A campainha tocou interrompendo mais uma vez a leitura de Júlia. Ela olhou pra porta, soltou um longo suspiro e decidiu não atender, se fosse alguém esperado, teria ligado antes.
Mas a faxineira que ia a casa de Sophia três vezes na semana atendeu a porta sem que Júlia visse. Quando a menina ergueu a cabeça, Thiago estava parado á sua frente, com um presente nas mãos. Ela se assustou.
- Ai meu Deus. - Ela disse com a mão no peito. - Você não pode entrar aqui desse jeito!
- Que jeito? - Ergueu uma sobrancelha. - A empregada abriu a porta pra mim. - Apontou por onde a mulher tinha passado. - Eu não invadi a sua casa se é o que está pensando.
- A única coisa que eu estou pensando é num motivo pra você estar aqui dentro da minha casa. - Cruzou os braços e ficou de pé.
- Júlia, você não precisa me tratar assim, filha.
- E você não precisa me chamar de filha. - Fez uma careta.
- Eu vim te ver. - Esticou o braço com o presente. - Trouxe isso de natal. Eu sei que eu estou atrasado, mas meu pai me aconselhou a deixar as coisas se acalmarem depois do que eu fiz no natal. - Ele rolou os olhos como se fosse uma bobagem.
- Depois de estragar o nosso natal né? - Colocou as mãos na cintura. - Olha, sem querer ofender, mas eu não quero seu presente.
- Júlia, é um livro. - Ele suspirou. - Eu sei que você não gosta de mim, mas não custa nada aceitar.
- Meu pai não vai gostar disso e eu não quero que ele fique triste. - Thiago fez outra careta.
- O "seu pai" sempre soube que você já tinha um pai e que eu estava vivo. - Balançou a cabeça. - Eu sei que eu errei muito nessa vida, mas eu estou tentando consertar meus erros.
- Ah claro, você tá certo. Tem que consertar sim. - Ele sorriu. - Mas comigo eu acho que já está um pouco tarde. E começar vindo aqui em casa sem os meus pais é só mais um erro que você está cometendo.
- Sophia e Micael nunca me deixariam falar com você. - Deu de ombros. - Eu não tiro a razão deles, eu fiz muita coisa, mas eu já me arrependi, eu já me tratei. Como eu disse antes.
- Olha, eu acho melhor você ir embora. - Apontou para a porta. - Eu preciso voltar a estudar.
- Eu vou sim, mas só se você aceitar meu presente. - Se sentou no sofá. - Caso contrário eu vou ficar aqui.
- Tá bem, me da isso logo e vai embora daqui. - Ela pegou o embrulho e ele sorriu pra loirinha antes de sair da sala. - Eu espero que um dia você queira conhecer o seu irmão, ele é louco pra te conhecer. - Saiu sem olhar pra trás. Júlia nem abriu o presente, jogou na mesinha de centro e voltou a estudar, mas não conseguia mais se concentrar. Ficou pensando se contaria ou não aos pais sobre a visita de Thiago.
Mais tarde naquele dia quando Sophia e Micael chegaram do trabalho, Júlia estava na cozinha, fazendo um arroz pra adiantar a janta. Ela ainda não tinha decidido se devia contar ou não.
- Ei! - Sophia se aproximou da menina verificando o conteúdo da panela. - Daqui a pouco vira uma cozinheira de mão cheia.
- Não exagera. - Ela riu. - Só quis adiantar pra você, já que eu sou um desastre fazendo carne.
- Um desastre não, só precisa de um pouquinho de pratica. - Foi a vez de Sophia rir, quando parou, olhou no fundo dos olhos da menina. - O que aconteceu?
- Hã? Nada! - Disse meio falhado.
- Júlia...
- O Thiago veio aqui hoje. - Sussurrou olhando para a porta, não queria que o pai ouvisse. - Mas não fui eu que chamei.
- O que ele veio fazer aqui? - Começou a olhar os braços da menina vendo se tinha algum machucado. - Ele te fez alguma coisa?
- Claro que não, mãe. - Rolou os olhos. - Ele trouxe um presente e veio falar um monte de baboseiras, mas eu mandei ele ir embora. - Sophia soltou um longo suspiro e se recostou sobre o balcão.
- Seu pai já está completamente irritado por causa dele. - Olhou para as unhas. - Seu avô está me obrigando a contratar ele novamente na empresa.
- Ué, mas você é a chefe lá. - Júlia deu de ombros.
- Mas seu avô é o dono. Ele vai fazer isso eu querendo ou não. Ai agora seu pai está uma pilha. - As duas suspiraram quase que ao mesmo tempo. - Acho melhor a gente não contar isso pra ele.
- Eu também acho.
- Acha o quê? - Micael apareceu ali na cozinha e foi dar um beijo na filha. As duas ficaram se olhando e Sophia falou a primeira coisa que lhe veio a cabeça.
- Que a Cléo devia jantar á mesa hoje. - Micael fez uma careta.
- Você prometeu que não ia se intrometer no meu castigo. - Cruzou os braços, mas logo depois puxou uma cadeira e se sentou.
- Isso não é intromissão, eu estou falando com você antes. - Ela deu de ombros. - Só jantar, depois ela volta para o seu castigo de novo.
- Tá bom, meu amor. - Ele deu de ombros. - Eu estou tão cansado que nem briga por casa dela eu tô comprando. - Sophia se sentou no colo dele e colocou as mãos em seu pescoço.
- Pelo menos a gente vai testar o convívio social dela. - Sophia disse rindo.
- Ih, quando eu levei o almoço dela lá no quarto estava péssimo. - Em seguida desligou o fogo do fogão. - Essa menina já é um caso perdido.
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Virada [EM REVISÃO]
RomanceQue o mundo dá voltas, todo mundo sabe. Mas você vai esperar que isso aconteça justo com você? Que todo o mal que foi feito com brincadeiras estupidas no ensino médio fosse atrapalhar a sua vida anos depois? Que fosse se apaixonar pela maior vitim...