não teria que levar Julinho para a creche. Gostaria de saber a rotina da família, mas Débora não deu o ar da graça no jantar, e ele teria que ficar no escuro.

Ainda naquela madrugada despertou com um barulho na casa, aproveitou e acordou Julinho para levá-lo ao banheiro, por sorte ele ainda não havia feito xixi na cama. Foi difícil, praticamente impossível acordar o menino, mas arrastou o pequeno zumbi até o vaso sanitário, se ele não tivesse feito isso certamente o garoto iria inundar a cama.

Ajudou o menino a lavar as mãos e tomou um susto quando ia saindo e viu ele, aquele homem imenso, novamente sem camisa, apenas com um short acompanhando sua saga.

- Está tudo bem?
- Está sim, acordei com um barulho e resolvi colocá-lo para fazer xixi, ontem ele tinha feito na cama. Então prometi para ele que não deixaria isso acontecer mais.
- Entendi, e ele conseguiu fazer.
- E muito, o colchão hoje iria sofrer.
- Eu não sei mais o que fazer, meu irmão mais novo era assim, eu tinha que dormir na beliche de cima, porque senão chovia mijo em mim a noite. Isso foi até uns oito anos.
- Isso acontece, tenho um amigo que até hoje acho que ainda rola- Se lembrou de Pedro e o fatídico dia que dormiu em sua casa e molhou todo o seu colchão.
- Sério isso?
- Sim, mas com relação ao Julinho vou tentando ajudá-lo, ele com o tempo vai começar a acordar sozinho, eu espero- O menino dormia em pé, enquanto os dois conversavam.
- Deixa eu te ajudar com esse rapaz aqui- O pai pegou o menino no colo e o levou para a cama, era impossível Benício ficar indiferente a visão que aquele homem tão pouco vestido proporcionava.
- Obrigado, e o Senhor, quer dizer o que faz acordado?
- Eu tenho que confessar que fui assaltar a geladeira e comer mais pudim- E sorriu- Estava indo escovar os dentes quando encontrei vocês.
- Entendi, deixa eu fazer uma pergunta, qual é a rotina de amanhã, a dona Débora não disse nada.
- Ela amanhã sai para trabalhar logo cedo, só volta no domingo pela manhã, eu pego no serviço depois do almoço e chego já bem tarde. No domingo eu sempre estou em casa, Débora está dependendo do plantão.
- Entendi, então amanhã ficamos aqui o dia todo? - Falou decepcionado em ter que deixar o menino preso dentro de casa por tanto tempo.
- Deixa eu pensar, aqui na frente tem uma praça, você pode levar o Júlio por lá, pode levar também para tomar açaí, ele se amarra. Vou deixar um dinheiro com você antes de sair.
- Beleza então, farei isso. Você almoça em casa?
- Rapaz, não deveria após tudo o que comi hoje, mas se você fizer eu não vou resistir.
- Fica tranquilo, vou fazer alguma coisa mais leve.
- Boa noite então.
- Boa noite Alex.

Mais uma vez Alex percebeu aquele rapaz o chamando pelo nome, isso o incomodava, não porque não gostava do nome, mas pelo fato de ninguém fazer isso há muito tempo. Novamente resolveu deixar isso passar, seguiu ao banheiro para escovar o dente e depois foi dormir.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora