Benício e Alex trocaram poucas palavras ao longo do caminho. O babá seguia silencioso remoendo-se em pensamentos a respeito da crueldade humana. Jamais havia imaginado passar por uma situação tão constrangedora e calamitosa como a que viveu horas atrás. Nem mesmo imaginou que alguém pudesse em sã consciência praticar uma violência tão gratuita como a que o sofreu.
Se questionava o verdadeiro sentido da vida, o porquê da existência da maldade, e como era possível que um ser humano fosse capaz de atentar contra a vida alheia de forma tão fria. O tal Quim era um criminoso covarde, talvez tão covarde ou até mais que Débora. Ben tentou imaginar que tipo de conflito poderia ser capaz de levar um indivíduo a ser assim, mas independente do passado do rapaz, Ben não estaria disposto a perdoá-lo jamais. O crime que o marginal cometeu foi muito maior do que contra o corpo de Benício, foi contra sua dignidade e honra. Se Alex não tivesse chegado a tempo, naquela altura o babá poderia estar morto.
O que Ben pôde perceber é que mesmo diante de tanta violência, as coisas acabaram conspirando a seu favor. O fato do bagageiro do carro estar ocupado, o pneu furar e não ter um estepe no veículo foi fundamental para que Alex regressasse a casa num outro automóvel. Isso foi vital para que sua chegada não fosse percebida e dado o tempo para o resgate e apreensão dos infratores.
Benício não sabia ao certo porque não conseguia se desligar, ficou remoendo a história seguidas vezes, passo a passo, cena a cena, revivendo cada terrível momento tentando encontrar o seu grande erro, o motivo pelo qual mereceu passar por tudo aquilo. Ainda tinha na boca o gosto dele, tinha preso no corpo o toque dele, em seu rosto um grande inchaço no olho direito e em seu nariz faziam com que o rapaz se sentisse ainda pior.
Para Alex, o sentimento era outro, o da impotência diante dos fatos, se culpava por ter saído de casa, por ter demorado a retornar, por ter deixado Benício passar por tudo aquilo sozinho, por não ter matado Quim.
Ele pôde perceber mais uma vez que toda a força emocional que o babá expunha, não fazia dele um cara forte para conseguir sair daquele tipo de situação sozinho. Ben foi rapidamente abordado pelos três caras e não reagiu no tempo necessário antes de ser atacado.
O babá era um rapaz ingênuo e frágil, e isso deixava Alex temeroso, talvez mais do que deveria. Mas em sua situação, enquanto policial sabia que uma vida com Benício poderia gerar diversas implicações quanto a segurança do rapaz.
O policial ao parar no sinal olhou para Benício com tristeza e se culpou por na verdade estar exigindo demais do babá, eram três caras que lhe pegaram desprevenido, talvez ele mesmo ruísse diante de uma situação semelhante. O semblante do rapaz era estranhamente tranquilo, silencioso mas aparentemente natural, o que trazia ainda mais preocupação ao policial. Alex sabia que Ben não estava a vontade, e gostaria muito que o rapaz pudesse confiar e se abrir com ele. Tentou segurar na coxa de Benício com um gesto de apoio para mostrar que estava ali, mas foi impelido pelo babá assustado.
- Desculpa- Benício fez o pedido de desculpas envergonhado por sua reação.
- Está tudo bem meu lindo, eu só queria que soubesse que estou aqui.Seguiram a viagem no inquietante silêncio até que chegaram em frente ao imóvel alugado pelo babá na Zona Norte do Estado.
Alex entrou na frente levando alguns mantimentos que precisavam estar na geladeira e os pertences de ambos. Benício veio logo atrás trazendo apenas a sua culpa e dor moral.
Ben pôde ver em Alex um homem atencioso e carinhoso, viu o policial arregaçando as mangas fazendo uma limpeza superficial do imóvel. Alex também trocou o lençol da cama, varreu a região empoeirada, limpando os poucos móveis e por fim fazendo sanduíches para o jantar.
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QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)
RomanceLivro ainda não revisado. Uma história de pessoas comuns, com dilemas e situações observadas em nosso cotidiano. Descrita com muitos detalhes, apresenta personagens complexos que buscam o equilíbrio para viver numa sociedade em constantes mudanças...