FIREWORK

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O som era típico de um cenário de guerra. Uma estrondosa barulheira vindo de algum lugar muito próximo invadia aquele ambiente. Foi tudo muito de repente, uma sequência de pipocos, acompanhados de uma assustadora bomba e finalizada por um barulhinho estridente, como se fosse um chorinho de tristeza.

Foi com essa sinfonia que Benício despertou do seu até então cochilo da tarde com o coração disparado e tímpanos danificados. O rapaz ficou estático por alguns segundos, estava meio atordoado tentando entender o que havia acontecido, não conseguia fazer a distinção de tempo e espaço, não sabia se aquela era uma segunda ou sexta-feira, tão pouco sabia onde de fato estava.

De repente uma nova sequência do mesmo barulhão veio de um ambiente externo ao que estava. Um forte clarão fez com que reconhecesse o local, era a casa dos Falconi, logo percebeu também que não estava presenciando nenhuma guerra e sim uma tradição típica do réveillon carioca, a queima de fogos de artifício.

Lembrou rapidamente de sua cidade natal, onde fogos de artifício eram raridades, um atrativo para a população visto apenas nos desfiles cívicos de sete de setembro, no restante do ano era um luxo que somente os mais endinheirados que moravam nas regiões mais nobres possuíam, dessa forma, o jovem rapaz escutava os famosos fogos da mesma maneira que escutaria o som mais distante num exame de audiometria. Não sabia se de fato eram fogos ou uma impressão da sua cabeça, mas ali não, ali eram fogos de verdade, fogos possivelmente vindos da casa dos vizinhos do lado, dado a proximidade do som.

A casa estava completamente escura, o babá estava ensopado de suor e agora percebia o zunido dos mosquitos em seu ouvido, era uma noite quente do verão carioca.

Ben começou a recobrar a consciência, se lembrou qual dia era aquele, e percebeu que o seu cochilo acabou se transformando num gostoso sono.

O estresse da última semana, havia deixado o seu corpo em cacos, não era de se surpreender que ele tivesse praticamente desmaiado no sofá da sala da casa do patrão.

Se revirou mais um pouco, deu uma forte espreguiçada, uma que fez doer a sua nuca de tanta pressão que colocou. Talvez mais cinco minutinhos de sono não fossem uma má ideia, isso é claro se os vizinhos ajudassem. Antes disso pegou o celular, e foi nesse instante que deu um pulo do sofá, caindo em seguida assustado no carpete da sala, já passavam das dez da noite, o novo ano estava quase iniciando e ele havia praticamente hibernado.

Suspirou ao perceber que por sorte o celular ainda possuía um por cento de sua bateria, Ben tinha a convicção de que se não tivesse visto o horário naquele instante, teria dormido até o nascer do Sol do novo ano. O que não seria uma má ideia dado ao seu cansaço, mas tinha um compromisso com Allan, e os amigos da faculdade, assistir a queima de fogos reunidos em alguma praia da cidade. Na realidade até a tarde daquele dia ainda existia uma indefinição se iriam para Copacabana ou ficariam pelo Aterro do Flamengo. Só saberia a resposta quando Allan chegasse.

Olhou novamente o visor do celular de Allan, eram dele as doze ligações perdidas, por certo o namorado estava ansioso para a noite. O motivo acabou embrulhando o estômago de Benício. Era naquela noite que ele deveria tomar uma decisão acerca do relacionamento com o brutamontes.

Ben colocou o celular para carregar e correu depressa para o banheiro, era urgente que agilizasse o banho, mas acabou tendo um último imprevisto de fim de ano, o seu corpo rejeitava carregar coisas inúteis para o novo ano, o rapaz entendendo que não poderia brigar com a natureza sentou na privada em cólicas e fez o que tinha que fazer.

Em seguida ainda sonolento correu até o chuveiro e tomou um banho caprichado, era o último do ano, tinha que ser muito especial, escovou os dentes por ali mesmo.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora