Virada - Capítulo 143

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Micael bateu três vezes antes de entrar no quarto de Cléo e ver a filha deitada de bruços com a cara no travesseiro com a fronha rosa. Ele soltou um longo suspiro e foi se sentar ao lado da menina. Em nenhum momento ela virou para encarar o pai, ele ergueu a mão e começou a fazer cafuné na cabeça da pré adolescente. 

- Veio aqui brigar comigo e me deixar de castigo por um mês? - Ela disse com a voz abafada pelo travesseiro. 

- Não vim brigar com você, eu vim conversar. - Ela se virou e encarou o pai. - É sério! - Soltou um sorriso e fez a menina bufar. 

- Vai dizer que eu devia estar triste? 

- É claro que não. - Rolou os olhos. Micael encostou as costas na cabeceira da cama da filha e não demorou para a menina deitar a cabeça em seu colo. - Eu também não estou nem um pouco triste com o que aconteceu, pra falar a verdade acho que foi até merecido. 

- Então por que está aqui? - Micael suspirou. 

- Porque você não pode falar as coisas do jeito que falou e porque eu acho que sua mãe queria falar com a Júlia sozinha, ai me expulsou da sala. - Cléo ergueu a cabeça e riu. 

- A Júlia é sentimental demais. - A jovenzinha rolou os olhos e arrasou risos do pai. 

- Igual a sua mãe. - Ele deu de ombros. - Quer alguém mais boba e sentimental do que Sophia? 

- Não é atoa que elas choram atoa. - A menina se sentou ainda com um sorriso no rosto. - Eu fico feliz que você não tenha vindo brigar comigo dessa vez. 

- Mas Cléo, se lembra do que eu falei sobre ser cruel? - Ela balançou a cabeça assentindo algumas vezes. - Nada de falar desse jeito quando seu avô tiver perto. Ele não merece isso. 

- Tá, eu sei. - Bufou. - Eu falei isso porque é ridículo elas ficarem triste por causa dele. Ele só fez mal a nossa família. E se a Júlia te chama de pai esse tempo todinho, não tem porque fazer drama também. - Arrancou risos de Micael. 

- Menina, você consegue ser mais insensível que eu. - Disse um pouco espantado. - Você é terrível, Cléo. 

- Eu sou realista. - Micael assentiu. 

- Tá bom, realista. - Se levantou e pegou os controles do video game. - Agora vamos jogar uma partida que eu vou te dar uma surra. 

- Até parece. - Se sentou na beirada da cama. - Isso aqui é o meu território. 

Tinha bastante gente no velório de Thiago. Muitos amigos de Osvaldo e até uns dele mesmo, embora não tivesse muito contato com ninguém, mas os únicos tristes de fato com aquilo era Osvaldo e seu neto Nathan. Sophia e Micael estavam com as meninas quase que no ultimo banco da capela enquanto um padre falava algumas palavras. 

Branca não saia do lado do marido, se recusou a deixa-lo sozinho na hora que talvez fosse a mais difícil de sua vida. Jhenny, Fabi e o restante da família estavam presentes também, sentados mais no meio da capela, todos sem dar a minima para o que o padre falava. Só queriam que acabasse logo. 

O enterro foi rápido, algumas poucas palavras de Osvaldo, algumas rosas jogadas e logo todos estavam indo embora pra casa. Sophia foi com Micael e as meninas pra casa de Branca. Osvaldo subiu pro quarto sem falar nada.

- Será que ele vai realmente ficar chateado comigo por muito tempo? - Soph tinha uma expressão triste no rosto.

- Ele não está triste com você, está triste com ele mesmo. - Branca pousou uma mão no ombro da filha. - Ele se culpa e sempre vai se culpar pelo que aconteceu.

- Engraçado que ontem ele não tava se culpando não, tava me culpando mesmo. - Soltou um suspiro.

- Foi na hora da raiva, meu amor. Você sabe que Osvaldo te ama muito, como um pai. Confia em mim, ele não tem raiva de você.

- E por que ele não olha na minha cara então? - Ergueu uma sobrancelha. - Vou lá em cima falar com ele.

- Tem certeza que é uma boa ideia? - Micael falou ao seu lado. - Hoje deve ter sido o pior dia do mundo pra ele.

- Eu quero dizer pra ele que eu tô aqui. Ele é meu pai, Micael. Eu não aguento ser tratada com toda essa frieza não. - O moreno deu de ombros e ficou olhando a esposa subir as escadas negando com a cabeça.

- Quem olha até pensa que não é uma chorona. - Ele falou rindo e fez quem tava ali rindo também.

- Mas isso aí está na genética da minha mãe. - Fabiana falou do sofá. - Porque eu também sou uma chorona.

- Ah, pronto. Ainda sobrou pra mim. - Branca jogou as mãos para o alto. - Vou fazer um lanchinho, vocês querem?

- Opaaa, é claro que eu tô dentro! - Cléo deu um pulo do sofá. - Finalmente algo bom hoje.

- Essa garota só pensa em comida, gente do céu! - Micael implicou com a filha. - Só da prejuízo lá em casa.

- É claro que não. - Encarou o pai com as mãos na cintura. - Eu nem como muito assim.

- Aham, eu sei. - Ele debochou, mas em seguida riu.

- Vamos, vó. - Encarou Branca. - Deixa meu pai aí e não vamos trazer lanche pra ele não.

- Filha ingrata esse que eu arrumei. - As duas saíram de braços dados pra cozinha. Micael olhou as pessoas que sobraram na sala e só tinha Fabiana com Nathan e Jhenny. - Cadê a Júlia?

- Ih, Mica. - Jhenny falou rindo. - Tomou um perdido foi?

- Onde essa menina foi? - Franziu a testa e as duas mulheres riram. - O que é engraçado?

- Que a Jú passou aqui na sua frente e você não reparou. Tá ficando velho mesmo! - Ela riu do cunhado.

- Jhenifer, Jhenifer... - Ele negou com a cabeça. - Cadê seu filho e seu marido?

- Ele levou Lionel pra casa, meu bebezinho já estava cansado.

- Lionel nem é um bebezinho. - Ele rolou os olhos pra cara de brava que ela fez.

- Lionel é o meu bebezinho e sempre vai ser! - Mica ergueu as mãos em sua defesa.

- Ok, seu bebezinho!


Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora