Virada - Capítulo 117

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Quando Thiago entrou no campo de visão de todo mundo, a sala ficou em completo silêncio. Ninguém sabia como reagir aquela aparição inesperada. Thiago ainda estava muito bem, seus olhos verdes saltavam e brilhavam ao olhar a família surpresa. 

Osvaldo foi o primeiro a sair do transe e ir abraçar o filho, talvez ele fosse a única pessoa realmente feliz com a volta de Thiago. Ele ficou bastante tempo abraçado com o filho. 

- Por que você não avisou que viria? - Osvaldo falou ao filho. - Eu teria te buscado sei lá onde. 

- Porque nada pagaria ver a surpresa no rosto dessa minha família tão querida. - Debochou e só ele riu. - Ninguém vai me dar boas vindas? - Ninguém se mexeu. - Ai gente, eu fiquei mais de dez anos sumido, mereço um "oi" pelo menos. 

- O que você está fazendo aqui? - Sophia achou a língua. - Podia ter ficado onde estava, ou avisado, que ai eu não teria vindo. 

- Meu amor, eu cansei de passar as festas de fim de ano sem a minha família.  - Deu de ombros. - E pelo amor de Deus né, já deu pra esquecer tudo o que eu fiz né? 

- Você tentou me matar duas vezes, Thiago. Não é algo que se esquece assim tão rápido. 

- Eu não sou mais aquela pessoa. - Abaixou a cabeça e Micael gargalhou. 

- Você chega aqui, debochado desse jeito, chamando a minha mulher de "meu amor" e tem a cara de pau de dizer que mudou. 

- Eu tive bastante tempo pra refletir sobre meus atos. - Deu de ombros. Thiago focou em Cléo, que o olhava sem entender nada. - Essa é a filha de vocês?

- Isso te interessa? - Micael disse bravo. Sophia empurrou a menina para trás de suas costas. 

- Meu Deus, eu estou tentando ser simpático. - Rolou os olhos. - Mas é difícil manter um dialogo com vocês. Onde está a minha filha? - Olhou nos olhos de Sophia. 

- Você tem alguma filha? - Sophia debochou. - Não me lembro. 

- Ah, para de palhaçada. - Rolou os olhos. - Cadê a Júlia? 

- A Júlia é filha dele? - Cléo perguntou a mãe. A menina estava confusa, o nome de Thiago, raramente era tocado dentro de casa. - Quem é esse cara? 

- Ele é filho do seu avô. - Sophia respondeu, Thiago riu e olhou para o pai. 

- Você terminou de adotar a Sophia mesmo hein. - Negou com a cabeça. - Não sei porque isso me surpreende. 

- Thiago, hoje é natal. - Osvaldo respondeu. - Estávamos tentando manter a paz e a harmonia, então por gentileza, se comporte. 

- Mas eu só perguntei onde que está a minha filha. - Deu de ombros. - Eu não vim aqui brigar. 

- Mas é difícil não brigar com você, você foi embora me devendo um soco. - Micael disse alterado e Thiago riu olhando para sua mão, se lembrando daquela noite fatídica do noivado de seu pai.

- É, aquele foi um belo soco. - Gargalhou e Micael ficou a ponto de voar em cima de Thiago. Leonardo estava ali perto, segurando Micael. 

E começou uma discussão generalizada, ninguém ouvia nada todo mundo gritava. Estava uma bagunça. Júlia ouviu do quarto, terminou de se vestir e desceu as escadas correndo. Entrou no meio da confusão e gritou mais alto. 

- Ei, porque tá todo mundo gritando desse jeito. - Ela ainda não tinha visto Thiago, estava encarando Micael. - Eu pensei que você quisesse um natal tranquilo, pai. - E mais uma vez o silencio reinou naquela sala por alguns instantes. 

Júlia seguiu o olhar de todo mundo e se virou, dando de cara com seu pai, parado como uma estatua a encarando. Ela não soube o que fazer, não soube o que falar, na verdade nem sabia se aquilo era real. 

- Pai? - Foi Thiago quem quebrou o silêncio. - Você chama essa cara de pai? - As lagrimas de Júlia já começavam a rolar. Era chorona que nem Sophia. 

- "Esse cara" - Tomou coragem pra responder. - Me criou depois que você sumiu sem nem se despedir. 

- Mas você sempre soube que tinha um pai. - Tentava argumentar. 

- De que adianta eu ter um pai em algum lugar do mundo? - Ergueu uma sobrancelha. - Eu não lembro de muita coisa, eu era muito pequena, mas aquele dia ficou gravado na minha memoria e eu remoí por anos. Você fazendo um escândalo, partindo pra cima da minha mãe dizendo que ia mata-la. Aqui mesmo nessa sala. 

- Eu estava descontrolado. - Thiago também chorava. - Ela estava grávida. 

- Ela não era mais a sua mulher. - Deu de ombros. 

- Ela sempre vai ser a minha mulher. - Desviou o olhar para Sophia. 

- Eu fiquei com medo de você, por muito tempo. Depois eu senti sua falta, e quando o tempo passou, eu não senti mais nada. 

- Júlia, você não pode falar assim comigo, eu passei cada segundo desse tempo pensando em você. Eu nunca te esqueci, filha. 

- Não pareceu. - Se aproximou dele. - Você nunca me telefonou, nunca mandou uma mensagem. A minha mãe nunca me tratou direito por conta de tudo que você fez a ela. Eu cresci sem pai, e praticamente sem mãe. Então por favor, não vem aparecer agora e esperar um abraço e que eu saia gritando "papai, papai" porque isso não vai acontecer. 

- Você também não precisa me tratar assim. - Secou o rosto. - Pinguinho, eu estava doente. Eu precisava me tratar. 

- Pai, você fugiu da clinica. - Ela rolou os olhos. - Você acha que eu não sei disso? 

- Eu fugi porque o seu avô me internou como se eu fosse louco. E eu não sou louco. - Sophia bufou ao fundo. - Eu procurei tratamento, eu encontrei trabalho. Eu sonhava com o dia que eu fosse te reencontrar. 

- Agora você acha que eu vou acreditar nisso? - A voz da doce menina era áspera. - Você não se tratou, continua o mesmo. 

- Eu me tratei, eu tenho família. - Se apressou em dizer. - Eu casei, tenho um filho de nove anos. 

- Nove anos? - Franziu a testa. - Você acabou de dizer que minha mãe sempre vai ser sua mulher. 

- Isso porque eu gosto de implicar com aquele idiota que sua mãe arrumou. - Ele deu um risinho de lado. 

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora