LATARIA

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- Olha papai, o Tio Ben caiu de bunda- O menino berrou cerca de cem metros a frente, não controlando uma crise de risos ao ver Benício despencar de um patins.

Alex acabou disfarçando o sorriso, não queria que o estressado babá o visse debochando de sua cara. O policial sabia que o tratamento áspero que vinha recebendo de Benício tinha uma justificativa muito plausível, dias atrás ele tinha caído da mesma forma no chão, mas o tombo foi provocado por um empurrão involuntário partindo de si mesmo. Mas o que derrubou o jovem rapaz não foi a força gerada através do atrito entre seus corpos, e sim as duras palavras que Tubarão havia dirigido a Benício.

Ele sabia que não era um homem fácil, construiu a sua fama sob a aparência de um homem rude e muitas vezes grosseiro, mas foi Benício que acabou lhe mostrando que ele não era de nada. O babá por incontáveis vezes o havia colocado no lugar, em muitas ocasiões lhe fazendo refletir sobre situações que baseadas em seu hostil temperamento teriam outro desfecho sem a intervenção do rapaz.

Ele era assim, de sangue quente, e muitas vezes se aproveitará disso para justificar seus rompantes, quando um possível arrependimento surgia. Tubarão sabia que Benício também o compreendia, mesmo não concordando com ele, tentava se colocar no lugar do chefe para assimilar todas as reações vindas do policial. Era um exercício de empatia fora do comum, obviamente gerado por uma criação e história muito diferentes da sua.

Só o amor de Benício não justificaria toda aquele exercício em prol do outro, era da natureza dele cuidar e zelar pelo bem estar de quem quer que seja.

Mas aparentemente nem mesmo empatia, amor ou compreensão, faziam com que o babá o olhasse de outra forma desde o seu último rompante. Ben sequer o olhava a bem da verdade, o tratava com frieza, pouco se importando se ele estava bem ou não. Seguia na casa de Fatinha certamente para não desapontar Julinho, mas era certo que mais cedo ou mais tarde ele partiria pra sempre.

- O que está pensando aí em? Não acha que já está na hora de irmos embora, o tempo está fechando, parece que vai cair uma senhora chuva- Fatinha falou com o filho limpando o braço cheio de areia de Tubarão, com as mãos igualmente sujas.
- Aí tá me arranhando porra. Tô pensando em nada não mãe. Aqui, eu tô de boa aqui, se quiser podemos ir sim, mas acho que de senhora aqui só teremos você. Essa chuva tá ameaçando há dias, desde que o ano começou, já se vão quase duas semanas e nada.
- Bom você que sabe, eu tô amando o meu novo bronzeado, olha a marquinha do meu maiô.
- Bobagem- Tubarão retrucou incomodado com a folgada da mãe.

A família decidirá na noite anterior curtir o dia na praia de Copacabana, a ideia veio de Julinho incomodado com o Sol, Allan acabou dando total apoio, visto que não veria Sol, e possivelmente praia tão cedo. Fatinha e Benício foram a tiracolo. Como Alex ainda não poderia dirigir, teve que deixar o carro sob a responsabilidade do irmão caçula, tentou empurrar a responsabilidade para Benício, mas foi ignorado como um pernilongo na hora do sono. Acabou tendo que se contentar em viajar no carona, fazendo companhia a Allan, se controlando para não dar uma bronca no irmão a cada barbeiragem. Para Alex, o caçula parecia fazer aquilo de propósito, lhe parecia não, notoriamente era de propósito.

O dia acabou sendo bem proveitoso, apesar da praia lotada e um calor de deserto, algo típico no verão carioca a família acabou por se divertir bastante. Tubarão nem tanto, a água do mar estava pra lá de gelada, e as ondas um tanto altas. O policial ainda sem condicionamento físico percebeu que corria sérios riscos permanecendo ali, ia saindo da água quando foi puxado e tombado por uma onda brava. Tentou se segurar no chão, mas uma nova onda o arrastou para um tremendo caixote, preso nas águas, tentava controlar o riso e a vergonha, esperava que ninguém o estivesse filmando, seria patético um homem daquele tamanho tomando caldo. Um não, já estava no terceiro, com metade da bunda do lado de fora, devido ao excesso de areia que entrou na sua sunga vermelha após as cambalhotas involuntárias, quando foi puxado para uma região mais tranquila por outro banhista.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora