Alex entrou no seu escritório falando aos berros, gritava com um dos fornecedores da Fire, mostrando que toda aquela reação amigável de minutos atrás havia desaparecido. Luciano acompanhava Alex feito um sanguessuga quando notou a presença de Benício já dentro do espaço, olhou o rapaz de cima a baixo como se olhasse um berne, Ben por sua vez não se intimidou, o olhou com desprezo desencorajando qualquer comentário maldoso que Luciano pudesse sacar.
Ficaram assim se medindo, mostrando que garras não lhe faltariam pra esganar um ao outro.
Foram interrompidos do duelo por um pigarro dramático de Alex, que aquela altura tinha como objetivo apagar aquele climão.
Luciano chegou a ensaiar ir pra sua mesa, mas foi acompanhado atento por Benício e Alex. Sentiu naquele mesmo momento que por mais que fosse dono de cinquenta por cento daquela sala, estava sobrando ali. Saiu fingindo orgulho, irritado, mas com a cabeça erguida, sem permitir que o babá se sentisse por cima. Sabia que mais dia ou menos dia Benício sumiria do seu caminho, fosse por bem ou por mal.
Dentro da sala Alex passou a ligar o próprio computador e digitar no teclado frenéticamente, jamais passaria pela cabeça de Benício, que o policial pudesse ter tanta habilidade com aquelas pequenas teclas. Alex diferente dele usava quase todos os dedos pra digitar, o que era assombroso tendo em vista que cada dedo dele ocupava quase duas teclas. Naquela altura o dono da Fire possivelmente escrevia algum e-mail longo quando olhou Ben por rabo de olho. Foi o babá que quebrou o silêncio.
- Problemas?
- Alguns, por que? - O policial devolveu o questionamento de forma serena o que fazia com que o babá ficasse ainda mais inseguro.
- Você estava aí aos berros.
- Ah cara, é que o carnaval está as portas, é uma empresa que tá pra fazer uns abadás pro nosso bloco, disse que vai atrasar a entrega.
- E temos um bloco?
- Sim, faz uns três anos. Aqui a academia fica bem movimentada nesse período. Claro que muita gente viaja, mas rola um bloco nosso no domingo a tarde, e na sexta-feira antes do carnaval sempre damos um baile a fantasia. Devia ver na internet, ano passado bombou.
- Baile aqui mesmo?
- Sim senhor, mobilizamos os aparelhos pra outros espaços e usamos o salão, fica maior pista de dança. Se você for lá na recepção certamente vai ver o pessoal vendendo ingresso pro baile e abadá para o bloco. A galera tá vendendo desesperada tão ganhando dez por cento da venda.
- Então isso é importante, você não é o tipo de cara que parece dar muito desconto.
- E não sou, sou bem pão duro mesmo, mas esse tipo de atividade acaba criando um vínculo entre nossos clientes e a academia, é uma estratégia pra fidelizar a galera.
- Entendi, lá na minha cidade tem um bloquinho, a banda marcial toca, e tem umas percussões - Alex olhou pra Benício com estranheza, desmotivando o rapaz a repartir o relato saudosista- É claro que não se compara com nada aqui.Um novo silêncio surgiu na sala. Alex seguia digitando loucamente o seu teclado. Benício passou a achar que talvez o policial não tivesse visto a tal cena com Raí, ou talvez estivesse fingindo que não, preferiu puxar o assunto pra sair o peso da culpa que carregava nas costas.
- Alex, eu quero te pedir desculpa pelo que você viu mais cedo, lá com o Raí, eu juro que não dei confiança pra esse tipo de brincadeira.
- Relaxa, homem é assim.
- Como?
- Homem é assim, faz essas brincadeiras mesmo.
- Você tá falando sério? Ele deu um tapa na minha bunda.
- E você tá lembrando disso porquê? Por acaso tá querendo uma confusão por causa disso? Quer que eu chame ele aqui e o demita, ou arrebente ele na porrada?
- Claro que não, eu mesmo o defenderia se fizesse isso.
- Então...
- Então o que?
- Você defenderia ele, pra que quer então se desculpar de algo que teoricamente ele é inocente, afinal de contas foi só um tapa.
- Eu não disse que ele é inocente, ele foi idiota, mas não acho que tenha feito com duplo sentido, foi uma brincadeira tosca.
- Tô ligado, não deve ter feito, logo não entendo porque você tá insistindo nisso - O policial falou compenetrado no computador, revisando o texto.
- Porque estamos juntos, e isso é o tipo de coisa que ninguém gosta de ver acontecendo com o seu parceiro.
- É, ninguém gosta, mas fazer o que, tenho que lidar com a ideia de que você tem essa bunda toda aí. Mas agora sendo sincero, acho que você tá valorizando isso mais do que devia.
- Então tá, eu devo tá mesmo.
- Mas para o seu conhecimento essas aulas param hoje.
- Tá vendo, você tá puto e não quer admitir.
- Cara eu juro pra tu, não tô com ciúmes, porque em cima do coroa do Raí eu me garanto. Mas não foi um tapinha de amizade, o tapa foi estalado, estalado porra, na sacanagem. Tô meio puto não de ciúmes, mas por achar a parada um abuso. Mas é o que eu digo, fazer o que?
- Como assim?
- Ele pode não ter feito com intenção errada, mas assim na vida vai ter um monte de marmanjo de olho gordo em tu. E o pior de tudo, você é um cara super carismático, e geral acha que tá dando condição.
- Eu não tô dando condição pra ninguém.
- Tô ligado, mas as vezes pode parecer.
- Sinto muito, mas não vou mudar meu jeito só porque as pessoas confundem
- Não disse que é pra mudar, pra mim tudo bem
- Então, tá bom, é isso, só não queria te deixar mal por isso.
- Relaxa, é minha maldição. Se eu não quisesse que olhassem teria que te largar ou teria que torcer pra você perder metade dela, e isso eu não quero mesmo, quero ela assim, redonda e sempre linda - Falou isso finalmente enviando o e-mail.
- Então tá legal.
- Mas uma pergunta séria, eu não deveria me preocupar com o Raí mesmo né? Sei lá, eu sou bem mais velho que tu, vai que curta um tiozão.
- Então, eu acho ele bem bacana.
- Bacana no sentido de ser legal ou de te atrair?
- Bacana no meio termo disso aí, ser um cara bonito, que você admira, mas você é bem mais, nunca te trocaria por ele.
- Sei, mas eu nem te perguntei isso?
- Isso o que Alex?
- Se me trocaria por ele, você que tá se abrindo demais.
- Você tá viajando novamente.
- Não é isso, é que se você chegou a essa conclusão, possivelmente analisou a implicação.
- Alex, mesmo se tivesse feito esse cálculo lógico, jamais te deixaria. Tem noção de tudo que passamos pra chegar aqui.
- Tenho, e isso faz com que eu fique de fato tranquilo com relação a situação do Raí, pelo menos em cinquenta porcento das partes.
- Como assim em cinquenta porcento, e o resto?
- É que cinquenta porcento é pela nossa história, e os outros cinquenta é porque eu sou gostoso pra caralho, tu não me trocaria por um tiozão, eu me garanto porra.
- Sei não hein, você já já será um tiozão. Seguindo isso aí, nosso relacionamento tem prazo de validade.
- Nunca, sou conservado porra, quando tiver cinquenta, vagabundo vai achar que ainda tô com quarenta.
- Convencido, mas a única coisa que envelhece o Raí é o cabelo, no mais ele tá muito bem. Corpo dos sonhos.
- Eu só espero que esse seu sonho seja do corpo que quer construír, não corpo que quer te pegando.
- Você fala como se ele curtisse.
- Existem fofocas por aí dizendo que curte na encolha. Foi com ele que o Allan estava saindo, segundo as más línguas.
- E desde quando você dá valor pra fofocas Alex. Se bem que vindo do Allan eu não me surpreendo com mais nada. Pelo menos tem bom gosto.
- Porra, já deu não é Benício. Já deu dessa conversa toda e já deu de Raí também, se eu soubesse teria te colocado pra treinar com o Thomaz.
- Pois eu concordo contigo.
- Treinar com o Thomaz? Conta outra.
- Não poxa, sobre o Raí, acho que ele não merece que percamos nosso tempo falando dele.
- Eu também acho.
- Então é isso, tá bem, agora, eu acho que tô indo nessa. Espero que esse seu jeito tranquilão não mude de uma hora pra outra, porque eu detesto ficar discutindo assuntos encerrados.
- Da minha parte estará encerrado se concordar em parar com essas aulas.
- Concordo em parar, mas não vou fazer isso pra te dar razão, vou fazer porque pra mim não acrescentou muita coisa. Apenas agarração nesse calor insuportável.
- Certo, então estamos fechados.
- Por mim sim, vou lá então.
- Contudo, o senhor não está liberado ainda.
- Como assim não estou liberado? Tá precisando de alguma coisa? Eu poderia de alguma maneira ajudar o meu executivo favorito? Todo bonitinho compenetrado no trabalho dele.
- Pode sim - Alex falou sorrindo e em seguida mudando o semblante - já que tirou minha concentração no trabalho abaixa o short.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...