QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)

DESNUDE

Nenhum dos dois conseguiu calcular o tempo exato que durou aquele beijo, talvez centésimos de segundos, talvez os segundos completos, talvez tenha passado minutos, horas, ou mesmo tenham alcançado a eternidade.

Apenas o que sabiam era que aquela era a melhor sensação de suas vidas, era tudo muito lindo, aguardado com ansiedade, mas ao mesmo tempo ocorrendo de forma inesperada.

A atitude de Alex foi surpreendente ao jovem babá, em nenhum dos seus sonhos mais otimistas ele conseguiria imaginar que seria tão fácil alcançar aquele momento apoteótico. Ainda dentro do táxi, poucos minutos atrás imaginava como poderia demonstrar ao policial os seus sentimentos sem sair ferido física e emocionalmente, e agora estavam ali, num beijo inesquecível.

A pele de Tubarão tinha uma certa oleosidade, algo que Ben pôde sentir ao tocar o rosto do policial enquanto beijava os seus lábios. A temperatura era agradável naquele início de madrugada, o clima seco, contudo a troca de salivas fazia cessar toda a inquietação que poderiam estar sentindo, bebiam um nos lábios do outro, matando uma sede atemporal.

O policial fazia isso com mais intensidade, não por ser mais experiente em beijos, mas pelo prazer da descoberta, pela sua rebelião interna, pela vitória contra o seu próprio eu.

Para Benício "diferente", talvez fosse a expressão que definisse o que sentia, Alex beijava bem, seus pêlos crescendo na barba e bigode davam um toque especial ao momento. Seu gosto era intenso, um pouco ácido, com breves momentos mesclando entre doce e salgado.

Mas era sim diferente, tudo muito diferente do que ele poderia ter pensado, não o gosto em si, mas a situação. Era estranho, ao mesmo tempo confuso, Alex o hétero mais convicto que conheceu em toda a sua vida, havia o beijado, ou melhor estava o beijando, e não era um beijo forçado por nenhuma circunstância, era um beijo que demonstrava desejo, entrega, talvez paixão, no mínimo espera, a mesma espera que ele teve por tanto tempo.

Mas o que havia feito com que o policial mudasse de ideia? Até pouco tempo atrás ele detestava gays, fazia piada ou comentários homofóbicos envolvendo os mesmos e agora estava ali se deliciando num beijo de final de novela.

As respostas não vieram, mas a racionalização do babá acabou por esfriar o clima, desacelerando a tensão na sacada do prédio. Logo não estavam mais em outro lugar do universo, estavam ali, no hospital, ouvindo a gritaria do lado de fora e o barulho dos fogos. Perceberam que o carro com o som alto já não estava mais por perto, seguiram com os rostos colados, com os corações mais acelerados que nunca.

Se soltaram de uma única vez, logo se encararam assustados, talvez culpados, esperaram que a resposta ou justificativa por aquilo viesse do outro, mas não veio. Ficaram ali estatalados, com os lábios ainda dormentes, comprovando que aquilo foi real.

Ben não sabia o que fazer dali pra frente, talvez fosse mais fácil pular da sacada e encarar o chão ali embaixo do que continuar fitando Alex por mais cinco segundos.

Para o policial a situação era um tanto distinta, por mais que sua fisionomia não expressasse, a sua alma sorria. Ele havia se libertado de seus fantasmas, ou começado o processo da libertação, tinha agido como um verdadeiro homem, era isso, não se sentia menos homem após o beijo, muito pelo contrário se sentia normal, apenas com muito mais desejo de possuir os lábios de Benício mais uma vez aquela noite.

Ia sendo movido por essa iniciativa quando acabou sofrendo uma forte tontura. Um novo beijo acabou não vindo, não teve forças pra isso, sentiu seu corpo ser amparado por Benício, e despertou com Benício sacudindo seu rosto, havia sido colocado na cama com dificuldade, o babá teve que fazer uma força descomunal para aguentar tamanho peso. Foi desesperador para o rapaz ter que carregar tantos músculos sem cair no chão, se sentia carregando uma peça rara, que caso tivesse uma queda e se quebrasse acabaria gerando uma perda inestimável.