Virada - Capítulo 106

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- Que novidades? - Seu olhar era desconfiado quando se sentou ao lado de Micael no sofá. - Eu preciso preparar meu psicológico pra saber?

- Claro que não. - Rolou os olhos. - Eu cheguei pra trabalhar hoje e tinha uma mulher na sua mesa. - Ela arregalou os olhos em surpresa. 

- Como assim uma mulher na minha mesa? Se a Renata esperou eu sair pra se apossar da minha mesa eu vou matar ela. - Se referiu a uma antiga colega de trabalho. 

- Não, ela é nova. - Deu de ombros, aquilo não era algo realmente importante. - Osvaldo a contratou como sua substituta. 

- Eu tenho uma substituta? - Ficou de pé com raiva. - Como que o Osvaldo não me avisou que ele contratou uma substituta? - Falou alto e a neném começou a chorar. - Me dá ela aqui que eu vou colocar no berço e a gente termina essa conversa depois. 

- Onde está a Júlia? - Perguntou quando entregou Cléo á Sophia. 

- Está no quarto dela. - Deu de ombros. 

- Sophia, você está só ligada na Cléo e esqueceu que tem outra filha? Eu espero que não. - Ela fez uma careta. 

- Claro que não, né Micael. - Rolou os olhos. - Ela está pintando alguma coisa. 

- Sei, vou lá dar um beijo nela. - Os dois subiram e Micael bateu duas vezes antes de ouvir a voz de sua enteada falando "entra". - Ei, pequena. 

- Oi, Mica. - Ela disse não muito animada e voltou a pintar sua arvore. Micael se sentou ao seu lado no chão. 

- O que aconteceu? Está bem cedo pra você estar trancada nesse quarto sozinha. - A menina não respondeu, apenas balançou a cabeça. - Você está triste? 

- Não foi nada. - Ele suspirou e pegou uma folha e um lápis, começou a desenhar ao lado da menina. Desenhou uma casa e a familia deles dentro. - Você desenha bem, tio. - Ele riu olhando o desenho feito de palitinhos. 

- Por que você está tristinha assim? - Ela balançou a cabeça e num suspiro resolveu falar. 

- Eu não tenho porque ficar lá na sala. - Micael não disse nada, apenas esperou que ela terminasse de explicar. - Eu achei que seria diferente quando minha irmã nascesse. 

- Do que você está falando? - Franziu a testa. 

- Minha mãe está diferente. - A menina começou a chorar. - Eu achei que nós íamos ficar juntos aqui nessa casa, mas ela não liga pra mim, tio. Parece que só existe a Cléo e ela também não me deixa nem chegar perto da minha irmã. 

- Júlia, eu acabei de falar com a sua mãe, ela disse que estava tudo bem em relação a isso. - A menina chorou mais. - Olha, a Cléo é muito pequenininha ainda, logo logo você vai poder brincar com ela. 

- Eu queria ter ficado morando com a minha avó. - Ela desabafou entre soluços. - Aqui é estranho. 

- É estranho? Você tem que morar com a gente, nós somos familia. - Puxou a menina para seu colo e ficou fazendo cafuné. - Olha, eu sei como a sua mãe pode ser complicada, ainda mais agora com o bebê, mas ela te ama. Nós te amamos. 

- Você e a minha mãe tem a Cléo, ela é de vocês, mas eu não sou. Eu nem tenho um pai porque ele me abandonou e ninguém sabe onde que ele está. - Ele apertou um pouco mais e em seguida pegou o desenho que ele tinha feito. 

- Tá vendo esse desenho? - A menina assentiu. - Quantas pessoas tem nessa casa?

- Quatro. 

- Somos nós quatro, eu e a sua mãe temos você e a Cléo. - A pequena o olhou. 

- Mas você não é meu papai. - Ele balançou a cabeça, já tinha os olhos marejados também. 

- Ué, você acabou de dizer que não tem um, acho que o posto tá vago. - Ela sorriu de certa forma. - Eu cuido de você e eu amo você, pai não é só quem bota no mundo não, pequena. 

- Está dizendo que é meu pai? - Ela o abraçou forte. 

- Se você quiser, é claro que sim. - Ela não o soltou. 

- Eu quero, papai. - A primeira vez que Júlia chamou Micael de pai ficou marcada pra sempre nele. Foi um momento muito emocionante e a conexão entre os dois era maior a cada dia que passava. Não ia ter ninguém no mundo que diria que não eram pai e filha. 

- Agora deixa eu ir conversar com a sua mãe, porque se não ela vem aqui me puxar pela orelha. - Ela riu. - Limpa essa lagrima e continua desenhando que daqui a pouco eu passo aqui pra gente ficar brincando na sala. 

- Tá bom. - Disse com um sorriso que não cabia mais no rosto. Micael foi até seu quarto e encontrou Sophia sentada na cama mexendo no celular. Ela o encarou por bastante tempo enquanto ele tirava a gravata e o paletó. 

- Que beijo demorado. - Resmungou. 

- Você está com ciume da sua filha? - Ele falou rindo e ela balançou a cabeça. - Sophia, a Júlia se queixou que você deixa ela de lado pra ficar o tempo todo com a Cléo. 

- A Cléo é um bebê. - Rebateu. - É logico que eu dou mais atenção pra ela. 

- Sophia, ela é um recém nascido, ela mama e dorme. Você tem tempo sim pra dedicar a Júlia se quiser. 

- Ah, pronto. - Cruzou os braços. - Você nem estava em casa, Micael. 

- Mas a Júlia me contou ué, e sinceramente eu acredito nela. - Sophia bufou. 

- Tudo bem, eu vou melhorar. Agora senta aqui e me conta tudo sobre aquela fulaninha lá.  

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora