REVIRAVOLTA

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Era sábado pela manhã quando Ben foi acordado abruptamente por Tubarão, o homem saiu andando pesado do quarto, gritando que estavam atrasados. Para o quê? Benício ainda não sabia. Não deu tempo sequer dele preparar um café, o homem estava apressado e berrava aos quatro cantos para Ben e Julinho se apressar. Débora havia saído logo cedo para o trabalho, possivelmente voltaria somente no outro dia.

Somente quando entrou no carro descobriu o motivo de toda aquela afobação. Tubarão havia marcado uma partida de futebol com um grupo de amigos de longa data. A pelada estava sendo aguardada por todos com bastante ansiedade, e ele queria muito que o filho estivesse presente, como o restante dos moleques, filhos dos seus parceiros.

Era um campo muito próximo a universidade alugado por algumas horas, Ben logo identificou uma parte na arquibancada com sombras e começou a se encaminhar até lá. Mas acabou sendo gritado por Tubarão, que queria exibir o filho para os companheiros.

Existia uma certa curiosidade generalizada em saber quem ele era.

- Esse é o Benício pessoal, ele é o - Falou engasgado- o babá do Julinho.

Os amigos começaram a rir da situação, o que acabou incomodando Benício.

- Um babá?
- Que papo torto é esse Tubarão?
- Babá homem? nunca vi.
- História estranha essa Tubarão.
- Relaxa gente, eu pensei que o Tubarão estava era mudando de time.

Os comentários eram sequenciais e Benício já não conseguia acompanhar tanta bobagem. Não poderia esperar menos daqueles caras, boa parte deles eram militares da idade do próprio Tubarão.

- Posso subir com o Julinho agora? - perguntou baixinho para o chefe.
- Vai sim, fica com a chave do carro, minha carteira está lá. Se o Julinho quiser alguma coisa pode comprar.

O menino queria mesmo era correr naquele campo, mas com a manada de mamutes já começando a pisar por todo o gramado, Ben tratou logo de puxar o garoto com ele.

Naquela manhã ele pôde ver o chefe de uma forma bem diferente do natural, o homem dava gargalhadas no meio do campo, fazia brincadeiras com os amigos. Quando o jogo começou viu que no meio de tantos pernas de pau, o chefe mesmo sendo bem maior que os outros, tinha certa agilidade, e levava vantagem sobre os amigos. Via que o homem tinha jeito para a coisa, mas o que lhe chamava a atenção mesmo era o corpo daquele cara, correndo ou andando ele era uma visão e tanto naquele lugar. Perdeu três gols pensando na anatomia do chefe, um marcado pelo próprio Tubarão, outro por um companheiro do time, o último havia sido marcado pelo time rival.

E assim terminou o primeiro tempo, com o time de Tubarão vencendo por dois a um o time rival. Ele agora estava mais solto ainda, sendo o dono do espaço, fazendo com que todos se rendessem ao poderoso Tubarão. Estava dentro da sua zona de conforto, Ben já havia percebido que o chefe gostava de mandar e prontamente ser obedecido, ele não sabia se aqueles caras eram ruins de verdade, ou só estavam dando um jeito para que o voluntarioso líder tivesse o seu dia de Rei. Achava tudo aquilo uma palhaçada.

- E aí, meu filho, viu que o papai fez um gol?
- Vi sim papai.
- E você gostou?
- Sim papai.
- Então presta atenção que no segundo tempo o papai vai fazer mais um, só para você.
- E para o Tio Ben?
- O que tem o Tio Ben?
- Vai fazer um gol pra ele também papai?

Benício ficou constrangido, mas achou engraçado o pedido de Julinho.

- Vou tentar fazer dois para você, aí se você quiser dar um para o seu Tio Ben.
- Tudo bem.
- Deixa o papai voltar agora. Dá um beijo- O menino deu um beijo no rosto suado do pai.

O segundo tempo começou movimentado, logo nos primeiros segundos o time de Tubarão puxou um forte contra-ataque e um carrinho derrubou o pai de Julinho na grande área, pênalti marcado. Ben ficou preocupado ao ver que o homem se levantou mancando, não sabia se ele estava valorizando a falta, ou se de fato havia se lesionado.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora