Virada - Capítulo 98

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Sophia já estava pouco mais de uma semana sem ir trabalhar, não atendia as ligações de Micael e também não fez questão de recebê-lo quando ele foi á cobertura. Ele só tinha noticias dela através de Osvaldo no trabalho. 

Ele já tinha esclarecido toda situação com Eduarda e tinha dito a ela que nada iria acontecer entre os dois, mesmo que ele estivesse solteiro. Ela não a via daquela forma e não adiantava ela fazer nada. O sentimento não ia florescer dentro dele. Eles tinham se afastado bastante desde então. Nem mensagens por whatsapp os dois tinham trocado mais. Ironia é que ele tenha decidido fazer isso depois de bagunçar todo seu relacionamento. 

A surpresa de Micael ao ver Sophia em sua mesa naquela manhã de quarta foi tanta que ele se endireitou ao entrar. Ela não levantou a cabeça para olhá-lo, apenas sussurrou um "bom dia" a ele. 

- Que bom que voltou ao trabalho. - Ele puxou assunto após ter consertado o nó de sua gravata e ter passado a mão nos cabelos. - É bem chato trabalhar sozinho. 

- A única coisa que eu percebi é que você aproveitou que eu não estava vindo para chegar atrasado. - Deu de ombros ainda sem olha-lo. 

- Sophia, você não vai começar de novo a ser aquela chefe ruim que é toda vez que está brava comigo, vai? - Ela enfim ergueu a cabeça com um leve sorriso. 

- E eu tenho motivo para estar brava com você? - Ele balançou a cabeça um pouco confuso. - Eu não consigo me lembrar. 

- Sophia, você também não precisa fingir que nada aconteceu. 

- Micael, eu vou te explicar uma coisa. - Colocou os cotovelos na mesa e apoiou a cabeça sobre as mãos. - Eu não vou deixar que nada atrapalhe o final da minha gestação, eu não vou mais parar no hospital por causa de você e dessa sua periguete que você chama de amiga.

- Sophia, eu e a Eduarda... - Ele começou a falar, mas ela ergueu uma mão e ele parou na hora. 

- Eu não quero saber de nada que envolva vocês dois. - Voltou a encarar seus papéis. - Eu não quero saber a quantas anda a relação de vocês, eu não quero saber de nada porque eu não quero me estressar. Entendeu? 

- Nossa relação? - Franziu a testa. - Que tipo de coisas você fantasiou enquanto esteve afastada? - Ele colocou a tampa da caneca na boca e se recostou na cadeira com um leve sorriso. 

- Eu tive bastante tempo livre pra pensar em muita coisa. - Guardou uns papéis na gaveta. - Quando eu disse muita coisa, é muita coisa. 

- E uma dessas coisas é que eu tenho uma relação com a Duda. - Sophia se corroeu por dentro e não teve como não reagir aquele apelido. Ela pegou a primeira coisa que conseguiu e arremessou em Micael. No caso era um grampeador. - Ficou maluca de vez? 

- Será que da pra usar o nome dessa garota uma vez na vida. Eu não suporto essa intimidade nojenta de vocês! - Micael começou a rir com o grampeador na mão. 

- Se eu tenho uma relação com ela, não posso chamar ela pelo apelido?  - Ergueu uma sobrancelha, seu olhar brincalhão. - E você poderia ter realmente ter me machucado com isso. 

- Seria bom você parar num hospital ao invés de mim. - Bufou. 

- Você voltou bem má. - Ele riu alto dessa vez. - Isso tudo é por causa da minha relação? Alias, de onde que você tirou isso?

- Ué, ela armou e você ao invés de brigar com ela, terminou comigo. No dia seguinte você a convidou para ir á minha casa e pra piorar tudo mil vezes mais, você entrou no meu quarto de hospital ao lado daquela vagabunda. - Ela terminou de falar, mas ele não tirava o sorriso do rosto, estava feliz em revê-la. 

- Eu terminei com você por causa que você não confiou em mim. - Deu de ombros. - E eu a convidei para ir, aparentemente,  na sua casa porque eu queria conversar a respeito do ocorrido e eu estava bastante triste pra ir socializar em qualquer outro lugar. E bom, no hospital foi acaso mesmo, eu acabei ficando pra trás e entrei por ultimo, mas nós não tínhamos nem conversado. 

- "Estava mal demais" - Sophia debochou. - Foi você que terminou comigo, não devia estar mal demais. 

- Eu não terminei com você porque não te amava mais. - Deu de ombros. - Eu continuo amando você, por mais maluca e ciumenta que você seja. 

- Aonde que você quer chegar com isso? - Ela cruzou os braços. 

- Em lugar nenhum. - Suspirou. - Eu só estou falando a verdade. 

- Pois dessa verdade ai eu não faço questão nenhuma de saber. - Foi a primeira vez que seu sorriso tinha se afetado naquela manhã, ele não esperava levar um fora daquele agora. 

- É o quê? - Observou ela se recostar. - Você não gosta mais de mim? 

- É a minha vez de dizer que estou cansada. - Deu de ombros. - A minha vida inteira eu fiquei emocionalmente dependente de alguém. Primeiro foi você, dai depois o Thiago e você voltou pra arrematar. Eu tenho que aprender a me amar primeiro, não ficar por aí arrumando briga no meio da rua por alguém que obviamente não está nem ai pra mim. 

- Ei, eu estou ai pra você sim. - Já estava quase ficando de pé. 

- Não estava, se estivesse você teria se afastado dessa vagabunda no momento em que eu disse que ela queria ficar com você. 

- Não importa se ela quer ficar comigo, se ela gosta de mim. Eu nunca quis ficar com ela, eu nunca gostei dela. - Deu de ombros. - Por isso que eu achei besteira, eu queria que você confiasse em mim. 

- Essa mulher armou pra fazer a gente terminar, armou e conseguiu e mesmo assim você queria conversar pra saber se foi de proposito. - Bufou. - Você foi mais compreensivo com a mulher que fez a gente brigar do que comigo, mano. 

- Eu queria conversar com ela e resolver as coisas. - Colocou o grampeador de volta a mesa. - Assim como eu fiz. 

- Ah, então ela assumiu que gosta de você ou você finalmente enxergou isso? 

- Na verdade, ela não falou e nem eu percebi, ela me mostrou de uma forma bem... - Ele não conseguiu terminar a frase, mas Sophia entendeu e se colocou de pé na hora. 

- Ela beijou você não foi? - Ele meio envergonhado fez que sim com a cabeça. Sophia bateu palmas de puro deboche. - E não é que ela conseguiu o que queria? 

- Ela não conseguiu nada que queria. - Ficou de pé também. 

- Eu não me importo nem um pouco. Agora vamos trabalhar, porque esse papo já está revirando meu estomago. 

- Sophia... 

- Eu disse: Vamos trabalhar. - E então ele se sentou em silêncio e nenhuma palavra mais foi trocada. 

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora