O TEMPO (CAPÍTULO ESPECIAL)

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Janeiro chegava ao final deixando uma única lembrança a população carioca, um calor insuportável e sem trégua. Durante todo o mês pouquíssimas regiões do Estado tinham visto a cor da chuva. Na verdade até nesses lugares o que se viu foram momentos de garoa. Na maioria das vezes, no fim do dia se apresentava a promessa de uma forte tempestade, mas que acabava se encerrando antes mesmo de iniciar. Com essa onda de calor o que acabou se vendo foi uma forte campanha em todas as plataformas de mídia para a economia de água, tendo em vista que muitas reservatórios já operavam em seu limite.

Era quase o horário do almoço de uma segunda-feira quando de todos os cômodos da casa dava para se escutar o gritos de Benício ao telefone.

- Mas Delegado Valente, o senhor me prometeu agilidade nesse caso. Já faz um mês e nada da Débora ser presa, como que depois de tanto tempo o senhor não tem nem ideia do paradeiro dela.
- Benício tenta se acalmar, o Tubarão está bem, não está? Tudo se resolverá no tempo certo, temos uma linha de investigação, mas nada é concreto ainda. Fomos a casa dos pais dela em São Paulo, mas a mãe se recusa a dizer onde a filha está, acreditamos que talvez ela já esteja fora do país, vivendo na Europa com alguns conhecidos, mas são apenas possibilidades e não podemos trabalhar com isso. Vamos seguir trabalhando e você trate de se acalmar, o Tubarão é um cara esperto, e tem ainda muita vida.
- Delegado, eu conheço aquela mulher e sei do que ela é capaz. Não quero nem imaginar o que ela pode fazer com ele se tiver uma oportunidade.
- É importante que todos mantenham a calma, não vamos sofrer por antecipação, acreditamos que Débora não vá aparecer por esses lados tão cedo. Ela é vaidosa, não vai arriscar a própria pele. Vamos agora tentar correr atrás desse amante que você falou, talvez o tal médico tenha alguma informação.
- Tudo bem, mas por favor tenta correr com isso. Eu não tô conseguindo dormir direito faz um mês, pensando no que pode acontecer, não só com ele, mas todos nós.
- Eu vou continuar meu trabalho Benício, e novamente, tenta se acalmar.

Benício estava a cada dia mais impaciente com a falta de solução do acidente de Tubarão, era verdade que no último mês tivera diversos pesadelos com a figura de Débora aparecendo e fazendo das suas maldades contra Julinho ou os demais componentes da família. Não conseguia imaginar como era possível que a médica tivesse chegado aquele ponto em tão pouco tempo de convivência, estava completamente desequilibrada.

Mas algo nos últimos dias fez com que o botão de estresse do babá e de Fatinha ficassem no modo mais grave. Acontece que Tubarão, um dia após a alta apareceu pilotando a sua motocicleta na casa da mãe. Pra piorar a situação, durante as noites seguintes o policial saiu pilotando o veículo para festinhas as quais era convidado. O que fazia com que uma irritação generalizada tomasse conta da casa. Fatinha assumiu o papel de mãe acusando a irresponsabilidade do filho por voltar a pilotar o perigoso veículo logo após o acidente, já Benício por sua vez quebrou em definitivo todo o contato com o homem, na madrugada em que viu Alex chegando completamente bêbado em casa.

O policial ainda o encarou, tentou falar alguma coisa, mas foi direto para o quarto. Ben desde então, amaldiçoou o dia em que se apaixonou por um cara tão lesado e irresponsável como Alex.

Já Julinho seguia no meio do furacão, tentava entender o porquê do pai ser tão cabeça dura, mas não apoiava a forma como Fatinha brigava com o filho, nem mesmo o fato de Ben não dar ouvidos quando o seu pai falava com ele.

- Por que o senhor não vai com o carro?
- Porque é mais chato de encontrar vaga de estacionamento, o papai tá bem filho, e o papai vai continuar bem. Que tal um futebol no sábado que vem hein.
- Eu não gosto que fiquem brigando com você.
- Eu também não gosto, mas a sua vó é uma chata, ela vai brigar comigo por qualquer coisa. Já o Benício ele faz isso porque, sei lá porque.
- Porque ele te ama papai.
- É, deve ser por isso aí, mas todos amam, todos brigam e todos me abandonam.
- O Ben não te abandona. Ele não vai embora não é papai?
- Eu não sei muleque, eu acho que ele já me aguentou tempo até demais. O seu pai é um problemão, é muito difícil que alguém aguente ele, não vê sua mãe, ela também não me aguentou.
- Porque ela é uma bruxa má.
- É talvez ela seja uma mesmo.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora