SOBREVIVER

2.5K 333 76
                                    


Havia passado uma semana desde a quinta-feira em que Benício começou a trabalhar na casa de Débora e Tubarão. Nesse período ele teve a oportunidade de se ligar ainda mais ao menino Júlio, não foram poucas as brincadeiras entre os dois.

O riso solto do menino era sempre contagiante, a principal diferença entre Julinho e Rosa era que o menino era muito mais elétrico, deixando Ben na maioria das vezes exausto.

Nessa primeira semana o menino não voltou a fazer xixi na cama, uma conquista comemorada com sorvete de açaí, algo que Benício também começou a apreciar desde que chegou na casa.

Com relação aos patrões, estranhamente teve pouco contato com a mulher de Tubarão, quando ela não estava enfiada no quarto, estava ocupada com o seu trabalho, o contato entre os dois era estritamente profissional, quando ela surgia perguntando como estavam as coisas e se ele precisava de algo.

Algo que Benício notava de diferente nas aparições da patroa era que Julinho se fechava muito quando a mãe estava por perto, diferente da festa que fazia quando o pai surgia.

Com o pai, Ben teve mais contato, nos dias em que não estava de serviço na polícia, Tubarão sempre almoçava e jantava em casa. O rapaz continuou caprichando nos cardápios e sempre que tinha um tempo extra fazia uma sobremesa para a sua nova família.

Se sobrava tempo para a sobremesa, faltava e muito para encontrar Allan e dar continuidade ao lance dos dois. Se viram apenas duas vezes nesse período, com Benício sempre correndo para não atrasar o trabalho na casa. Acabavam sempre se falando por mensagens, com o troglodita não perdendo nenhuma oportunidade de seduzir o rapaz do interior. Ben começava a perceber que aquilo tudo não passaria de uma grande amizade, mas bastava encontrar com Allan para perceber que a química entre os dois facilmente poderia criar um novo elemento bastante inflamável na tabela periódica.

Naquela tarde após a aula com Cadu, Ben seguiu até a escola e encontrou Julinho chorando, o menino havia recebido uma bronca por ter rasgado o seu trabalho. O babá tentou procurar a professora para entender o que tinha acontecido, achou que a mulher poderia ter exagerado na situação, sabia que Julinho não faria algo assim por mal comportamento.

Ficou surpreso ao receber da tal professora a atividade do menino, era a reprodução das famílias das crianças, pais, mães e a própria criança no meio de tudo aquilo, os que tinham irmãos ganhavam um desenho diferente. A mulher mostrou os desenhos das demais crianças e o do menino, que tinha apenas o seu pai e ele pintados com giz de cera, a parte que representava a mãe havia sido cortada e picotada por Julinho.

Ben, saiu da sala e encontrou a criança ainda soluçando e o levou para casa.

- Você já pode parar de chorar, viu eu nem estou brigando com você.

O menino continuou em silêncio.

- Eu sei que você não fez por mal, eu imagino que não tenha dado tempo de pintar tudo e quis mostrar apenas a parte colorida para a professora. Na próxima vez você terá tempo de pintar tudo. Talvez eu tivesse feito o mesmo que você- Falou tentando animar o menino, mas o resultado não veio.

- Tio Ben- Falou baixinho quando já estavam no portão da casa.
- Oi meu amigo.
- O senhor promete nunca ir embora, nunca me deixar sozinho.
- Um dia talvez eu tenha que ir embora- Preferiu ser sincero- mas sozinho eu tenho certeza que você nunca vai ficar. Eu vou estar sempre no seu coração, assim como você no meu. Entendeu?
- Sim, eu te amo.

Ben não esperava aquela frase saindo tão cedo da boca do menino, seus olhos encheram de água, ele sabia que o ataque de fúria que o menino teve na escola mais cedo, assustando todas as outras crianças e a própria professora, tinha algo relacionado com a mãe, não era a primeira vez que percebia que ele mudava quando ouvia o tio Ben falando sobre Débora.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora