Virada - Capítulo 151

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- Está tudo bem com você? - Sophia estava no elevador com Natália. Era quase oito da manhã e ela tinha ido pra empresa adiantar as coisas pra sair a tempo da consulta as duas da tarde. - Não está com uma cara muito boa.

- Não estou no meu melhor dia. - Deu de ombros e ajeitou o cabelo no espelho. - Você vai trabalhar sozinha hoje. Tenta priorizar as planilhas que a gente tem que mandar pro financeiro aprovar.

- Aconteceu alguma coisa com o Micael? - Sua expressão era preocupada. Sophia respirou fundo antes de falar.

- Aconteceu sim, ele saiu daqui ontem a tarde e foi fazer uma vasectomia. Está de atestado. - Tentava manter toda sua raiva sobre controle, afinal, Natália não tinha nada a ver com aquela situação. - Eu não sei se é só hoje ou amanhã também.

- Eu não acredito que ele realmente fez isso! - Levou as mãos na boca. - Ele tinha dito num momento de raiva, eu não pensei que tivesse coragem de fazer.

- Pois ele teve coragem de sobra. - Bufou e a porta se abriu.

- E como você está com isso? - Ela segurou o braço de Sophia para que não saísse correndo para sua sala. - Ele me contou que você queria um outro bebezinho.

- Ele perdeu o tempo dele. - Sorriu. - Eu vou ter o meu bebê, já estou grávida.

- Mentira? - Levou as mãos a boca novamente. - A vida de vocês parece uma novela.

- Eu que o diga. - As duas riram e foram para suas respectivas salas.

Sophia saiu pra almoçar com planos de não voltar mais pra empresa naquele dia, passou no curso da Júlia e a loira sorriu pra mãe após botar o cinto.

- Por aqui duas vezes seguida e sem a Cléo? - Ergueu uma sobrancelha pra mãe. - Devo esperar uma enchente?

- Para de bobeira, só queria uma companhia para a nutricionista daqui a pouco. Tem compromisso? - Júlia deu de ombros.

- Não tinha, mas por que não chama meu pai? - Sophia encostou a testa no volante. - Ele não é tão ruim assim.

- É que seu pai me estressa. - Júlia riu das palavras da mãe. - Ele não quer esse bebê, então o jeito que ele fala com desprezo me irrita. Eu sei que não foi planejado, mas a Cléo também não foi.

- Ele só está em choque. - A jovem não conseguia não defender o pai. - Daqui a pouco ele vai estar mais empolgado do que você.

- Mas até lá, será que a mocinha pode me acompanhar? - Ela assentiu sorrindo.

- Claro que sim. - Estendeu a mão e passou na barriga da mãe. - É meu irmãozinho que está aqui. - Os olhos de Sophia se encheram de lágrimas e ela levantou a cabeça. - O que foi que eu fiz?

- Nada. - Fungou. - É que é a primeira vez que alguém passa a mão na minha barriga e fala dele com carinho.

- Deixa de ser boba, a essa altura meu pai já deve estar todo arrependido em casa. - Ela secou a bochecha da mãe. - Até parece que você não conhece a peça.

- Eu conheço, mas Júlia, ele fez uma cirurgia pra não me dar um filho. - Virou a chave na ignição. - Eu não vou perdoar isso assim tão rápido.

- Vocês que são casados que se entendam. - A menina deu de ombros. - Podemos almoçar bife com batata frita de novo?

- Dessa vez eu vou pedir uma salada também, você só come gordura menina! - Júlia fez uma careta. - Nada saudável.

- O que eu não faço pra comer umas batatinhas. - Sophia achou graça e finalmente deu partida no carro e dirigiu para um restaurante perto da clínica onde seria atendida.

Sophia fez a sessão de nutrição e aproveitou para fazer a de terapia também, incentivada por Júlia. As duas chegaram em casa sete e pouca da noite e passaram pela porta rindo. Micael e Cléo que estavam no sofá assistindo televisão encararam as duas.

- Vocês podiam ter ligado. - Micael ficou de pé e encarou as duas. - Ou pelo menos atendido o telefone.

- Para de drama. - Sophia rolou os olhos. - Nada aconteceu. - Deu um beijo na testa de Júlia e se aproximou de Cléo também para dar um beijinho. - Vou tomar um banho porque eu estou exausta.

- Como foi a consulta? - Micael perguntou a filha. - Tudo bem?

- Foi só uma nutricionista. - Deu de ombros. - Ela passou uma lista imensa de coisas pra mamãe comer, só isso. E com o psicólogo ela deve ter falado horrores do senhor. - Ela riu diante da careta de Micael.

- Mas ela está bem? Nenhum enjôo, nenhuma tontura ou desejo estranho? - Júlia gargalhou.

- Olha só você, já está aí todo preocupadinho. - Chegou perto e apertou as bochechas do pai. - Está tudo bem com ela, mas só vai ficar ótimo quando acabar essa birra de vocês.

- Eu já tentei pedir desculpas, mas só vai rolar quando a raiva dela passar. - Se sentou novamente. - Eu vou esperar.

- Muito comodo da sua parte. - Cléo cruzou os braços. - Tinha que fazer alguma surpresa romântica pra ela que nem nos filmes.

- Vocês duas tem noção do quanto eu já corri atrás da mãe de vocês e ela me esnobou? - Alternou olhares entre as filhas. - Já tomei muito fora na vida, vou esperar mesmo.

- Você já comprou flores pra ela? - Júlia perguntou com a testa franzida. - Porque eu nunca vi isso. Nunca vi um jantarzinho, umas velas, nada do tipo.

- Mas vocês duas são chatas hein. - Ficou de pé já saindo da sala. - Eu vou pro meu quarto ficar em paz.

- Junto com a mamãe? - Cléo perguntou com um sorriso.

- Você ouviu a parte "ficar em paz"? - Deu um beijo em cada uma e subiu as escadas para o quarto de hóspedes. Aquela birra parecia estar longe de terminar.

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora