INTRUSO

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Tubarão acabou por aceitar as insistentes cobranças de Fatinha para que ficasse hospedado em sua casa durante os dias seguintes. O almoço de boas vindas ao policial, na residência da matriarca dos Falconi acabou por ser celebrado com uma churrascada e muita bebida. Obviamente o filho do meio de Fatinha teve que se limitar a sua dieta de recém saído do hospital, mas isso não foi motivo para que não se sentisse extremamente lisonjeado com os inúmeros amigos da Fire que apareceram ao longo do dia para lhe dar um abraço.

O abraço na verdade não aconteceu, cinquenta por cento do seu corpo seguia imobilizado com gesso, mas os cumprimentos vinham de maneiras distintas.

- Que susto você nos deu Tubarão.
- Eu já sabia, vaso ruim não quebra.
- Tá ótimo mano, tu todo fudido aí, tá com a aparência melhor que a minha.

Esses e muitos outros foram comentários surgidos de vários cantos da casa da querida mãe, nesse caso por mais que parecesse, não era a casa da mãe Joana, e sim da mãe Fatinha.

O calor do ninho, foi um dos fatores que fez com que aceitasse o pedido da sua velha, se sentia aquecido com o amor de toda a sua família, sabia que por mais que não tivesse o conforto e privacidade do seu lar, era ali que poderia contar com o amor recíproco dos seus.

Esse sentimento só não foi completo após experimentar um olhar severo vindo por parte de Allan para ele. Não entendeu a expressão do irmão, afinal de contas era ele quem tinha motivos, não poucos na verdade, para o olhar com aquela expressão raivosa. Mas deixou estar, logo o caçula de Fatinha já havia sumido de vista, aparentemente passou boa parte do dia trancado sozinho dentro do quarto. Alex pode constatar isso ao buscar contato visual com Benício de cinco em cinco minutos, o babá do filho esteve presente durante todo o tempo ao seu lado, inclusive o alertando sobre as horas em que deveria se medicar.

Ben acabou também aceitando o convite de Fatinha para permanecer em sua casa, lembrou sobre o estado do quarto em que dividia com Julinho e que carecia de uma reforma após o desabamento do teto. Explicou que a casa precisava de um banho de sal grosso pra sair toda o mal olhado que estava lá.

O grande impedimento para Benício em aceitar o convite da agora ex sogra, era a conversa que mais cedo ou mais tarde teria que ter com Allan. O grandalhão a propósito esteve presente durante parte do almoço, mas fez questão de o ignorar, Ben preferiu não invadir o espaço do jovem naquele momento, mas sabia que isso não duraria por muito tempo, e de fato não durou, ainda naquela madrugada o brutamontes entraria no quarto do rapaz para uma conversa definitiva.

A primeira noite do ano chegava perto do fim. Um calor um tanto quanto insuportável fazia com que Tubarão se sentisse sufocado com todo aquele gesso e ataduras. Seria um verão daqueles, e o dia seguinte seria de Sol, constatou isso, ao ouvir o som vindo de uma cigarra possivelmente perdida pelo quintal da mãe. Sentiu o desejo de caçar o bicho e fazer com que se calasse o mais breve possível.

A movimentação no reduto dos Falconi começou a diminuir, com o tempo, restaram apenas os hóspedes de Fatinha. Os três filhos, o genro Markus, o neto Julinho e Benício, mas uma visita um tanto inesperada e por certo indesejada por boa parte dos habitantes daquele local acabou por trazer uma certa apreensão.

Foi Fatinha que atendeu Luciano a porta.

- Boa noite, a que devo a honra de sua visita em minha casa tão tarde. O discurso da matriarca dos Falconi, tinha um tom de ironia, Fatinha deixou bem marcada a sua última palavra, dando ênfase para que Luciano entendesse que de fato era muito tarde.
- Boa noite dona Fatinha, cadê o meu parceirão? - O sócio dos negócios de Tubarão se fez de desentendido, passou pela porta sem ao menos ser convidado e invadiu a sala procurando o policial por toda a parte.
- Eu imagino que você saiba o que aconteceu com o meu filho nos últimos dias, certo?
- Sim, é claro que fiquei sabendo, foi um misto de horror, agora de alegria é claro.
- Que bom, todos estamos alegres, mas também imagino que você entenda que o estado do meu filho ainda carece de cuidados.
- É claro que sim, minha senhora.
- Sabendo disso, eu tenho certeza que vai entender que esse não é horário para visitá-lo, meu filho já se encontra deitado, talvez dormindo, não é uma boa hora, ele precisa regularizar o sono para que a medicação faça efeito e logo ele esteja cem por cento- Fatinha falava com Luciano com uma naturalidade invejável, no fundo ela nutria um sentimento muito estranho pelo rapaz que acompanhou o filho por muito tempo, uma certeza ela tinha, o sócio do filho não era de confiança.
- Eu realmente entendo senhora, mas...
- Não tem mais Luciano, volte amanhã cedo, a tarde, ou outro dia. Tenho certeza que meu filho estará com uma disposição invejável para te receber. Afinal de contas ele está perto de quem o ama, e vai defender a vida dele de tudo e de todos- Fatinha, não sabia ao certo o porque daquela última frase, falou com o coração, mas percebeu que Luciano havia sido atingido. Os olhos do rapaz quase que saíram para fora com aquelas palavras, era um brilho de espanto, ao mesmo tempo muito investigador.
- Tudo bem minha senhora, vou seguir o seu conselho.
- Obrigado pela compreensão, vá pela sombra querido.
- Deixe um abraço meu por favor.
- Pode deixar que deixarei sim, bem apertado.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora