Virada - Capítulo 123

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- Ei, Cléo. - Micael disse ao entrar no quarto da menina. Ela estava lendo um livro, isso o surpreendeu. - Você está lendo? Que milagre!

- Não tem muito que eu possa fazer aqui nesse quarto. - Se sentou. - Ué, cadê o jantar? - Olhou as mãos vazias do pai.

- Vim te chamar pra jantar lá embaixo. - A menina sorriu.

- Sério? - Levantou da cama num pulo.

- Isso não é o final do seu castigo, é só um jantar então nem se anima muito. - Tratou logo de avisar a menina, mas ela nem se abalou e abraçou Micael.

- Obrigada paizinho lindo, meu amor! - Micael riu e então ela saiu correndo escada abaixo. O moreno balançou a cabeça algumas vezes antes de seguir os passos da filha. Quando chegou na cozinha encontrou ela abraçada a mãe. Ele bufou.

- É amor demais. - Ele debochou ao se sentar na mesa.

- Pois é. - Júlia sentou ao lado do pai. - Nem parece que mais cedo disse que quando fizesse dezoito anos ia embora de casa. - Ela começou a rir. Micael franziu a testa e encarou a caçula.

- Ah, vai é? - Continuou encarando com a sobrancelha erguida. - Essa eu quero ver.

- Deixa de ser fofoqueira, Júlia! - Cléo gritou para a irmã mais velha.

- Eu não sou fofoqueira. - Se defendeu. - Eu só falei por falar.

- Falou porque é fofoqueira. - Rebateu.

- Ei, será que dá para as duas pararem de brigar para que possamos ter um jantar em paz? - Sophia se manifestou e puxou a filha para a mesa.

- Pelo menos eu não aceitei presente do Thiago. - Cléo falou baixinho, ainda irritada com a irmã.

- O que você falou, Cléo? - Micael perguntou interessado e Júlia arregalou os olhos.

- Cala sua boca, depois eu que sou a fofoqueira. - Júlia ficou de pé.

- Eu já mandei pararem de brigar. - Foi a vez de Sophia ficar de pé. Ela apontou para a cadeira de Júlia. - Senta aí.

- Eu ainda quero entender o que a Cléo falou. - Micael disse enquanto cortava seu bife. - Para vocês terem ficado tão irritadas assim deve ser no mínimo interessante. - Ele alternou olhares entre Sophia e Júlia, e por fim encarou Cléo. - Desembucha.

- Aquele cara do natal veio aqui hoje de tarde e deu um presente pra Júlia. - A mesa que antes era uma bagunça agora estava em silêncio.

- Como que você sabe disso, criatura? - Júlia estava com bastante raiva. - Era para estar trancada no seu quarto.

- Eu estava com sede ué, ia beber água e vi ele aqui, sentado na poltrona. Depois vi ele te dar um presente e sair. - Micael não falava nada, ele continuava a comer sua comida em silêncio.

- Pai, eu juro que eu não chamei ele aqui, a faxineira abriu a porta. Eu pedi mil vezes pra ele sair, mas ele não quis. - Se apressou a explicar, mas Micael ergueu uma mão silenciando a jovem mulher.

- Eu não quero saber. - Voltou a se concentrar no prato. O silencio na mesa era insuportável. O moreno terminou de comer em tempo recorde, levantou e subiu as escadas.

- Você é doente? - Júlia perguntou à irmã. - Pelo amor de Deus garota, você já tem onze anos, sabe muito bem o que é errado e o que é o certo.

- Eu não fiz nada de errado, você começou a fazer fofoca primeiro.

- Eu falei uma coisa inofensiva e na brincadeira. - Balançou a cabeça. - Ninguém ia ficar chateado com aquilo. Você foi abrir essa boca nojenta pra falar merda pro meu pai. Até parece que não sabe que ele não suporta o Thiago.

- Ele não é seu pai. - Cléo debochou.

- Cala a boca, Cleonice. - Sophia bateu a mesa e assustou a filha.

- Meu nome não é Cleonice. - A menina rolou os olhos.

- Mas deveria ser, porque eu preciso de muito mais do que só Cléo pra te chamar quando estou com raiva. - Ela parou com o deboche. - Eu acho melhor você terminar de comer e ir para o seu quarto de uma vez, porque eu não quero nem ver a sua cara mais hoje. - Ficou de pé. - Júlia, você tira a mesa e lava a louça. Eu vou tentar conversar com o Micael. - Júlia assentiu e observou a mãe subir as escadas.

- A mamãe nunca falou assim comigo. - Ela tinha os olhos cheios de lagrimas.

- Deve ser porque dessa vez você passou de todos os limites, você não é mais uma criancinha fofinha, Cléo. Você tá ficando é uma pessoa insuportável. - Foi a última frase de Júlia e ela observou a irmã largar o prato pela metade e subir as escadas correndo e chorando. Ela terminou seu jantar com calma antes de começar a tirar a mesa.

Sophia entrou no quarto hesitante, mas não deu de cara com Micael. Ouviu o barulho do chuveiro e caminhou a passos curtos até lá. A porta estava aberta, ela escorou na parede e ficou olhando o marido tomar banho. Ele ainda não tinha notado sua presença.

Ao final Micael enrolou a toalha na cintura e chacoalhou a cabeça espirrando água por todo box. Tomou um susto ao ver Sophia parada na porta do banheiro, em seguida, deu um sorriso de lado maldoso.

- Isso é assedio. - Ele disse forçando um tom de brincadeira.

- Então vai ter que mandar me prender. - Ela sorriu e foi até ele. - Não pretendo parar de fazer isso. - Deu um beijo calmo em seus lábios. No final, o homem soltou um suspiro pesado. - Você quer conversar sobre o que a Cléo disse?

- Você sabia né? - Sophia estava surpresa com o tom de sua voz, era tão calmo que nem parecia ele. - Não ficou nem um pouco surpresa.

- Júlia tinha me contado mais cedo, na cozinha. - Ela deu de ombros. - Nós achamos melhor não falar nada pra não deixar você ainda mais irritado do que já está por causa de tudo o que vem acontecendo na empresa.

- Você jura que acha que a melhor solução é mentir? - Ergueu uma sobrancelha. - Até parece que aquele cara não ia jogar na minha cara na primeira oportunidade que tivesse, e eu ia pagar de trouxa por não saber do que acontece na minha própria casa. - Suspirou. - É você colocando esse cara na empresa, a Júlia colocando ele dentro de casa. Assim fica difícil demais.

- Amor, a faxineira abriu a porta e o Thiago entrou, a Júlia disse que pediu a ele para ir embora e ele se recusou. Foi ai que sentou no sofá e disse que só ia embora se ela aceitasse o presente. - Sophia explicou. - Ela não queria o presente e muito menos que ele viesse aqui. 

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora